Capítulo 1 A Sra. Pires fica irada

- Vamos nos divorciar...

Após uma sessão intensa de exercícios, Melissa Bezerra disse essas palavras ainda com um traço de encanto extremo em sua voz. Ela estava encolhida, impotente, em uma cama bagunçada e luxuriante.

Seus cabelos molhados de suor colados em seu lindo rosto, olhos vazios, todo o seu ser exalava um ar de tristeza...

Ouvindo o som das roupas do homem se movendo, lembrando de Ângelo Pires chegando em casa embriagado e a arrastando para fazer aquilo, ela sentiu uma onda de náusea.

Ela amou esse homem por dez anos e agora, não havia mais nenhum resquício desse sentimento.

Ângelo parou de se vestir por um momento, seus olhos frios e afiados se estreitaram ao olhar para as costas dela, cheios de malícia.

- Divórcio?

- Sim! - A voz de Melissa era firme.

Depois de falar, ela se levantou da cama, tateando em direção ao banheiro conforme a memória.

Ângelo a observou friamente por um momento e, finalmente, se aproximou relutante.

- Deixe-me ajudar você. - Ele estendeu a mão para apoiá-la.

Com um estalo, Melissa empurrou sua mão com força.

Ela usou toda a sua força e ao sair da cama, tropeçou para frente, caindo de joelhos no chão.

- Saia, eu não quero sua ajuda, sujo.

Ela se sentia nojenta só de estar sob o mesmo teto que ele.

Ângelo ficou com uma expressão sombria, sua mão estendida parou no ar, e a atmosfera fria ao seu redor ficou ainda mais intensa.

Ela realmente achava ele repugnante?

Melissa se apoiou no chão e se levantou desajeitadamente, continuando a tatear para o banheiro. Lá, ela abriu a água quente e se lavou repetidamente, sua pele branca como porcelana ficou toda avermelhada.

Ela desejava poder arrancar a pele que ele havia tocado!

Saindo do banheiro, ela foi na direção do guarda-roupa, ainda não acostumada com a escuridão de seu mundo recém-coberto pela cegueira, avançando lentamente conforme sua memória fraca.

Melissa, guiada pelo tato, encontrou uma roupa para vestir e procurou a certidão de casamento.

- Vamos, vamos nos divorciar agora.

Ângelo apertou os dedos com força. Não conseguindo mais se conter, ele subitamente se levantou e caminhou pesadamente em direção à mulher, agarrando brutalmente a gola de sua roupa.

- Melissa! Até quando você vai fazer isso? Se estivermos divorciados, como você planeja viver?

Ela não tinha nada.

"Uma cega, sem parentes em uma grande cidade, é impossível sobreviver! Quem lhe deu coragem para tomar essa decisão?"

Diante de sua fúria, Melissa permaneceu anormalmente calma. Ela estendeu a mão, afastando a de Ângelo, seus olhos vazios como um lago morto, balançando a cabeça com firmeza e dizendo:

- Não, desde que eu não fique com você, qualquer coisa está bom. - De repente, ela deu uma leve risada, murmurando. - Dez anos...

- O quê?

- Dez anos desde que nos conhecemos, sete anos de namoro e três de casamento. No final, você usou minha córnea para salvar outra mulher. Esse preço é suficiente?

Esse era o casamento dela, distorcido a ponto de ser chocante.

Ela estava farta da crueldade desse homem. A morte não era pior que esse marido, que a deixava mais desesperada. Ela só queria sair rapidamente dessa prisão.

A aura do homem de repente se tornou fria como gelo.

- Você chama isso de preço? Se não queria, por que assinou o consentimento para a cirurgia?

- Você me deu alguma escolha?

Ela riu desdenhosamente, nem se dignando a perguntar se ele alguma vez a considerou como sua esposa.

- Isso acaba aqui, vou fingir que não ouvi o que você disse agora.

O riso de Melissa se intensificou!

Esse tom de voz de quem estava fazendo um favor era ridículo...

- Não, eu definitivamente quero o divórcio hoje!

- Melissa! - Ângelo quase rangeu os dentes!

Por fim, uma lufada de vento passou ao seu lado, enquanto o homem passava por ela.

- Você não tem o direito de falar sobre divórcio.

O homem fechou a porta com força e se foi.

Os passos apressados do lado de fora eram como se estivessem fugindo...

Melissa enfraqueceu, caindo no chão, toda a sua força deixava seu corpo. Todas as suas façanhas desmoronavam quando restava apenas ela mesma.