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A Vida que Ela Roubou, o Mundo que Tomei
A Vida que Ela Roubou, o Mundo que Tomei
Author: Peachy

CAPÍTULO 1

Author: Peachy
Meu pai ficou espantado quando me ofereci no lugar da minha meia-irmã.

— Odessa, Você tem ideia do tipo de monstro que é Jude Moretti? Ele é conhecido como o açougueiro do submundo de Nova York. Dizem que ele é capaz de esfolar os traidores com as próprias mãos. Você realmente acha que vai voltar inteira?

Antes que eu pudesse responder, minha madrasta me cortou, os olhos dela se mexendo nervosamente.

— Se a Odessa não for, é a Sandra quem morre. A nossa Sandra, ela abandonou a própria reputação se casando com o Marco, apenas para fugir daquele monstro. Os Moretti são selvagens, mas mesmo os selvagens seguem regras. Eles não vão tocar em uma mulher casada...

Os olhos do meu pai escancararam que ele estava em conflito. Lentamente ele soltou minhas mãos e afundou-se na sua cadeira.

Meu coração congelou.

Desde que minha mãe morreu, essa casa deixou de ser meu lar.

A Sandra roubou tudo de mim. Ela roubou o amor do meu pai, roubou meus designs e agora queriam que eu me sacrificasse por ela. Enquanto a minha mão direita... continuava inutilizada.

Tudo porque eles me levaram até aquele médico charlatão, depois do acidente.

E agora, para proteger a Sandra, eles não pensaram duas vezes em me jogar aos lobos.

Com um olhar enrijecido, eu deixei uma risada fria escapar:

— Tá certo, eu me caso com ele, mas com uma condição. No dia do meu casamento, a Sandra vai ter que admitir para todo mundo, que As Lágrimas da Medusa foi uma criação minha.

— Você tá maluca? Você quer arruinar o futuro da sua irmã? — Meu pai esbravejou, socando a mesa com uma das mãos.

Minha madrasta me olhou com os olhos marejados e disse:

— Odessa, como você pode ser tão cruel? A Sandra é o futuro da nossa família!

Eu não conseguia esconder o desprezo em meu rosto e falei novamente com uma voz gélida:

— O líder dos Moretti pediu especificamente pela "artesã extraordinária". Vocês precisam escolher: ou ela fica com a reputação, ou fica com a vida.

No fim, eles decidiram salvar a vida da Sandra.

Eu me virei e, assim que saí do escritório, dei de cara com o Marco. Ele estava saindo do quarto da Sandra, estava sem camiseta e seu peito estava cheio de arranhões recentes.

O ar ficou impregnado com o perfume de rosas da Sandra – Um aroma enjoativo, uma mistura de doce e podridão. Um cheiro de sexo, de uma transa desesperada e frenética, apenas para escapar das garras do Padrinho. Eu cobri o meu nariz com nojo e tentei sair dali o mais rápido possível, mas Marco me bloqueou, olhando com aquela cara besta cheia de um senso de justiça.

— Odessa, eu sei que você está com ciúmes, mas eu precisava me casar com a Sandra. O único jeito de salvá-la e mantê-la longe das garras daquele monstro, era ela se tornando uma mulher casada. A Sandra é tão inocente, ela com certeza iria morrer nas mãos do Padrinho.

Eu deixei uma risada amarga escapar. Levantei minha mão direita, mostrando como ela tremia descontrolada.

— A Sandra, inocente? Ela está com medo de morrer? E quanto a mim, Marco? Eu devo simplesmente aceitar e morrer?

Nós estávamos noivos há três anos, mas desde que voltei da Suíça com a mão assim, tudo que recebi dele foi desprezo e desconfiança. O casamento foi adiado tantas vezes e agora, para salvar a vida daquela ladra, ele me largou como se eu não fosse nada.

Por um momento, ele pareceu sentir culpa, mas ela desapareceu no segundo seguinte, dando lugar a um sentimento de raiva, que o fez agarrar o meu pulso:

— Odessa! Se você se comportar direitinho, eu posso até conseguir um "contrato de proteção particular" e te coloco na ala oeste da propriedade Bianchi. Eu posso te dar dinheiro, proteção e você não vai ter que se casar com aquele monstro!

Ele se aproximou.

— Não se preocupe. Você pode não ter o título de esposa, mas irei te tratar com o mesmo carinho que trato a Sandra.

Eu apenas ri, enquanto meu estômago revirava.

Na linguagem mafiosa, um "acordo de proteção" é apenas um eufemismo para amante. A posição mais baixa das posições baixas, eu seria propriedade dele, seria o brinquedo dele. Sem dignidade e liberdade. Seria obrigada a assistir ele e minha irmã brincando de casinha, enquanto meu corpo seria usado apenas como um objeto de prazer.

Eu fiquei enojada e puxei minha mão para perto:

— Eu prefiro morrer a ser um brinquedo nas mãos de vocês dois, seu doente de merda!

Ele fechou o rosto, desfazendo totalmente aquela máscara falsa de bondade:

— Quem você pensa que engana com esse ar de superioridade? Sua reputação é mais importante do que estar comigo? Você acha que eu não sei sobre as coisas imundas que você fez na Suíça?

— Ah, é assim? Então por que você não fez a Sandra assinar esse contrato de amante? Isso a salvaria também! O Moretti nunca aceitaria uma amante como sua esposa.

— E como é que ela seria uma amante?! — Ele disparou. — Ela é uma designer renomada! Um anjo puro, que nasceu para ser cuidada e mimada. Ela não aguentaria passar por esse tipo de coisa.

Anos de sofrimento vieram à tona, queimando em meus olhos. Eu aguentei uma explosão por ele, arruinei minha mão e passei por quatro cirurgias agonizantes na Suíça. Mas então, só porque ela consegue chorar e se fazer de coitadinha, eu preciso ser a durona? Eu preciso ser aquela que se sacrifica?

Segurando as lágrimas, eu respondi em tom de deboche:

— Então, fique com o seu anjinho. Só espero que você não chore como uma criancinha, quando descobrir toda a verdade.

Com o rosto vermelho de raiva ele disse:

— Não seja ridícula! Quem é que vai querer alguma coisa com uma vadia aleijada como você? Daqui a três dias, quando aquele monstro se cansar, não quero nem saber de você se rastejando e pedindo pela minha ajuda!

Assim que ele saiu, eu cambaleei de volta até meu quarto. Em cima da cama, havia uma caixa de veludo preta, enviada pela família Moretti. Ao abrir, senti minhas mãos tremendo e um nó pesado na garganta.

Dentro da caixa havia um colar, uma réplica perfeita d'As Lágrimas da Medusa dos meus esboços originais. Cada detalhe, cada pedra, tudo estava minimamente perfeito! Na verdade, eles até consertaram uma pequena imperfeição dos meus esboços, uma parte que ficou tremida, devido a minha mão.

Ao lado do colar, havia também um pequeno pedaço de papel. Uma confirmação de consulta no Hospital Universitário de Zurique, com o médico responsável Dr. Weber.

O Dr. Weber é o melhor neurocirurgião do mundo. O mais difícil de conseguir uma consulta e o único que conseguiria curar danos nervosos irreversíveis como os meus.

Minhas mãos começaram a tremer violentamente.

Aquele que todos chamavam de monstro, o demônio que matava seus inimigos sem dó... Se importava mais com a minha mão, do que aquele noivo que um dia eu já salvei a vida.

Talvez me casar com Jude Moretti, seja a minha única saída.
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