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CAPÍTULO 2

Author: Peachy
No dia seguinte, fui a uma boutique masculina de alto padrão. Se eu iria me casar com um homem conhecido como "A Víbora", então eu deveria pelo menos levar um presente adequado. Fora que isso também era um sinal de educação e boa fé.

Eu me aproximei do balcão e disse, enquanto apontava para uma gravata verde escura:

— Vai ser essa. Embrulhe, por favor.

Assim que a atendente a pegou, uma mão com unhas rosas e bregas, bateu no vidro do balcão.

— Essa cor é tão sem graça. Não combinaria nem um pouco com o Marco.

A voz de Sandra, cheia de superioridade, veio logo atrás de mim.

Eu me virei e Marco também estava lá, com um dos braços ao redor da cintura dela e acariciando seus cabelos como se ela fosse um troféu. No momento em que ele me viu, o brilho nos olhos se transformou em desprezo.

— Odessa, você está seguindo a gente?

Em seguida, olhou para a gravata que eu havia escolhido e debochou:

— Eu sabia que você recusou a minha proposta no outro dia, apenas para melhorar a oferta. Já se arrependeu? Vai tentar implorar o meu perdão, com um presente de aniversário barato desses? Isso aí custou quanto, alguns milhares?

Barata? Essa gravata era a mais cara e exclusiva da loja, custando cerca de cinquenta mil dólares!

— Isso não é pra você! — Eu disse enquanto pegava a caixa e entregava para que a atendente pudesse embalar. Então, finalizei com frieza. — Não fique se achando.

— É para aquele monstro? — Sandra riu, elevando a voz propositalmente. — Ah, irmãzinha, quanta consideração. Mas sabe, eu fiquei sabendo que um homem como o Jude, não se importa muito com gravatas. Elas atrapalham na hora de matar alguém. Será que ele não vai usá-la para te estrangular?

Os outros clientes começaram a olhar e cochichar, mas Sandra adorava esse tipo de atenção.

Ela se aproximou, puxando a gola para baixo, exibindo os chupões no pescoço, e então, sussurrou para que apenas eu ouvisse:

— E daí que eu roubei seus designs? O Marco acredita apenas em mim. Você é apenas uma aleijada inútil. Quer saber? Você e aquele monstro combinam perfeitamente. Mas... e se aquele monstro, assim como o Marco, acreditar que você passou um ano na Suíça por causa de um aborto? Como será que ele vai te punir por isso?

Minhas pupilas se contraíram imediatamente. Senti como se uma mão invisível apertasse meu coração.

— O que você disse?

— A verdade... que o Marco acredita. — Ela sibilou e seu sorriso foi ficando cada vez mais venenoso. — Enquanto ele estava aqui todo ferido, você fingiu estar se tratando na Suíça, só que na verdade, estava gastando todo o dinheiro dele, ao lado de outro homem. Além disso, ainda engravidou e decidiu abortar... tsc, tsc. O Marco sentiu tanto nojo, que até vomitou.

Senti um arrepio subir pela minha espinha.

Então era isso! Era por isso que ele havia mudado. Viagem, traição e aborto!

Ela pegou o meu ano de sofrimento, toda a minha luta para sobreviver, as dores insuportáveis e a fisioterapia e sujou tudo com essas mentiras imundas.

— Cala a boca! — Eu cerrei os meus punhos e raiva fez a minha mão direita entrar em um espasmo violento e incontrolável.

— Que foi? Acertei algum nervo? — Ela gargalhou, enquanto pegava com tranquilidade um café quente que estava no balcão. — Não fique brava, irmãzinha, eu só sinto tanta pena de... AH!

De repente, um grito.

Eu nem cheguei a tocá-la, mas o café em suas mãos voou. Mas não em direção ao chão, na verdade ele esparramou em cima da minha mão direita, que ainda tremia incontrolável.

— Chhh...!

O líquido escaldante atingiu a minha pele e uma dor intensa atravessou meus nervos como um relâmpago. Eu gritei e deixei a caixa com a gravata cair no chão.

Para uma mão que já havia passado por tantas cirurgias, uma mão tão sensível assim, era como enfiar um ferro em brasas numa velha ferida.

A boutique se dissolveu ao meu redor e de repente eu estava de novo naquele armazém. O fogo e a fumaça. O aço frio e estéril da mesa de cirurgias. Meu TEPT me atingiu em cheio.

Eu me encolhi no chão, agarrando a minha mão e suando frio. Eu sentia tanta dor, que mal conseguia emitir som algum.

— Odessa! Você está maluca?!

Marco esbravejou na minha direção, ignorando a minha situação e segurando a mão perfeitamente bem de Sandra. Com a voz carregada de pânico, ele falou de forma escandalosa:

— Meu amor, você se queimou? Está doendo?

— Dói um pouco... ela me empurrou... — Disse Sandra tentando forçar lágrimas e se encolhendo nos braços do Marco. — Eu só queria pegar um cafezinho pra ela. Por que ela faria isso comigo?

— É essa é a sua vingança? — Ele se virou para mim, com os olhos em fúria.

Ele avançou na minha direção, enquanto eu ainda estava encolhidinha chão, com a mão direita tremulando e ficando cada vez mais vermelha.

— Marco... A minha mão... — Eu até tentei explicar, implorando por um pouco de piedade.

Aquela era a mão que havia sido destruída para que ele fosse salvo, mas ele levantou o pé, com seu sapato de couro italiano caro costurado à mão, e pisou com toda força na minha mão direita.

"AHH!"

Um grito intenso rasgou a minha garganta e achei que meus ossos fossem se despedaçar. Ele continuava forçando o calcanhar sobre minha mão e eu sentia o couro esfregando a minha pele queimada, esmagando os nervos delicados que havia por baixo.

— Um ano escondida na Suíça não foi o suficiente? Já chega de bancar a vítima e de tentar incriminar a Sandra por tudo! Sua mão não era inútil? Como conseguiu empurrar a Sandra com tanta força?

Ele me olhou de cima a baixo, como se eu fosse apenas lixo.

— Essa mão inútil e imunda não serve nem para lustrar os sapatos da Sandra.

Dor.

Uma dor intensa que atravessava todo o meu corpo. Doía mais até do que da primeira vez que cortaram os meus nervos.

Mas dessa vez eu não gritei, mordi meus lábios tão forte que até senti o gosto de sangue. Atravessando as lágrimas e o suor, que borravam a minha visão, eu encarei os olhos daquele homem que um dia eu amei. O homem que um dia eu salvei.

Com o pé ainda pressionando minha mão, ele disse:

— Se você tiver sujado o vestido dela, eu vou arrebentar essa sua mão inútil em duas! — Marco se aproximou e continuou com a voz gélida.

De repente, a porta de vidro da loja foi estraçalhada e uma pressão assassina preencheu toda a boutique.
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