Mesmo debaixo daquele sol forte, Augusto parecia estar envolto em sombras que não saíam de perto dele. O pijama hospitalar azul e branco ficava largo demais naquele corpo que tinha emagrecido, e o braço todo enfaixado completava uma imagem desoladora que estava bem longe do homem cheio de vigor e confiança que Margarida tinha conhecido um dia.O assistente tinha razão numa coisa. Mesmo sem rolar mais nenhum sentimento romântico entre os dois, Margarida ainda conhecia aquele homem há treze anos da vida dela.Ver ele mais acabado do que ela imaginava despertou uma pontada meio estranha no peito, que ela não estava esperando sentir.Sem deixar transparecer nada, manteve aquela expressão neutra enquanto o observava de longe.— Sua noiva não está cuidando direito de você? — Perguntou ela, com um tom que não entregava nada.Leonor tinha espalhado por aí que Augusto se machucou numa briga com Vicente por causa dela, tudo para mostrar como os dois eram apaixonados de morrer. Se fosse verdade m
Todo mundo já sabia que Augusto estava internado no hospital do Grupo Almeida por causa daqueles ferimentos graves na mão. Sempre que Margarida vinha visitar o hospital, ela vivia com medo de esbarrar nele como tinha acontecido da última vez, mas por sorte isso nunca mais se repetiu.Margarida achava que estava dando sorte mesmo, conseguindo evitar aqueles encontros constrangedores a cada ida ao hospital.O que ela não sabia era que os problemas tinham esse nome justamente porque apareciam quando a gente menos esperava, bem na hora que baixavam a guarda achando que estava tudo nos trinques.Ao ouvir o assistente marcando um encontro em nome de Augusto, o rosto de Margarida fechou na mesma hora. Como não era o próprio Augusto quem estava falando com ela, conseguiu controlar a irritação e manter a educação básica.— Hoje preciso ajudar uma amiga com a alta dela. — Disse Margarida, seca. — Desculpa, mas não tenho tempo mesmo. É melhor eu não encontrar com o Augusto.Ela soltou um sorriso
— Não vou me arrepender, não. — Respondeu Margarida, com convicção. — Se fosse para me arrepender, nem teria perdido tempo preparando este contrato.Ela colocou a caneta diretamente na mão de Vicente, segurando aquela mão grande e forte enquanto a guiava sobre a página onde ele deveria assinar.— Vicente, eu preparei tudo isso porque quero muito que você assine. — Disse ela, olhando nos olhos dele com toda a sinceridade do mundo. — Depois que você assinar e o contrato entrar em vigor de verdade, pode ficar sossegado para passar a vida inteira ao meu lado.— Pronto! Agora você está feliz? — Perguntou Margarida com alegria, enquanto acompanhava Vicente terminando de assinar seu nome.Ali na folha de papel estavam as duas assinaturas. A de Margarida, delicada e elegante, e a de Vicente, imponente e cheia de força. Juntas, elas formavam uma harmonia que parecia ter sido feita sob medida.Vicente ficou contemplando aqueles dois nomes por tanto tempo que parecia estar admirando o tesouro mai
— Marga, você não me quer mais? — As palavras saíram da boca de Vicente como cacos de vidro cortando sua própria garganta, e quando chegou à última sílaba, sentiu o gosto metálico do sangue subindo pela sua boca contraída.Vicente sempre acreditou que, após resolver todos aqueles problemas que os atormentavam, finalmente poderia viver ao lado de Margarida para o resto da vida. Nunca passou pela sua cabeça que, no fim das contas, não conseguiria segurar perto de si a única pessoa que realmente amava, fazendo com que todos os seus planos virassem uma piada de mau gosto.Não aguentando mais aquela dor que o consumia por dentro, Vicente fechou os punhos com tanta força que as unhas se cravaram nas palmas das mãos, enquanto se virava para ir embora. Ele precisava sair dali antes que todo aquele desespero acabasse machucando Margarida também.Foi quando ela segurou o braço dele com força, impedindo sua fuga.— Vicente, olha direito para este contrato que eu preparei! — Disse Margarida, colan
Como Teresa ia receber alta no dia seguinte, se Margarida viesse ajudar, ela conseguiria reduzir o tempo que passaria sozinha com Lorenzo. Algo que com certeza seria bom para Teresa.Afinal, depois de passar a noite inteira trocando olhares intensos com Lorenzo enquanto ele cuidava dela com tanto carinho... Teresa sentia que sua determinação de jogar os papéis do divórcio na cara dele começava a se desfazer.Margarida, porém, não fazia ideia dos pensamentos conflituosos de Teresa. Antes de partir, hesitou por um momento, visivelmente perturbada por algo.— Teresa, você realmente acredita que a Eduarda me procurou apenas porque, no meio do próprio sofrimento, não suportava ver minha felicidade? — Perguntou Margarida.— Claro que sim. — Teresa confirmou com firmeza. — Por enquanto, essa parece a explicação mais lógica. Existe uma chance bem pequena de que o Vicente tenha sido o responsável pela desilusão amorosa da Eduarda, e que você tenha sido a amante que destruiu o relacionamento del
Teresa não tinha más intenções em relação à Margarida. Embora a vida amorosa de Teresa, comparada à de Margarida, fosse como comparar o chão com o teto, elas eram grandes amigas. Teresa tinha uma vida próspera além dos relacionamentos e se sentia segura em todos os aspectos, então não sentiria inveja de Margarida, muito menos pensaria em prejudicá-la.Mas outras pessoas não eram assim.— Margarida, você está vivendo num ambiente com amor total e segurança, então não sabe como é difícil para quem não tem essas coisas. — Teresa explicou de forma natural.— Amor total e segurança... — Margarida ouviu as palavras de Teresa, e o rosto franzido relaxou na hora. Não conseguiu evitar repetir. — Pessoas que não têm essas coisas ficam ansiosas fácil, pensam demais, são instáveis, e até ficam inseguras sem perceber, sempre se culpando?— Exato, você captou direitinho. — Teresa se empolgou. — Descobriu através de quem, da Leonor?Leonor e Augusto eram uma dupla problemática. Antes, quando Margarid