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CAPÍTULO 3

Author: Peachy
Aquele sapato esmagando minha mão, era agonizante a ponto de quase me fazer perder a sanidade, mas eu não implorei. Eu apenas o encarei, enquanto minha mente voltava para dois anos atrás.

Houve uma tentativa de assassinato contra a família Bianchi, ele acabou sendo sequestrado e foi gravemente ferido. Eu rastejei durante sete dias, pelos esgotos de Nova York, até encontrá-lo em um armazém abandonado.

Havia uma bomba que estava prestes a explodir, eu usei quase todas as minhas forças para arrastá-lo dali a tempo, mas fomos pegos pela explosão e fomos arremessados pelo ar.

Na tentativa de proteger a cabeça dele com a minha mão direita, um pedaço afiado de vidro perfurou o meu pulso, cortando os meus nervos.

Com o resto de consciência que sobrava, Marco me olhou no fundo dos olhos e disse que me amava. Ele falou que iriamos nos casar.

E o que aconteceu depois?

A família simplesmente me levou às pressas para a Suíça, para tratamentos com os melhores médicos, mas com os procedimentos mais caros e mais doloridos.

Eu não queria que ele se preocupasse, então minimizei o quão grave era. E com o tempo as mensagens que eu enviava deixaram de ser respondidas com "melhore logo" e passaram a ser apenas "ok" ou "estou ocupado".

Um ano depois, eu voltei, cheia de esperanças, mas fui recebida por ele e Sandra, junto daquelas palavras horríveis que saíram da boca dele:

— Essa sua mão é inútil. Você não é mais apta a ser a matriarca da família Bianchi.

E agora, finalmente eu entendi!

Não é que ele deixou de me amar, na verdade, ele foi enganado pelas mentiras da Sandra. Ele pensa que eu sou apenas uma trapaceira e que peguei todo o dinheiro para realizar um aborto.

— Solta... — Eu resmunguei num sufoco.

— Peça desculpas! — Ele pressionou ainda mais, pressionando com o salto do sapato. — Ajoelhe-se e peça desculpas a Sandra, então, quem sabe eu solto sua mão! Caso contrário, vou mandar alguém tatuar um "VADIA" bem grande em você!

CRASH!!

Não foi um tiro, mas o rugido ensurdecedor do motor de um Hummer preto, que saltou pela calçada e atravessou a vitrine de vidro em cheio.

Pedaços de vidros e peças de exposição voaram pelos ares.

Pessoas gritando por todos os lados.

Aquilo não era um acidente.

Um enxame de motos sem identificação avançou para dentro da loja, homens armados e mascarados metralhando tudo. Era um ataque de carro, como nos filmes, e o alvo definitivamente estava naquela boutique.

As balas trituravam o piso de mármore, ricocheteando no ar.

— AH! SOCORRO! — Sandra gritou enquanto buscava um abrigo.

Instintivamente, Marco tirou o pé da minha mão, agarrou Sandra e se jogou atrás de um balcão. Seus movimentos eram suaves, decisivos e guiados por um impulso de proteger, assim como eu, quando o protegi três anos atrás. Só que dessa vez, eu fui deixada exposta, como um alvo vivo.

Eu ainda estava caída no chão, minha mão direita dormente de dor e não conseguia me mover rápido o suficiente. Foi então, quando uma bala acertou o chão a poucos centímetros do meu rosto. Estilhaços de pedra voaram e acertaram as minhas bochechas.

Observei as costas de Marco enquanto ele protegia a Sandra, sem sequer olhar uma única vez para mim. Naquele momento, uma parte do meu coração desabou em pedaços.

Então, uma bala veio rasgando na direção do meu coração. Eu apenas fechei os olhos e me preparei para o fim.

RIIIIIIIUUUUUM!

Cantando pneus, um Maybach à prova de balas irrompeu no meio daquele tiroteio, freando e abafando o som das balas. Ficando entre mim e a chuva de balas, a pesada carroceria absorveu todo o impacto. Faíscas voavam por todos os lados e naquele momento o mundo ficou em completo silêncio.

O vidro traseiro deslizou para baixo e, mesmo naquele caos, o homem dentro do carro estava incrivelmente calmo. Eu mal pude ver quem era, pois uma máscara prateada cobria metade do seu rosto, destacando apenas aqueles olhos azul-gelo tão profundos quanto as profundezas.

— Consegue se mexer? — Sua voz parecia rugido baixo e magnético, cheia de um charme perigoso que demandava obediência.

Eu rangi os dentes e assenti. Então, uma mão de luvas pretas surgiu, oferecendo um pequeno frasco prateado.

— Para a dor nos nervos. Borrife sobre sua ferida.

Meus dedos trêmulos pegaram o frasco e no momento em que encostei nas luvas, um leve choque percorreu meu corpo.

— Obrigada...

Quando menos percebi, a janela se fechou e o carro se afastou como um fantasma, deixando para trás apenas fumaça, caos e um Marco atônito, espiando por detrás do balcão.

No dia seguinte, na Catedral de São Patrício.

Todas as famílias mais importantes de Nova York estavam reunidas, mas ninguém ousava sentar-se nos bancos da frente, pois eles estavam reservados à poderosa família Moretti.

Enquanto eu colocava o meu vestido, meu pai implorava para que eu não obrigasse a Sandra a confessar. Mas eu não iria deixá-la se safar.

Eu fiquei parada sozinha, em meu vestido de cor marfim, esperando pelo lendário monstro. Já que o noivo estava atrasado.

— Espera!

As portas da catedral foram escancaradas e Marco entrou em fúria, seguido pelos membros da família Bianchi e uma Sandra, com um ar de presunção.

— Esse casamento não pode acontecer! — Ele berrava e apontava para mim, sua voz ecoando por toda igreja. — Odessa Rossi é uma mercadoria danificada! Uma mentirosa! Uma aleijada, indigna de se casar com o Padrinho Moretti!

Todos os convidados começaram a sussurrar.

Eu fiquei ali parada, sentindo os olhares em cima de mim, mas meu coração estava tranquilo, como o mar após uma tempestade.

— Além disso, ela ficou um ano de farra com outro homem na Suíça! E até precisou abortar! — Marco bradava determinado a me crucificar. — Como que uma mulher suja como ela, pode se casar com o Padrinho? Isso é um insulto para o nome da família Moretti!

— Ela não merece ser a esposa dele! Ela nem sequer consegue segurar a aliança com aquela mão! Ela só vai trazer vergonha para o nome Moretti. Ela deveria ser largada em um cortiço qualquer!

Ele estava ali para me humilhar, provar sua lealdade a Sandra e mostrar para todos que não queria mais nada com aquela "vadia" que ele havia abandonado.

Mesmo que eu estivesse prestes a me casar com outro homem, ele fazia questão de destruir o meu nome e garantir que eu não tivesse um futuro.

Eu observei aquela performance histérica e quando estava prestes a falar algo.

TAP. TAP. TAP.

O som pesado e constante de passos de um sapato de couro ecoou pela catedral. Foi como se o ar tivesse congelado e todos seguraram a própria respiração. Emergindo de trás do altar, uma enorme figura apareceu.

Ele vestia um terno preto perfeitamente ajustado, que deixava transparecer toda a imponência de seus ombros e sua cintura fina. Sua presença era pesada e sufocante.

Agora sem a máscara, seu rosto era brutalmente lindo. Uma cicatriz irregular cortava sua sobrancelha, mas isso não estragava sua aparência, na verdade, acrescentava um ar selvagem e sedento de sangue.

Era Jude Moretti.

Ele ignorou todos ao seu redor e caminhou diretamente para mim.

Aqueles olhos azul-gelo se fixaram nos meus e depois deslizaram até a minha mão direita enluvada. Ele estendeu as mãos e após um momento de hesitação, eu ofereci a minha.

Ele tirou a luva, revelando uma mão marcada e trêmula por baixo, enquanto na parte de cima, era possível ver os hematomas recentes que haviam sido causados pelos pés de Marco.

Do meio da multidão, Marco zombou:

— Está vendo, Don Moretti? Eu te disse, a mão é inútil. Ela não é digna de...

Marco não terminou.

Jude de repente abaixou a cabeça e diante dos olhos aterrorizados de todos, o grande Padrinho, o demônio do submundo, gentilmente, beijou aquelas cicatrizes horríveis.

— Essa mão salvou a vida de um homem cego.

Ele levantou os olhos e com uma voz rouca e baixa, porém carregada de uma autoridade que preencheu toda igreja, ele falou:

— Mas na minha casa, ela será coroada.

No segundo seguinte, Jude se virou, sacou sua arma e apontou o cano negro entre os olhos de Marco.

— Você pisou no meu território. — Ele disse com a voz mortalmente suave. — E ousou colocar suas mãos sujas na minha esposa.
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