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Capítulo 4

Author: Shirley
Lily viu o sangue no canto da minha boca e, por um segundo, sua expressão suavizou. Naquele instante, eu vi um lampejo da mãe amorosa que ela costumava ser.

No entanto, no segundo seguinte, Sofia começou a chorar mais alto. Lily desviou o olhar imediatamente e correu para confortar sua "filha querida".

— Como você está se sentindo, meu amor? Quer que eu chame um médico?

Limpei o sangue com as costas da mão e me levantei devagar do chão.

Uma mala surrada estava no canto, com as poucas roupas que eu possuía. Ela já estava pronta fazia um tempo. Nos últimos dias, eu vinha me preparando para ir embora.

Eles me encararam em choque, antes de dispararem comentários cortantes.

O rosto de Anthony estava duro como pedra.

— O que é isso? Acha que está acima da família agora? Vai simplesmente fugir?

— Tudo o que fazemos é para te disciplinar para o seu próprio bem, Claire. Por que você não entende que só queremos o melhor para você?

Lily me pressionou.

— Você acha que fugir resolve alguma coisa? Você nunca muda, Claire. Sempre foge no segundo em que as coisas ficam difíceis. Suponho que Anthony está certo. Acabamos com uma filha que não serve para nada.

Depois de acomodar Sofia com cuidado na cama, Rocco se virou para mim. O olhar em seus olhos era gelado, cheio de desprezo.

— Para onde você pensa que está indo?

— Estou saindo do território da família Falcone. — Respondi.

Ele elevou a voz de imediato.

— Você tem ideia do que está dizendo, Claire? No segundo em que você sair de nosso território, não será mais uma de nós. Também se tornará alvo de todos os nossos inimigos.

Eu já estava tão acostumada a ser decepcionada que isso nem me afetava mais. Depois de ouvir a mesma ameaça tantas vezes, parei de temer perder essa "família". Eles nunca me deram a sensação de ter um lar.

Arrastei minha mala até a porta.

— Ótimo. Eu não pertenço a este lugar mesmo.

Afinal, eu já tinha um pé na cova.

Puxando a mala, caminhei até a porta sem olhar para trás.

Ver aquilo mexeu com Rocco como um soco no estômago. Uma sensação angustiante subiu nele. Cada palavra que ele havia dito parecia rasgar o próprio peito, mas seu orgulho e sua raiva o impediam de enxergar com clareza.

Ele dizia para si mesmo que eu era a causa de sua dor. Culpava minha fraqueza e incompetência por seu sofrimento.

Sem entender o que lhe acontecia, pegou um copo e o arremessou no chão, quebrando-o com força.

O estilhaço ecoou atrás de mim. Cacos se espalharam pelo chão, brilhando sob a luz.

Rocco estava à janela do segundo andar, os olhos tomados pela raiva.

— Volte aqui, Claire! — Ele gritou, com a voz trêmula.

Eu parei e lancei um último olhar ao lugar que um dia chamei de lar. O luar banhava as paredes da villa, tornando o lugar frio e vazio.

— Se eu olhar para trás, vou perder tudo o que amo. — Declarei.

O ar da noite me atingiu no momento em que passei pelo portão. Tinha cheiro de liberdade, mas também carregava algo de definitivo.

Rocco observava da janela enquanto eu me afastava. Minhas palavras de despedida o fizeram estremecer.

Ele sabia que eu estava muito debilitada. O medo de algo acontecer comigo naquela noite gelada começou a corroê-lo.

Ele queria dizer que não pretendia me expulsar da família. Que nunca quis me perder.

Tudo dentro dele queria correr atrás de mim, mas Sofia se virou e deu um sorriso doce.

— Não está vendo, Rocco? Depois de bater no fundo do poço, ela vai rastejar de volta para você. Vai descobrir da pior forma que não é nada sem a proteção da família Falcone.

As palavras dela deixaram seu peito apertado com uma irritação que ele não conseguia nomear.

Ele baixou o olhar sem dizer nada. Ninguém percebeu seus punhos cerrados tremendo ou o sangue escorrendo onde suas unhas cortaram suas palmas.
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