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Capítulo 3

Author: Bagel
Vinte minutos depois de começar a seguir o comboio de Adrian, vi-os parar em um parque humano na borda do território da alcateia.

Era uma zona neutra onde lobisomens frequentemente cruzavam para o território humano. Os guardas reconheceram minha placa e fizeram um aceno respeitoso.

Estava vazio àquela hora da noite. Estacionei no estacionamento do outro lado da rua, observando do meu carro.

Adrian saiu do carro, mas não estava sozinho.

A porta do passageiro se abriu e Zoe, vestida em um vestido vermelho justo e saltos agulha, pulou nos braços de Adrian como uma loba no cio.

Eu conseguia sentir o cheiro do almíscar branco a quinze metros de distância.

— Querido, aquele show de luzes mais cedo me deixou com tanta inveja.

Adrian deu tapinhas nas costas dela, seu tom mimado revirando meu estômago.

— A chuva de meteoros para sua cerimônia de maioridade há alguns dias não foi suficiente? Sua coisinha gananciosa.

— Baby, você terá tudo o que quiser, mas agora não é o momento.

— Eu prometi a você, desde que se comporte e não deixe minha Luna suspeitar de nada, todo o poder e status que ela tem será seu um dia.

Ouvindo aquilo, meu coração pareceu ter sido atravessado por uma lâmina de prata banhada em acônito.

Lembrei daquela espetacular chuva de meteoros nos arredores da cidade há alguns dias.

Naquela noite, Adrian havia dito que precisava lidar com algum assunto urgente na fronteira e não voltou para casa.

Eu tinha ficado doente de preocupação com ele, me revirando a noite toda por causa da inquietação em nosso vínculo de companheiros.

Acontece que o Alfa com quem eu estava tão preocupada era justamente o que estava dormindo com minha irmã.

Ele havia usado a magia ancestral da alcateia para criar aquela ilusão só para agradar Zoe.

E eu, sua Luna, era a maior tola de todas, completamente mantida no escuro.

Zoe ronronou, traçando círculos no peito musculoso dele com a ponta do dedo.

— Uma garota não pode ter um pouquinho de ciúmes, meu Alfa?

— Tudo bem, você sabe que é minha favorita. Então, tenho um presente especial de maioridade para você esta noite.

Zoe sussurrou no ouvido dele, depois puxou sua gravata.

Os olhos de lobo de Adrian instantaneamente queimaram, as profundezas âmbar brilhando com desejo não disfarçado.

— E então, o que está esperando? Me conta o que é.

— Você vai descobrir quando subirmos. Vai ter que "inspecionar o pacote" você mesmo.

Ali mesmo em público, Adrian a ergueu nos braços e caminhou em direção à sua cobertura particular próxima.

Zoe soltou um grito sensual, mas o resto do som foi engolido pelo beijo profundo de Adrian.

As portas do elevador se fecharam, levando-os direto para a suíte da cobertura.

Fiquei sentada no meu carro, observando-os desaparecer.

Cinco anos. Nosso vínculo de companheiros era realmente inútil aos olhos dele.

Mesmo já sabendo de tudo, ver com meus próprios olhos ainda era como uma lâmina de prata rasgando meu coração.

Não conseguia dizer se era o vínculo de companheiros se manifestando, ou simplesmente o fato de que eu não conseguia aceitar o que estava vendo.

As lágrimas que eu vinha segurando finalmente se libertaram, escorrendo pelo meu rosto.

Lembrei de como, em nossa primeira marcação, Adrian havia jurado pela alma de lobo dele à Deusa da Lua que passaria todo o nosso aniversário comigo a cada ano.

Mas agora, um único elo mental de Zoe era suficiente para ele abandonar aquele juramento sagrado.

Eu tinha perdido. Completa e absolutamente.

Respirei fundo, empurrando para baixo as emoções turbulentas.

Só mais dois dias.

Em dois dias, eu escaparia de tudo isso para sempre.

Eram duas da manhã quando voltei para a casa da alcateia.

Fui direto para o quarto de hóspedes e tranquei a porta.

Às três e meia, ouvi os passos pesados de Adrian se aproximando.

— Camila? Camila!

Ele estava rugindo meu nome no quarto principal, sua voz ficando cada vez mais frenética.

— Droga! Onde ela está?

Então veio seu uivo enfurecido de Alfa.

— Inúteis! Vocês nem conseguem sentir a presença da Luna de vocês!

— Alfa, o carro da Luna não está na garagem. Ela pode ter saído — respondeu seu Beta, tremendo.

— Encontrem-na! Revirem este lugar se for preciso, mas encontrem-na!

Os passos se aproximaram enquanto ele começava a vasculhar cômodo por cômodo.

Quando ele escancarou a porta do quarto de hóspedes, fingi ter acabado de ser acordada pelo barulho.

No momento em que me viu, a fúria em seu rosto desapareceu, substituída pelo alívio aterrorizado de alguém que escapou por pouco de um desastre.

— Deus, camila, você me matou de susto.

— Por que você bloqueou meu elo mental quando voltou? Você tem ideia de que eu estava prestes a destruir a alcateia inteira quando não conseguia sentir onde você estava?

Ele correu até mim e me puxou para um abraço esmagador, seu corpo enorme tremendo levemente.

— Eu só não conseguia dormir, então troquei de quarto — disse, acariciando suavemente suas costas. — O que houve?

— Nada. Eu só entro em pânico quando não consigo te encontrar.

Ele enterrou o rosto no meu cabelo, sua voz carregada de medo.

Se você realmente se importasse, não teria traído nosso vínculo de companheiros.

E certamente não teria tocado na minha irmã.

— Eu não estava me sentindo bem, então voltei mais cedo para descansar. Esqueci de te avisar.

Depois de ouvir as mentiras dele por tanto tempo, agora eu conseguia contá-las com a mesma naturalidade.

Ainda parecendo abalado, Adrian deitou na cama e me prendeu em seus braços, me segurando firme como se eu fosse um tesouro precioso.

— Não faça isso de novo. Eu enlouqueço se não consigo te sentir.

— Você sabe que eu faria qualquer coisa por você.

Fechei os olhos, um sorriso frio nos lábios.

Na manhã seguinte, preparei uma requintada caixa de presente de pedra da lua.

Dentro, coloquei o pingente de pedra da lua que simbolizava meu status como Luna, junto com uma Rejeição formal que eu havia redigido e assinado durante a noite.

— O que é isso?

Adrian pegou a caixa, os olhos cheios de curiosidade.

— Seu presente de aniversário.

Beijei sua bochecha.

— Mas você tem que esperar dois dias para abrir. Me permita um pouco de mistério.

Adrian assentiu obedientemente.

— Tudo bem. O que minha Luna disser.

— Você vai adorar meu presente.

Em dois dias, eu teria desaparecido do mundo dele completamente.

Até lá, esse "presente" revelaria toda a verdade.

Assim que terminei de falar, o mordomo entrou no cômodo respeitosamente.

— Alfa, Luna, a Senhorita Zoe está aqui para vê-los.

A porta se abriu revelando o rosto de Zoe, manchado de lágrimas e digno de pena.
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