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Capítulo 2

Author: Shirley
Eu cambaleei de volta para a vila que eu dividia com Rocco, mas não tinha intenção de morrer naquele lugar. Tudo o que eu queria era pegar minhas coisas. Então percebi que quase nada ali realmente me pertencia.

Voltei ao que antes era meu quarto e descobri que tinha sido transformado em um depósito.

Minha penteadeira estava empurrada para um canto, coberta por uma camada grossa de poeira. Meus livros e fotos queridos estavam todos jogados em caixas de papelão.

A única coisa que permanecia no lugar original era a cama, mas os lençóis já tinham sido trocados por um tecido cinza e áspero.

Havia também uma caixa de joias desgastada contendo o único presente de aniversário que Rocco já me deu — um colar barato de prata.

Sentada na beira da cama, limpei a poeira da mesa. Congelei quando meus dedos tocaram uma porta-retratos.

Era uma foto do meu aniversário de 18 anos. Eu usava um vestido champanhe, e meus olhos ainda tinham vida. Agora, meu rosto estava sem cor, e apenas vazio preenchia meu olhar.

Até mesmo o closet da Sofia era cinco vezes maior do que esse depósito. As únicas coisas aqui eram as que ela não queria.

O quarto que originalmente me pertencia como esposa de Rocco tinha sido transformado no estúdio de ioga da Sofia dois anos antes. Tinha os melhores equipamentos, e o difusor aromático usava óleos essenciais luxuosos.

Eles me colocaram nesse quartinho sem janelas. E agora, até isso me tiraram e transformaram em depósito.

Meu telefone tocou de repente, cortando meus pensamentos.

— Obrigada por escolher o Everrest Memorial Garden. — Disse uma voz suave do outro lado da linha.

— A senhora ainda tem interesse no lote funerário pelo qual perguntou, senhora Moretti?

— Podemos reservar por sete dias se pagar o sinal agora. Caso contrário, precisaremos oferecê-lo a outros clientes.

Esse era o local onde eu tinha ido um mês antes. Obras impecáveis de mármore rodeavam o espaço, e o caixão de vidro parecia brilhar sob a luz do domo.

Descansar ali para sempre era tudo o que eu desejava, mas custava 80 mil dólares.

Olhei para as poucas centenas que restavam na minha carteira e hesitei.

— Não. Obrigada.

Eu não podia pagar nem um transplante de medula óssea. Quem dirá uma morte digna.

Mal encerrei a ligação quando a porta foi empurrada. Levantei o olhar e vi Rocco entrando.

Ele estava acostumado a sentir o aroma suave de lírios-do-vale em todos os cantos da casa. Era assim porque eu os adorava. Sua fragrância me acompanhava onde eu ia.

O ar morto agora o deixou incomodado, o deixando em alerta.

Ele franziu o cenho e inspirou fundo, tentando captar o perfume familiar. Mas não havia nada — apenas poeira e mofo.

Ele ignorou a sensação estranha e me encarou:

— Do que se tratava aquilo sobre um lote funerário?

A voz de Rocco era plana e fria.

— Já te avisei, Claire. Pare de se machucar para chamar atenção. Você acha isso divertido?

Eu não pretendia responder, mas as palavras saíram antes que eu percebesse:

— Eu não…

Ele me cortou imediatamente:

— Não o quê? Acabou. Não pense em colocar as mãos no que pertence à Sofia. Algumas coisas nunca foram suas.

Eu desabei, e as lágrimas começaram a cair.

Ele insistia que a festa, o lugar como esposa do Don, e até todo o amor dele pertenciam à Sofia. Mas e o que deveria ter sido meu? Ele se esqueceu de tudo?

Levantei o olhar e encontrei seus olhos.

— Você se lembra da minha festa de 18 anos?

O rosto dele ficou rígido e seus olhos foram involuntariamente para a foto sobre a mesa. Mas ele desviou rápido e respondeu:

— O que você está tentando dizer?

Eu murmurei:

— Naquele dia, você prometeu fazer um grande casamento para anunciar ao mundo que eu era sua esposa. Mas depois disse que eu era incompetente demais para ficar ao seu lado.

Ele pareceu irritado:

— Onde você quer chegar?

Continuei:

— Depois disso, você faltou aos meus aniversários de 19, 20 e 21 anos. Mas com a Sofia você nunca perdeu uma única data.

Rocco se virou:

— Chega, Claire! Você transforma tudo em drama. Não consegue olhar o quadro geral? Se você não fosse tão sensível e emocional, talvez eu me lembrasse que você existe.

Encarei aqueles olhos gelados, sentindo o peso intimidador de sua posição na máfia. Para ele, minha existência era um erro. Meu amor, meus sacrifícios, minha dor — tudo era errado.

Eu sussurrei:

— Você está certo, Rocco. Eu não fui boa o suficiente.

Virei-me de costas para ele.

— Os documentos estão na segunda gaveta à esquerda. Eu deixei algo para você lá dentro, mas espere três dias antes de abrir.

Ele saiu sem dizer nada. O sino da meia-noite tocou, deixando o quarto silencioso novamente.

Agarrei a moldura desgastada, sentindo minha vida se esvair. Restavam apenas dois dias.
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