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A Santa Cuidadora

Quando jantavam mais tarde , ela questionou para Taele , com lagrimas nos olhos.

- Você também me acha estranha , não é?

- Para falar a verdade, não.

- Eu queria ser diferente , mas não consigo. Olha que eu já tentei , mas não gosto de nada nem me apego a ninguém. Não consigo amar as pessoas, sempre me tratam como se eu fosse um peso e isso me magoa demais. Por isso que  me assusto quando chegam perto de mim para me dar carinho. Não estou acostumada . Mas acho que se minha mãe estivesse viva , tudo mudaria. Porque meu pai não conversa comigo. Toda vez que tinha uma duvida , ele me dizia que isso era papo de mulher e que não era assunto para eu tratar com ele.

- Deve ter sido muito difícil para você.

- Eu queria ser aceita pelas pessoas. Queria mudar. Você me ajuda.

- Claro que sim meu amor! Obrigada por confiar em mim.

Ela sorriu quando Pillar colocou o prato vazio em cima da mesa.

- Estava uma delicia, você cozinha muito bem.

- Obrigada. Quer mais?

- Sim.

- Depois do seu entrosamento com o cavalo, você merece até mais. É sério , até agora não consegui entender nada. Você odeia  cavalos e ele nunca aceitou ninguém. O que aconteceu ?

- Nós nos apaixonamos instantaneamente, eu tenho certeza de que o Castanha gostou muito de mim , e eu amei ele. Ele é maravilhoso.

- Castanha é um animal selvagem e extremamente perigoso. Se eu fosse você, tomaria cuidado mocinha.

- Eu vou tomar cuidado.

- Que bom.

                        Pillar sorriu e piscou de jeito maroto. Depois do jantar, ela foi até a janela e ficou olhando para o nada. Aquele lugar era horrível. No sábado , pediria a Patrick para levá-la.

Resolveu fazer uma visita para a avó.

- O que faz aqui uma hora dessas?

                     Não era assim que ela gostaria de ser recebida.

- Eu já terminei meu serviço.

                       Informou humilde.

- Eu sei.

- Vim te pedir uma coisa.

- O quê?

- Me deixa ir embora vovó!

- Não! Vai ficar aqui e cumprir a ordem da justiça.

- Mas será que não tem piedade? Eu vou enlouquecer nesse lugar.

- Isso é para você aprender a não se meter em confusão. Agora volta para a casa dos fundos. Não temos mais nada para conversar.

                        Ela obedeceu. Entrou aborrecida , batendo a porta.

- Minha vó não quis me ouvir. Tiraram a minha liberdade. O que eu vou fazer?

- Calma querida. Já já tudo se resolve. Você vai ver.

- Sinceramente eu não acho , mas .... valeu . Boa noite.

                       Pillar a olhava com os olhos marejados. Foi dormir chorando. Os dias não passavam , as horas iam se  arrastando para o seu completo aborrecimento. Queria que aquele mês passasse rápido.

                        Levantou-se cedo e foi visitar seu amigo novo , que a recebeu com entusiasmo.

- Oi rapaz! Sentiu minha falta? Eu também senti a sua. Você é o cavalo mais bonito e inteligente que existe nesse haras.

                         A avó lhe surpreendeu.

- Pillar!

                        O cavalo se agitou e Pillar pôr-se a acariciar a testa do animal.

- Calma amigão. Você não corre perigo. Não vou deixar que ninguém te faça mal. Confie em mim.

- Pillar , o que faz aqui?

- Vim conversar um pouco com o Castanha. Ele anda tão solitário.

- Esse cavalo não precisa de ninguém para conversar com ele. É um animal selvagem e você não vai se aproximar dele. Vamos embora.

- Mas vovó...

- Não discuta comigo.

                    Pillar a olhou com ar  de arrogância. Aquilo não iria ficar assim. O fascínio dela pelo animal era cada vez mais forte. Não ouviria Taele, nem a vó e muito menos Patrick se por ventura viesse a tentar intervir tal aproximação.

                 Era sábado e Patrick chegou cedo no haras , pronto para conversar com a filha , depois de saber de suas últimas peripécias , mas não se atreveu a abrir a boca depois do que viu. O relacionamento entre ela e Taele o impressionou.

- Tatá por favor! Você me dá folga hoje ? Me sinto exausta.

- Não se importa de trabalhar dobrado na próxima semana?

- Não mesmo.

- Está bem. Então está combinado.

                     Pillar sorriu e pela primeira vez a abraçou.

Taele a apertou emocionada.

- Você é demais.

- Quê isso meu amor! Não foi nada. Por que não vai tomar um banho? Quero convidar seu pai para fazermos um piquenique nós 3 , o que acha?

- Uma excelente idéia.

- Filha! Você nunca gostou de Piquenique.

- As coisas mudam né. E com ela pode ser legal.

- Você ouviu a menina. Mas se não quiser aproveitar a oportunidade de curtir o sábado com ela , tudo bem. Vamos só nós duas. Você entenderia não é Pillar ?

- Claro. Com certeza.

- Não. Nada disso. Eu vou com vocês.

- Então , me ajuda a preparar os lanches.

- É para já.

- Tatá , só não aceita ele bagunçar sua cozinha.

- Pode deixar filha.

- Filha?

                    Repetiu ele boquiaberto , depois que viu Pillar desaparecer.

- Pillar precisa urgente de uma mãe. E eu quero ser a mãe dela.

- Você operou milagres na minha filha. Como conseguiu isso? Venho tentando á anos.

- Ela é adorável. Se você conquistar seu amor , o terá para sempre.

                        Pillar vestiu uma roupa simples para o passeio. Estava adorando o dia , mas não podia evitar de pensar em como iria derrubar as barreiras que iriam surgir em relação a ela e o cavalo.

                       Olhava divertida para o pai e a cuidadora.

- Escuta papai, você não tem vergonha de estar sozinho nessa idade? O tempo está passando , acho que deveria arrumar uma namorada.

- Que idéia garota! O pai está bem assim.

- Se você acha...

                       Algumas horas depois , ele ajudava Taele a guardar as louças. Eram 7 da noite.

- Onde está minha filha? Gostaria de me despedir.

- Eu não sei! Tem um tempo que não a vejo.

- Será que aconteceu alguma coisa?

                   A voz dela ao longe foi a resposta.

- Vamos Castanha. Vamos!

                   Pressentindo algo ruim , Patrick foi até a janela , Taele o acompanhou. Qual não foi o choque de ambos ao ver Pillar cavalgando a todo vapor naquele cavalo. Ao pai, pareceu faltar o ar e o coração batia na boca. Um pânico imediatamente se apossou.

- Pillar!

                    Ele gritou a plenos pulmões.

- Ah meu Deus !

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