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Capítulo 4

Author: Melissa Z
Três dias depois, minha porta se abriu.

Vincenzo entrou, com Katerina em seu braço.

Ela usava um terno branco da Chanel. O anel da família em sua mão esquerda brilhava, espetando meus olhos como uma lâmina.

— Chiara — a voz de Vincenzo estava neutra. — Como está se sentindo?

— Ainda respirando — Respondi, minha voz áspera como cascalho. — Decepcionado?

Katerina caminhou até minha cama, o rosto uma máscara de falsa preocupação.

— Tenho desejado ver você. Ouvi dizer que ficou muito ferida ao nos proteger. Você é tão corajosa.

Proteger vocês.

Que piada de merda.

— Só estou fazendo meu trabalho.

— Sua lealdade é muito comovente — Disse Katerina. Seu olhar desceu para a gola aberta do meu avental hospitalar, fixando-se na pequena tatuagem de fênix logo abaixo da clavícula.

Nós a fizemos depois do nosso primeiro tiroteio juntos. Nosso primeiro segredo.

Um lampejo de ciúme cruzou seus olhos. Ela se virou para Vincenzo, a voz melosa e doentia.

— Querido, a tatuagem da Chiara é tão única. Mas… eu realmente não gosto dela. Me lembra que você tem um passado que eu não conheço. Isso me faz sentir… insegura.

Vincenzo ficou imóvel.

Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos. Então pegou o celular e ligou para Marco.

— Traga o Tony para o hospital com o kit. Agora.

Meu sangue gelou. Tony era o tatuador da família.

Não. Ele não faria…

Vinte minutos depois, Tony Marcelli entrou, carregando uma maleta preta.

Ele me viu na cama, depois olhou para Vincenzo, confuso.

— Chefe, tem certeza… que quer fazer isso aqui?

Pensei que ele estava lá para apagar a minha tatuagem. Para me arrancar nosso último segredo. Mas eu estava errada. Era muito pior.

Vincenzo tirou a própria camisa.

As cicatrizes em seu peito ficaram quase ofuscantes.

As mesmas que eu tracei com os dedos depois de fazermos amor. As marcas da nossa vida juntos.

A do lado esquerdo do peitoral, de três anos atrás, nas docas.

Eu o havia empurrado para longe e tomado a facada de Tony, o Açougueiro, em seu lugar.

Ele me segurou, coberto de sangue, e perdeu o controle pela primeira vez, os olhos inflamados de vermelho enquanto gritava meu nome.

Ele tinha dito: — Chiara, você é minha. Ninguém encosta em você.

O arranhão de bala do lado direito, de cinco anos atrás em Milão.

Estávamos encurralados. Usei uma identidade falsa para nos tirar da mira dos policiais e escapar.

Ele beijou meus ferimentos e me chamou de sua deusa da vitória.

E agora ele ia apagar tudo isso.

— Bem aqui — Disse Vincenzo, revelando a fênix muito mais elaborada em seu peito.

A mesma que eu desenhei para ele quando tinha dezenove anos. Uma peça única.

Ele apontou para a fênix e deu a ordem a Tony:

— Cubra. Com a águia russa de duas cabeças.

— Chefe! — A voz de Tony estava tensa. — Tem certeza? Uma cobertura desse tamanho… vai doer pra caralho. E vai cicatrizar pior ainda.

— Faça o que eu mandei — O tom de Vincenzo não deixava espaço para discussão.

Tentei me levantar.

— Vincenzo, você não precisa—

— Cala a boca. — Ele nem olhou para mim. Os olhos eram puro gelo. — Isso não tem nada a ver com você.

O zumbido da agulha cortou o silêncio da sala.

O sangue começou a escorrer, misturando-se com a tinta, um borrão vermelho diante dos meus olhos.

Assisti à fênix que eu desenhei — O símbolo do nosso passado — Ser torturada, consumida e engolida inteira pela águia que representava sua aliança, sua nova mulher.

Vincenzo cerrava os dentes, suor se formando na testa, mas ele não emitia um único som.

Seus olhos nunca deixaram Katerina.

— Está doendo? — Perguntou Katerina, enxugando o suor dele com um lenço.

— Não — Rosnou ele, a voz áspera. Ele não desviou o olhar dela nem por um segundo. — Por você, nada dói.

Duas horas depois, estava feito.

O peito de Vincenzo era um desastre de sangue e carne viva, mas a águia russa, feroz e orgulhosa, tinha substituído completamente a fênix.

Minha fênix tinha desaparecido.

— Perfeito — Murmurou Katerina, beijando o peito ensanguentado dele. — Agora, por dentro e por fora, você pertence só a mim.

Vincenzo observou o símbolo estranho e sangrento no espelho.

Ele deu a Katerina um sorriso fraco, mas satisfeito.

— Sim — Disse ele, mas seus olhos encontraram os meus através do reflexo. — Agora, sou só seu.
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