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Capítulo 6

Olívia xingou um pouco, se sentindo aliviada, antes de entrar no assunto principal.

- Então, você com certeza não quer esse filho, né? Se amanhã, depois do exame, a gente marcar a cirurgia direto? – Perguntou Olívia.

- Está bem. – Respondeu Julieta, tocando a barriga, contendo a dor em seu coração.

Com as palavras ditas, a lágrima no canto de seu olho escorreu.

Ela sabia que estava sendo injusta com aquela criança.

Mas sem compromisso, sem nome, ela não podia dar nada ao bebê. Como ela poderia ter ele?

Ela, uma mulher comum de uma família comum, não podia permitir que seu filho carregasse o peso de ser ilegítimo por toda a vida.

Francisco não daria a ela status, amor, família ou mesmo um bebê.

Julieta fechou os olhos, limpou a lágrima que caía.

...

Naquela noite, Julieta não dormiu bem. Parecia que ela havia tido um sonho.

Era como se ela tivesse voltado à infância.

Quando estava com sua mãe, passando por tempos difíceis, a estadia mais longa delas foi em uma pequena vila de pescadores à beira do rio.

Foi lá que Julieta viu Francisco pela primeira vez.

Naquela época, Francisco não tinha a melancolia que carregava agora. Sua beleza parecia uma boneca de porcelana. Julieta mais tarde descobriu que ele estava lá para se recuperar de uma doença.

Provavelmente, o processo de recuperação não foi fácil, pois ele muitas vezes ficava sozinho ao lado do rio, enxugando as lágrimas.

Toda vez que ela via ele, Julieta levava um pirulito para animar ele.

No início, ele ignorava ela, mas depois começou a sussurrar por cima do muro da casa dela.

- Julieta.

Mais tarde, ele devia ter se recuperado, pois foi levado por um grupo de pessoas.

Antes de partir, ele disse que voltaria para encontrar ela.

No entanto, Julieta não esperou por ele.

O reencontro de dez anos atrás aconteceu de maneira inesperada quando ela fez dezessete anos, no dia do seu aniversário.

Sua meia-irmã, filha do mesmo pai, mas de outra mãe, disse que havia perdido uma pulseira na praia e pediu que ela a ajudasse a procurar.

Na praia, Julieta reconheceu ele de imediato.

O garoto de dezenove anos não tinha mais a ingenuidade, mas estava envolto em uma aura de melancolia.

Quando Julieta viu ele, ele estava avançando devagar em direção às águas geladas e agitadas do mar.

Naquele momento, ela não pensou em nada, correu até ele e o segurou com firmeza.

Quando o garoto se virou, seus olhos mostraram frieza e um toque sombrio que não condizia com sua idade.

De repente, Julieta se sentiu intimidada e deu alguns passos para trás.

O garoto sorriu com frieza, continuando em direção à água.

- Morrer é a coisa mais fácil neste mundo! – Julieta gritou para ele com toda a sua força.

Os passos do garoto pararam.

No entanto, naquele momento, uma onda se ergueu e a figura esguia de Julieta foi submersa pela água do mar.

Ela não se lembrava mais da sensação naquele momento, apenas do medo de não conseguir agarrar nada enquanto lutava.

Quando sua consciência começou a desaparecer, uma mão de repente agarrou sua cintura.

Ondas rolavam, o corpo flutuava e afundava.

Vagamente, ela pareceu ver o rosto pálido e frio do garoto.

Ela não sabia como ele tinha arrastado ela para a praia sob uma onda tão grande.

Só lembrava de abrir os olhos mais uma vez, encarando seu rosto indiferente e suas palavras gélidas.

- Sem habilidade para sobreviver, ainda se atreve a se intrometer na vida e morte dos outros. – Comentou o garoto.

Ele disse antes de se afastar.

- Francisco! – Gritou Julieta.

Um grito ecoou no sonho.

Acordando, o sonho se desfez.

Abrindo os olhos, o celular estava tocando.

Era Olívia.

- Marquei a cirurgia para você, não beba água nem coma nada. – Avisou Olívia.

Julieta concordou, ajustando suas emoções, mas sentindo uma opressão no peito.

Esse era o filho dela com Francisco.

O filho do homem que ela amou em segredo por tantos anos.

Mas ela também sabia que esse filho não podia ficar.

Não era porque tinha medo de ser descoberta, mas porque temia se apegar mais se ficasse por mais tempo.

...

Julieta se preparou e saiu do hotel.

Mas, na porta do hotel, ela viu um carro tão familiar.

Ela não ficou surpresa que Francisco conseguiu encontrar ela.

Na Cidade J, se ele quisesse, não havia ninguém que ele não conseguisse encontrar.

O que surpreendeu ela foi o motivo de ele estar procurando ela.

Na noite passada, ele foi tão decidido. Por que ele estava procurando ela agora?

Ela não queria ver ele agora.

Finalmente tinha tomado a decisão, ela temia não ser capaz de resistir diante dele.

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