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Capítulo 5

Author: Shirley
Arrastei minha mala até um motel caindo aos pedaços na periferia da cidade. O lugar inteiro cheirava a mofo e parecia congelado no tempo. O papel de parede descascava, e o carpete tinha manchas antigas.

Mas para alguém exilada, como eu, era o único lugar que podia pagar.

No meio da noite, uma dor lancinante me arrancou de um pesadelo. O câncer tinha se espalhado, e era como se agulhas estivessem perfurando meus ossos. Cada respiração era puro tormento.

Encolhi-me debaixo do cobertor fino enquanto memórias da infância voltavam à tona. Eu tinha apenas 14 anos quando as aulas particulares da família começaram.

Sofia sempre "gentilmente" escolhia as roupas perfeitas para mim. Mas sempre que eu vestia o que ela me entregava, o tecido fazia minha pele arder e coçar de forma insuportável.

Chegou ao ponto de eu desmaiar de dor em aula, coberta de urticária. Todos achavam que eu era dramática e não conseguia lidar com o estresse. Só eu sabia que não era alergia.

Meu instrutor só balançou a cabeça:

— Claire é delicada demais.

Mas Sofia correu até mim, com expressão preocupada.

— Você está bem, Claire? Posso pegar seu remédio.

Mais tarde, alguém me empurrou de uma plataforma durante um treino de combate urbano. Quebrei a perna e fiquei a noite inteira jogada em um galpão abandonado.

Quando me encontraram, eu estava com febre alta e delirando.

Os olhos de Sofia se encheram de lágrimas.

— A culpa é toda minha... Eu deveria ter protegido minha irmã e te encontrado mais cedo.

Ela era a heroína. Eu, o peso morto.

O pior eram os "suplementos nutricionais". Sempre que eu me machucava, Sofia fazia questão de cuidar de mim.

Ela mesma preparava as doses e me alimentava com cuidado. Eu achava que éramos próximas como irmãs, mas minha saúde só piorava.

Hoje sei que os suplementos tinham pequenas quantidades de veneno de ação lenta, que destruíram lentamente minha medula óssea.

Todos me consideravam naturalmente fraca, e eu acreditei nisso. Nunca imaginei que estava sendo envenenada desde os 14 anos.

Enquanto isso, na sede da família Falcone, Rocco estava à mesa, mas não conseguia se concentrar. Uma sensação de pavor o dominava, deixando-o inquieto.

Levantou-se de repente e varreu todos os papéis da mesa.

— Maldição!

Sentia um impulso crescente de me procurar, de garantir que eu estivesse bem. Mas seu orgulho não deixava. Ele precisava de um motivo.

No motel, meu celular vibrou no criado-mudo enquanto eu mal conseguia manter os olhos abertos de dor. Era uma mensagem de Rocco — fria como aço:

"Volte e peça desculpas à Sofia, Claire. Você não pode fugir dos seus problemas."

Deixei a mensagem sem resposta. Estava fraca demais até para digitar.

Eu não sabia se ele ainda se importava. Mas isso já não fazia diferença. Eu só tinha mais um dia.

Na tarde seguinte, uma garçonete de um pequeno restaurante bateu à porta. Seu olhar era gentil e sincero.

— O dono pediu para eu trazer algo para você comer.

Ela segurava uma tigela de ensopado. Meus olhos se encheram na hora. Eu mal conseguia acreditar que ainda existia alguém no mundo que se importasse com alguém descartado como eu.

Quando fui pegar o ensopado, Sofia apareceu de repente. Vestindo couro preto justo, trazia um sorriso perfeito.

— Finalmente te encontrei, Claire.

Ela se aproximou e empurrou a garçonete. O ensopado quente voou, derramando-se sobre minhas pernas. Arfei de dor.

Ela fingiu se desculpar.

— Foi mal... Mas você não deveria beber algo sem saber de onde veio, Claire.

A garçonete lançou-lhe um olhar feroz.

— Por que está fazendo isso?

Sofia riu, cruel.

— Cuide da sua vida, pirralha.

Assustada, a garçonete se afastou.

Sofia se virou para mim, com um tom casual.

— Ah, e não empregamos mais o advogado que cuidou da sua papelada. Ele teve a audácia de ir contra a família e preparar seus documentos de divórcio. Rocco o expulsou pessoalmente da cidade.

— Está vendo como você é inútil? Só arrasta os outros para baixo. Todos na família Falcone te veem como uma traidora ingrata.

Ao ouvir aquilo, senti meu mundo desmoronar. Até alguém que tentou me ajudar sofreu por minha causa. Eu era só azar para todos ao meu redor.

Reuni tudo que me restava de força para perguntar:

— Por que você está fazendo isso?

Sofia explodiu em gargalhadas, cada som cortante como uma lâmina.

— Porque eu te odeio. Você vai morrer mesmo. Por que não sai logo do território da família Falcone? Entenda! Rocco não confia em você. Sempre te viu como um peso morto.

Então essa era sua verdadeira face — a Sofia perfeita que todos idolatravam.

— Eu sei que nunca fiz nada para te machucar, Sofia. Por que me odeia tanto? — Perguntei.

Ela me encarou de cima.

— O que posso dizer? Uma filha adotiva nunca vai chegar ao nível de uma filha de verdade desta família. Me dá nojo. Por que um lixo como você teve tudo?

— Os mais complicados é quem tomam tudo. O título de esposa do Don, o amor do papai, a atenção do Rocco pertencem a mim. E, aliás... eu sei exatamente por que você é tão frágil.

Os olhos dela brilharam com maldade.

— Desde que você fez 14 anos, eu venho colocando veneno de ação lenta nos seus suplementos. Fui eu que pus os insetos nas suas roupas, que te empurrei da plataforma, que envenenei seus suplementos. Fui eu.

Tremendo de raiva, ergui a mão para dar um tapa nela, mas ela me empurrou para o chão com facilidade.

Que ilusão a minha. Com um corpo à beira da morte, eu jamais poderia vencê-la.

Ela se agachou lentamente.

— O que foi? Ficou revoltada? Dói engolir isso, né? Pena que você não pode fazer nada. Não tem nem força pra me bater de volta.

Ela me deu alguns chutes, satisfeita ao me ver me contorcendo de dor.

— Te ver ficar mais fraca dia após dia por anos me deu tanto prazer. Logo, quando você morrer, eu tomarei meu lugar ao lado do Rocco.

A adonia da dor era tão intensa que eu quase desmaiei.

Sofia deixou o quarto saindo radiante com sua própria crueldade. Mas ela não percebeu que meu celular no criado-mudo estava gravando tudo.

A luz vermelha piscava sem parar. Cada palavra dela estava registrada.

Lutei para me levantar, o corpo coberto de suor frio. Olhei para a gravação no celular e não consegui evitar a risada.

Finalmente, todos veriam quem Sofia realmente era. Com apenas um dia de vida, era hora de fazer a verdade vir à tona.
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