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Capítulo 6

Author: Lua Santiago
Raíssa permaneceu de pé ao lado, pressionando levemente os lábios antes de chamar por Bryan:

— Pai.

Bryan lançou a ela um olhar e deixou o olhar percorrer rapidamente o ambiente:

— E seu irmão? Ainda não voltou?

Raíssa estava prestes a dizer que não sabia, quando ouviu Malena responder:

— Acabei de ligar para ele. Disse que estava jogando basquete com os colegas, acabou agora, está a caminho de casa.

Bryan soltou um riso irônico:

— O dia todo só pensa em jogar basquete, nem estuda direito, não vai dar em nada.

— O Pietro está só no primeiro ano do ensino médio, como você pode saber que ele não vai dar em nada? Que tipo de pai fala do próprio filho assim?

Os pratos estavam servidos. Os três se sentaram à mesa de jantar, mas ninguém começou a comer. Enquanto Pietro não voltasse, não permitiam que ninguém tocasse nos talheres.

Raíssa já estava acostumada, ficou encarando os grãos de arroz à sua frente, mergulhada em pensamentos.

— Por que o Pietro ainda não voltou? Será que aconteceu alguma coisa? — Malena falou, preocupada.

— Já está crescido, o que poderia acontecer? — Disse Bryan, mas mesmo assim, não se conteve e acrescentou. — Ligue para ele, só para garantir.

De repente, Raíssa se lembrou de quando estava no terceiro ano do ensino médio. Por falta de dinheiro para as despesas, ela, que morava no alojamento, só conseguia voltar para casa nos fins de semana para pedir aos pais. Naquele dia, ela foi surpreendida por uma forte chuva no caminho de casa e precisou ficar um bom tempo debaixo de uma marquise até a chuva amenizar. Quando finalmente abriu a porta de casa, completamente encharcada, encontrou seus pais e o irmão sentados à mesa jantando. Ao vê-la ensopada, ninguém se preocupou, apenas comentaram, com indiferença: "Com uma chuva dessas, achamos que você só voltaria amanhã."

Naquele dia, ela chegou com uma hora de atraso e comeu apenas o que havia sobrado.

Com Pietro era diferente. Se atrasasse uns quinze minutos, já ligavam para saber onde estava, e a refeição só começava quando ele chegava.

Malena estava prestes a ligar para Pietro quando o som da porta se abrindo ecoou no corredor.

Ela se levantou imediatamente e caminhou em direção à porta:

— O Pietro chegou!

Entrou então o garoto de dezesseis anos, com feições entre a inocência da juventude e a seriedade da maturidade. Os cabelos desgrenhados caíam sobre a testa, o rosto demonstrava desdém, o zíper do uniforme escolar permanecia aberto e as laterais da blusa pendiam de forma displicente.

— Deve estar com fome, fiz orelha de porco para você, seu prato preferido. — Disse Malena, sorrindo para Pietro.

— Isso já faz tanto tempo, nem gosto mais disso. — Respondeu Pietro, impaciente.

— É mesmo? Então o que você gosta de comer agora? Da próxima vez faço para você.

— Tanto faz. — A voz de Pietro não era nada amigável. Quando entrou e viu Raíssa, ele parou por um instante e perguntou. — O que ela está fazendo aqui?

Nem sequer se referiu a Raíssa por qualquer tratamento.

— É fim de semana, sua irmã veio jantar em casa. — Malena o empurrou na direção da cozinha. — Vá lavar as mãos, está na hora de comer, senão a comida vai esfriar.

Pietro entrou na cozinha com um ar abatido.

Durante toda a refeição, Raíssa permaneceu em silêncio, enquanto Malena não parava de colocar comida no prato de Pietro, como se tivesse medo de que ele ficasse com fome.

Pietro, no entanto, não mostrava gratidão, pelo contrário, evitava a mãe e, impaciente, dizia:

— Eu tenho mãos, eu mesmo posso me servir.

Bryan, observando tudo, também comentou:

— Basta, será que dá para comer em paz?

Comparada a eles, Raíssa parecia ser um elemento estranho ali.

Até que, distraída, acabou levando à boca um pedaço de gordura. A sensação gordurosa se espalhou por sua boca, causando a ela um enjoo imediato.

Ela não conseguiu se controlar e vomitou, com o vômito caindo direto no chão.

Os três se viraram ao mesmo tempo para encará-la. Pietro, com expressão de desprezo, tapou o nariz.

Antes que pudesse dizer algo, uma nova onda de náusea subiu pelo estômago de Raíssa, que correu o mais rápido que pôde ao banheiro. Se agachou no chão e vomitou tudo o que havia comido naquela noite.

— O que foi? O que está acontecendo? — Malena corre atrás dela, batendo em suas costas. — Como é que começou a vomitar assim, de repente?

Raíssa estava prestes a chorar de tanto vomitar, os olhos ficaram avermelhados, e ela sentiu o calor da palma da mão de Malena repousando em suas costas.

De repente, pensou se, antes de Pietro nascer, sua mãe também teria lhe confortado assim, acariciando as costas dela.

Naquele momento, seus olhos se encheram de ardor, e toda a insegurança e medo acumulados nos últimos dias vieram à tona.

Ela quis contar à mãe que está grávida, quis perguntar o que devia fazer, se sua vida estava arruinada.

— Está melhor? — Malena olhou para ela e perguntou.

Raíssa se virou para assentir, hesitando:

— Mãe, eu...

Ela nem chegou a terminar a frase, Malena já se levantou, franziu a testa e saiu, dizendo:

— Se já está melhor, limpe essa sujeira. Estamos jantando e está tudo espalhado pelo chão. Por que não aguentou até chegar ao banheiro?

As palavras de Malena atingiram-na como um golpe direto.

O barulho do lado de fora do banheiro continuava:

— Pietro, por que você parou de comer? Já vou terminar de limpar isso aqui, coma mais um pouco.

A voz impaciente de Pietro soou:

— Não quero mais, já perdi o apetite faz tempo.

Bryan falou em tom grave:

— Limpe logo, senão ninguém mais vai jantar.

Ninguém se importou com o que acontecia com Raíssa no banheiro. Ninguém lhe ofereceu um lenço, ninguém se preocupou em trazer um copo de água para que enxaguasse a boca.

Agachada no banheiro, Raíssa de repente começou a chorar em silêncio.

Ela sentiu que não deveria ter criado expectativas em relação àquela família, achou que poderia receber algum consolo dos parentes.

Mas ela esqueceu que todos os seus sofrimentos vinham justamente daquela casa. Sempre que cometia um erro, eles apenas a culpavam, criticavam e reclamavam dela, nunca havia sequer uma pessoa que considerasse seus sentimentos.

Em meio às lágrimas, com a visão embaçada, ela pensou naquele homem sereno como a lua.

"Será que ele pode me dizer o que devo fazer?"

...

No silêncio da noite, Alexandre estava sentado no escritório. Havia um notebook à sua frente, a luz fria do computador se refletia em seu rosto. Seus traços eram serenos e frios, e os dedos longos digitavam rapidamente no teclado.

De repente, o celular ao lado vibrou. Alexandre friccionou levemente as têmporas antes de atender, o número era desconhecido.

— Alô. — Disse Alexandre, com a voz grave e aveludada.

Ninguém respondeu do outro lado.

Alexandre repetiu:

— Alô.

Ainda não houve resposta. Alexandre suspeitou que fosse uma chamada indesejada e já estava prestes a desligar.

Quando seu dedo estava para tocar o botão de encerrar, ouviu uma voz hesitante do outro lado:

— Professor Alexandre...

Na mesma hora, Alexandre reconheceu que era Raíssa. Levou de novo o telefone ao ouvido.

A voz da jovem carregava uma ponta de timidez:

— Aqui é a Raíssa.

— Eu sei.

— Desculpe incomodar tão tarde. — A voz dela soa nervosa, mas também determinada. — O senhor tem tempo amanhã? Será que podemos nos encontrar?

Alexandre não fez perguntas, apenas olhou fixamente para o abajur na mesa e respondeu:

— Claro.

...

O horário e o local foram definidos por Alexandre. Ao empurrar a porta do restaurante, ele viu Raíssa imediatamente. Ela usava o mesmo casaco cinza da primeira vez em que se encontraram na universidade. O rosto pequeno e delicado estava inclinado, e os dedos entrelaçados sobre a mesa denunciavam seu nervosismo.

Alexandre se aproximou dela.

Raíssa levantou a cabeça ao ouvir os passos, e o rosto de Alexandre apareceu diante de seus olhos. Ela se levantou apressada:

— Professor Alexandre.

Alexandre fez um gesto para que ela se sentasse, e logo em seguida também se acomodou.

Os dois se sentaram frente a frente, e a atmosfera se tornou um tanto silenciosa.

Alexandre foi o primeiro a falar:

— Quer comer alguma coisa?

Raíssa balançou as mãos rapidamente:

— Não, não precisa.

— O encontro aqui foi justamente para fazermos uma refeição. — Alexandre empurrou o cardápio para ela. — Escolha algo que você goste.

Seu tom era um pouco firme, e Raíssa não ousou contrariá-lo. Apontou aleatoriamente para um prato no cardápio:

— Este aqui.

Alexandre olhou de relance... Era peixe apimentado.

Ele não disse nada, chamou o garçom e, além do peixe apimentado, pediu mais três pratos.

Enquanto esperavam a comida, Raíssa bebia água, constrangida.

Alexandre também parecia não ter pressa, desde que se sentou, não perguntou nenhuma vez qual era o motivo do convite.

Os pratos chegaram, e ao ver o peixe apimentado coberto de pimentas, Raíssa sentiu o couro cabeludo formigar.

Ela não tolerava muito bem comidas apimentadas, mas como estava distraída no momento de pedir, acabou apontando sem saber o que era.

Agora, por ter sido ela quem pediu, sentiu que precisava comer, mesmo relutante. Comeu várias garfadas, o que fez o suor brotar em sua testa e deixou seus lábios avermelhados.

Uma mão se estendeu, e Alexandre encheu o copo dela com água:

— Água com limão ajuda a aliviar a ardência. Se não consegue comer, não force.

— Desculpe. — Raíssa está um pouco constrangida.

— Não há do que se desculpar. — Alexandre afastou o prato de peixe apimentado. — Pelo menos agora sei que você não tolera pimenta.

As palavras dele tocaram o coração de Raíssa, que ergueu o olhar para Alexandre.

O tom dele permanecia sempre calmo. Mesmo quando soube que ela era sua aluna, seu breve momento de surpresa logo foi substituído por sua habitual serenidade.

Provavelmente, ele era consideravelmente mais velho que ela, aquele era o resultado do tempo depositado em sua pessoa.

Raíssa sentiu que procurá-lo poderia realmente ser a escolha certa.

De repente, Raíssa criou coragem, respirou fundo e disse:

— Professor, eu te procurei hoje porque tenho algo para te contar.

Enfim chegaram ao assunto. Alexandre assentiu:

— Por favor, fale.

Raíssa abriu a bolsa, pegou o resultado dos exames que tinha feito novamente e o estendeu na direção dele.

As mãos dela tremiam incontrolavelmente.
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