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Capítulo 2

Author: Algodão
Um carro preto bloqueou o caminho à frente. O vidro se abaixou, revelando metade do rosto de um homem. Para Talita, aquele rosto era familiar.

Bruno falou com frieza:

— Por esse caminho você não vai conseguir chegar à casa dos Fortuna. Vai voltar a pé?

Talita o olhou, sem saber o que responder por um instante. A verdade era que ela só queria sair do perímetro da prisão e então procurar um ônibus para ir embora.

— Nesses três anos, a Cidade Maremor mudou muito, você não vai conseguir voltar sozinha. Eu estou indo para a sua casa.

Talita não entendeu de imediato. "Ele está sugerindo que eu devia pegar carona com ele?"

Ela ficou meio atônita. Bruno estava mais maduro, mais contido, não era mais o jovem rebelde de três anos atrás. Por um momento, ela se perdeu nas lembranças e não respondeu.

Mas Bruno perdeu a paciência. Ele saiu do carro com expressão fechada, parou bem na frente dela e disse:

— Entra no carro, eu te levo. Vai ficar aqui parada até quando?

As palavras de Bruno deixaram Talita em silêncio. Ela não sabia por que ele estava ali, e nem queria saber. Mas, ao lembrar do avô, se virou e entrou no carro.

Lá dentro, o aroma era frio e desconhecido, o que a deixou um tanto nostálgica. Ela já havia andado naquele carro antes, mas naquela época, ele sempre tinha balas preparadas lá dentro, o cheiro era doce, aconchegante, e as balas eram para ela. Por causa deles, Talita acreditava que Bruno tinha sentimentos especiais por ela. Ficava feliz com a ideia de que eles estavam juntos porque gostavam um do outro de verdade, e não por um mero acordo de noivado que o avô arranjou.

Bem, assim foi, até ela ouvir com os próprios ouvidos Bruno dizendo aos amigos, com desprezo:

— São só umas balinhas baratas e ela já se derrete toda. Só dou por pena, é só por caridade. Esse noivado é só uma piada entre os mais velhos das duas famílias. Aliás, a família Fortuna não tem só uma filha.

Todos ao redor concordaram. Disseram que Milena, criada com educação de família rica desde pequena, era muito mais adequada para Bruno. E quanto a Talita? Para ele, era só um passatempo, uma distração, um brinquedo a qual ele dava atenção por pena.

Talita se recordou de que, diferente das balas que ela recebia, os presentes que Bruno dava a Milena eram sempre diferentes. Finalmente, tudo fazia sentido. Era fácil ver com quem ele realmente se importava.

Ela não gostava de forçar nada, mesmo que aquele noivado fosse originalmente dela. Talita tinha pedido ao avô para cancelar o noivado. O avô a amava muito, ele pensou que a netinha havia sofrido alguma injustiça e quis ir confrontar Bruno. Talita o impediu, implorando que ele aceitasse aquele pedido dela. O velhinho aceitou.

Mas antes que o noivado fosse oficialmente desfeito, ela foi enviada para a prisão no lugar de Milena.

Foi então que ela finalmente entendeu: para todos eles, ela era apenas algo dispensável.

Na verdade, tirando o avô, ninguém na família Fortuna a queria ali, e o Bruno também a desprezava. Sua presença era como a de uma intrusa, que bagunçava a harmonia da família.

Eles não diziam em palavras, mas suas atitudes deixavam claro o repúdio.

Mas... Que culpa ela tinha?

Desde pequena, lutava pela sobrevivência no orfanato, e mesmo depois de ser adotada, vivia com extremo cuidado. Ela acreditava que os pais a amavam de verdade, a ponto de procurá-la com tanto esforço, mas a realidade a golpeou duramente.

Eles já tinham uma filha adotiva que amavam e mimavam profundamente. E ela, que cresceu no meio da lama, era desprezada, rejeitada. Se não fosse pela ligação de sangue, sequer a teriam aceitado.

Na época, apenas Bruno parecia se importar com sua tristeza, oferecendo balas para animá-la. Ele foi como uma luz para ela, só que aquela luz brilhou por um tempo curto demais e logo se apagou.

Três anos de prisão foram suficientes para que ela pagasse pela dívida de ter nascido na família Fortuna. Aquele laço de sangue, ela não queria mais.

E quanto a Bruno? Ela também não queria mais.

O carro entrou na mansão da família Fortuna. Ao estacionar, uma garota vestida com um vestido branco correu até eles. Seu rostinho claro e delicado estava iluminado por um sorriso alegre.

— Bru, por que demorou tanto? Eu e o Igor já estávamos te esperando faz tempo.

Igor apareceu logo atrás, colocando seu casaco sobre os ombros dela com todo cuidado.

O sorriso de Milena desapareceu ao ver Talita saindo do carro. Como se tivesse sido profundamente magoada, os olhos ficaram avermelhados e se encheram de lágrimas.

— Talita? O que você está fazendo no carro do Bruno?

Bruno imediatamente franziu o cenho com aparente insatisfação, questionando:

— Encontrei ela no caminho. Você não mandou ninguém buscar ela?

A pergunta deixou Igor em silêncio. Como ele explicaria que foi até lá, mas ficou tão irritado com a atitude de Talita que a deixou para trás?

Milena falou com voz suave:

— Deve ter sido um descuido do irmão... Mana, por que você não ligou para casa? Ainda bem que o Bru te encontrou.

Qualquer um que ouvisse pensaria que Milena era gentil e de bom coração.

Talita também acreditava nisso quando voltou para a família Fortuna. Mas depois de tantas armações, ela viu com clareza que certas pessoas sabiam muito bem disfarçar sua verdadeira natureza, sempre parecendo frágeis, compreensivas, doces. A família Fortuna caía perfeitamente naquela farsa. Para eles, Milena era a filha e irmã ideal.

— Mana, que bom que você voltou. Eu, papai, mamãe e os irmãos estamos todos muito felizes por isso. — Disse Milena com um sorriso deslumbrante. O olhar de Igor para Milena era cheio de carinho.

Se a família Fortuna estava feliz ou não, Talita não sabia, e nem se importava. Ela só se importava com o avô. Ele, sim, ficaria verdadeiramente feliz em vê-la.

O coração de Talita se encheu de expectativa.

— Talita, a Milena está falando com você. Não ouviu? — Igor a repreendeu duramente, olhando para ela como se fosse uma inimiga.

Milena mordeu o lábio e puxou Igor pelo braço, murmurando:

— Igor, não precisa ser assim, a Tali nunca gostou de mim mesmo... Ela me ignorar já virou normal, eu já estou acostumada.

Isso deixou Igor ainda mais irritado, e ele gritou com Talita:

— A Milena não te deve nada!

Talita apenas achou aquilo tudo ridículo, retrucando:

— Ela não me deve nada, e eu devo algo a ela, por acaso?
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