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Capítulo 2 – Senhor Pooh e senhorita Linda

Mais cedo naquele dia, no Restaurante Herbal Twist, usando um chapéu na cabeça e óculos escuros para cobrir os olhos, Kaleb Wright sorriu ao ver a mulher que, para ele, tinha os mais belos olhos cor de café. Seu cabelo castanho escuro liso e comprido caía em cascata pelas costas, e seu sorriso facilmente iluminava o dia dele.

― Olá, senhor Pooh, vejo você vestindo meu personagem favorito de novo. O que você gostaria de tomar? ― Disse a senhorita Linda.

― Vou tomar o de sempre, chá de hibisco, por favor. Obrigado. ― Respondeu Kaleb, que, por trás de seus óculos escuros, piscou para ela. Pena que ela não podia ver.

Tudo o que o magnata sabia sobre ela é que ela era linda.

Semanas atrás, o homem descobriu o restaurante e bar, uma joia escondida no coração de Braeton, que servia os melhores tipos de chás florais. O negócio era tão bom que ele esperava levar para os Hotéis Diamond, a rede hoteleira pertencente à família.

Quando Kaleb avistou o estabelecimento pela primeira vez, vestia apenas uma camisa polo. Entretanto, quando foi descer do carro, percebeu que, além de chover muito, o vento estava muito gelado. Por sorte, encontrou no banco do Maybach o moletom favorito de seu guarda-costas, do Ursinho Pooh, e fez bom uso dele. Quem diria que se tornaria seu agasalho favorito também?

Foi assim que a senhorita Linda o conheceu como senhor Pooh. Eles nunca trocaram nomes. Ambos apenas cuidando de seus negócios, conversando amigavelmente como cliente e atendente. Além disso, Kaleb não estava interessado em encontrar um relacionamento, ainda não. Não quando ele tinha um filho para considerar.

Ao longo das semanas, no entanto, Kaleb ficou surpreso com a gentileza da senhorita Linda. De fato, no segundo dia de visita, esqueceu a carteira no carro e, enquanto prometia voltar com o pagamento, a mulher disse a ele:

― Não se preocupe, senhor Pooh, é por conta da casa. ―

A cortesia do atendimento não era só pra ele, no entanto. Kaleb notou como a senhorita Linda era muito gentil com as crianças. Em certa ocasião, uma mãe levou seu bebê de um ano ao restaurante e ele vomitou no uniforme da atendente, mas isso não a afetou negativamente. Em vez disso, ela se ofereceu para ajudar a limpar o bebê primeiro.

A senhorita Linda não era apenas uma beleza por fora, mas por dentro também.

Eram quatro da tarde e Kaleb estava no intervalo da tarde, a uma hora de distância da empresa, só para tomar um gole do queridinho chá de hibisco. Como de costume, ele estava admirando o trabalho da senhorita Linda quando, de repente, um homem chamou seu nome:

― Senhor Wright! Senhor Wright! ―

Ele imediatamente franziu a testa, vendo que era Boris, o guarda-costas de seu filho, que carregava a criança com ele. Kaleb se levantou rapidamente, deixando o chá inacabado, além de cinco dólares na mesa. Então, correu para onde estavam.

Kaleb não queria que ninguém o reconhecesse, especialmente porque vestia o moletom do Ursinho Pooh de Boris. Pelo amor de Deus, aquela era a mesma razão pela qual usava um boné na cabeça e óculos escuros.

― O que vocês estão fazendo aqui? Você sabe que eu tenho que voltar para a empresa. Kyle vai me ligar sem parar, depois disso! ― Disse Kaleb, referindo-se ao irmão mais velho.

― Seu filho não quer ir ao médico e já estamos atrasados ― disse Boris. ― Você sabe que ele só ouve você. ―

Os olhos de Boris vagaram por trás de Kaleb e ele disse:

― Você sabe, senhor Wright. Se você gosta tanto da senhorita Linda, deveria apenas perguntar o nome dela... Eu realmente gosto muito desse moletom... ―

― Seu conselho é injustificado... e vou comprar outro moletom do ursinho Pooh para você. Na verdade, vou comprar moletons de todos os personagens do desenho. ― Kaleb contra-atacou.

― Ah, sério, senhor Wright? Minha esposa também gosta muito do Leitão e do Bisonho! ― Disse Boris, um homem alto e musculoso, com os olhos mostrando uma pitada de entusiasmo com a ideia.

Era realmente desconcertante para Kaleb como seu guarda-costas gostava de assistir desenhos animados infantis. Boris afirmou que era o favorito de sua esposa, mas Kaleb duvidava disso. Ainda assim, o brutamontes era bom no que fazia. Ele podia ser um doce por dentro, mas era todo músculos e mestre em diversas artes marciais. Ele era o melhor guarda-costas para ele e para seu filho, Liam.

Sem saber como prosseguir a conversa, o magnata suspirou, balançando a cabeça, e ordenou:

― Vá buscar o carro. ―

― Sim, senhor. Imediatamente, senhor. ― Disse Boris, correndo para fora do restaurante.

Vendo Boris fugir, Kaleb olhou para Liam. Ele estava explorando o saguão do restaurante, estudando os bules e vários vasos em exibição. Então o chamou:

― Liam? ―

― Pai? Eu não quero ir ao médico. ― Disse seu filho, antes de ficar parado e cruzar os bracinhos contra o peito.

Kaleb suspirou, tirou os óculos escuros e disse:

― Liam, você sabe que é bom para você! Não é a mesma coisa de quando você estava no hospital. Eu prometo. ―

Apesar da garantia de seu pai, Liam apenas gemeu e se virou para a parede em objeção.

Ele sabia o motivo pelo qual Liam tinha medo de agulhas. Seis meses atrás, a criança adoeceu, com pneumonia, o que resultou na permanência do menino no hospital, por duas semanas inteiras. Desde então, Liam odiava agulhas.

Kaleb estava prestes a enumerar os benefícios de tomar a vacina quando, com o canto do olho, viu a senhorita Linda sair da cozinha. Por um momento, jurou que ela olhou para onde ele havia se acomodado anteriormente.

Um sorriso se formou em seu rosto, imaginando se a mulher estava ansiosa para encontrá-lo. Então, apenas com um sussurro, murmurou:

― Talvez seja hora de me apresentar. Ela pode realmente gostar de Liam também. ―

― Ah, senhor Wright? Pronto para ir? ― Ele desviou o olhar para a porta e encontrou Boris.

― Sim, vamos. Liam está com você? ― Kaleb perguntou, olhando calmamente para Boris.

― Ah. ― Boris franziu a testa e respondeu: ― Eu... acabei de chegar, senhor Wright. Ele não estava com você? ―

As palavras que saíram da boca de Boris ecoaram na cabeça de Kaleb e o fizeram girar freneticamente em todas as direções. Seus olhos rapidamente vasculharam o interior do restaurante e quando não encontrou Liam, aproximou-se da recepcionista e perguntou:

― Desculpe-me, você viu um menino desta altura? Ele estava comigo há pouco. ―

― Hum. ― A recepcionista estava incerta. Sua mente estava pregando peças nela, considerando quantos meninos ela tinha visto naquela tarde. Então respondeu: ― Eu acho... que ele saiu. Sim está certo. Ele saiu. ―

Sem pensar muito, Boris e Kaleb correram para fora do restaurante, em busca de Liam. Entrando nos prédios próximos, dividiram a perseguição. Kaleb também ligou para outro segurança da Wright Diamond Corporation para ajudar a procurar seu filho.

Após um longo esforço, Kaleb voltou para casa, esperando, apenas esperando, que Liam encontrasse o caminho para a cobertura.

****

― Boris! Você o encontrou? Como pôde perdê-lo de vista? Você sabe como ele é, às vezes! ― De dentro da cobertura do Hotel Third Diamond, Kaleb colocava, em desespero irracional, a culpa no guarda-costas de seu filho. Seus dedos repetidamente cravaram em seu cabelo caramelo e seu maxilar bem definido se apertou.

― Minha culpa? ― Boris ficou intrigado, apontando o dedo para si mesmo. ― Não foi você? Foi você quem se distraiu olhando para a senhorita Linda, não foi? ―

― Arghh! ― Kaleb gemeu, em resposta ao sarcasmo que saiu da língua de Boris. Por dentro, ele sabia que estava errado. Mas sua personalidade orgulhosa simplesmente não conseguia admitir isso.

― Vamos chamar a polícia. Já se passaram umas boas duas horas! Essa situação já está me assustando. ― Kaleb sugeriu, sua voz se intensificando.

― Senhor! Há uma mulher lá embaixo com Liam. Ela o encontrou e quer trazê-lo pessoalmente. ― Disse outro de seus seguranças, cujos ouvidos estavam claramente no telefone por ter sido alertado pela equipe do hotel.

Um grande silêncio pairou sobre eles, com todos na cobertura absorvendo as boas novas.

O peito de Kaleb estava congestionado de preocupação, mas ao ouvir o relatório, reuniu ar em seus pulmões profusamente, os olhos fechados antes de soltar um suspiro de alívio:

― Graças a Deus! Deixe que subam. ―

Alguns segundos depois, o corpo alto de Kaleb estava andando de um lado para o outro, bem na frente da porta e ele disparou na direção do segurança e perguntou:

― Tem certeza de que eles estão subindo? ―

― Sim, senhor Wright. O chefe de segurança do hotel está trazendo os dois. ― Boris respondeu.

Eventualmente, a campainha tocou e Kaleb deu uma volta completa, abrindo a porta com entusiasmo. Para sua surpresa, uma mulher familiar estava diante dele, segurando seu filho. Ela olhava para ele, mais especificamente para o moletom, já que ele não estava mais usando boné e óculos escuros.

― Senhor Pooh? ― Scarlett perguntou, e pelo olhar em seu rosto, ele poderia dizer que estava muito confusa.

― Senhorita Linda? ― Ele respondeu de volta involuntariamente.

O silêncio os engolfou por um bom segundo antes que a mulher esclarecesse:

― Você me chamou de senhorita Linda? ―

Kaleb não pôde deixar de sibilar por ter sido descoberto. Como ele poderia explicar isso para ela?

― Ah, sim, ouvi um cliente chamá-la de Linda e presumi que fosse esse o seu nome. Você é... senhorita Linda? ―

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