A relação entre ela e Mateus passou por uma transformação completa. Não se sabia exatamente quando começou, mas Inês deixou de ser a irmã intimidada para se tornar quem dava as ordens. Qualquer desentendimento era motivo para ela partir para cima de Mateus com beliscões e socos. Ele, por sua vez, nunca revidava, limitando-se a rir e a pedir desculpas, sempre com um tom brincalhão. Mais tarde, Inês foi aprovada na Universidade de Cidade J. No primeiro ano da faculdade, ela conheceu Percival por acaso em um restaurante fora do campus. Percival tinha uma aparência tão marcante que Inês praticamente se apaixonou à primeira vista. Depois de perguntar e descobrir que ele estudava na faculdade de Direito ao lado, no dia seguinte, ela foi até lá e se declarou para ele. Infelizmente, Percival a rejeitou. Apesar da recusa, Inês não ficou muito abalada. Permitiu-se sentir um breve momento de tristeza, mas logo seguiu em frente. Afinal, ela era linda, vinha de uma família rica e tinh
Naquela época, Mateus já tinha dezoito anos e estava no terceiro ano do ensino médio. Com os estudos cada vez mais exigentes, ele não tinha mais tempo nem energia para gastar provocando a irmã. Na verdade, fazia muito tempo que ele não mexia com Inês. O prédio do ensino médio ficava bem próximo ao do ensino fundamental. Naquele dia, depois das aulas, Mateus foi até uma livraria do lado de fora da escola com alguns amigos para comprar materiais de apoio. Quando saíram, ele ouviu o som de um choro vindo de um beco próximo. Ele foi até lá para ver o que estava acontecendo, e, para sua surpresa, a vítima do bullying era justamente quem ele menos esperava: sua irmã caçula, Inês. Naquele instante, uma onda de raiva subiu à sua cabeça como fogo. Mateus ficou furioso. Como alguém ousava intimidar a irmã dele? As agressoras eram apenas adolescentes do ensino fundamental, todas menores de idade. Mesmo com a polícia envolvida, o máximo que poderiam enfrentar seria uma advertência. Mateu
Félix era um homem muito ocupado e raramente estava em casa. No início, toda vez que Inês era maltratada por Mateus, ela corria para Michele, sua mãe, chorando e pedindo ajuda. No entanto, Michele, sendo uma madrasta, sentia que não tinha autoridade para disciplinar Mateus. Para evitar conflitos familiares, Michele escolheu ignorar a situação. Ela nunca contou a Félix sobre as atitudes de Mateus em relação a Inês. Com a conivência da madrasta, Mateus ficou ainda mais confiante em suas ações. A pobre Inês, constantemente intimidada e sem receber apoio da mãe, tornou-se uma menina introvertida e silenciosa. Essa personalidade retraída fez com que, ao chegar no ensino fundamental, ela se tornasse alvo de bullying por colegas da escola que não se interessavam pelos estudos e passavam os dias apenas causando problemas. Como suas reclamações anteriores com Michele nunca tinham surtido efeito, Inês passou a acreditar, inconscientemente, que ninguém a ajudaria. Nem professores, nem p
Inês tinha apenas nove anos quando viu Mateus pela primeira vez. A mãe dela, Michele, segurava sua pequena mão enquanto dizia, com um sorriso afetuoso: — Esse é o seu irmão. Chame-o de irmão. A garotinha ergueu o rostinho e olhou para o adolescente à sua frente, que era muito mais alto do que ela. Depois de hesitar por um momento, ela apertou os lábios e, obediente, chamou: — Oi, irmão. Mas o adolescente não pareceu gostar. Pelo contrário, o olhar que ele lançou para Inês estava cheio de desprezo e irritação. Ele bufou e disse, com uma voz fria: — Não me chame disso. Quem é seu irmão? Inês, surpresa e magoada, olhou para Michele com os olhos marejados. — Mamãe, o irmão não gosta de mim. Michele tentou disfarçar o constrangimento com um sorriso sem graça, mas não conseguiu esconder sua apreensão. Félix, o pai de Mateus, lançou um olhar severo para o filho. — Mateus, essa é Inês, sua irmã. Agora somos uma família. — Eu não quero essa irmã! — Mateus gritou. Ele aga
Gabriel não negou. — É verdade. Helena levantou os olhos e o encarou. O olhar de Gabriel vacilou por um instante. Ele perguntou, com a voz baixa, quase hesitante: — Helena, você me culpa? — Culpar pelo quê? — Por ter destruído sua relação com o Leonardo. Por ter separado vocês dois. Helena, com passos lentos, caminhou em direção a Gabriel. O olhar dele permaneceu fixo nela, enquanto suas mãos, pendendo ao lado do corpo, se fechavam aos poucos, refletindo sua tensão. Gabriel estava nervoso. Ele temia que, ao saber de tudo o que ele havia feito no passado, Helena o culpasse. Ele sabia que suas ações não tinham sido as mais corretas, que haviam beirado o imoral. Quando Helena parou à sua frente, ela levantou o rosto e fixou os olhos nos dele, sem desviar por um segundo. — Gabriel. — Ela chamou o nome dele suavemente, com uma doçura que contrastava com a seriedade do momento. Gabriel respondeu imediatamente, como se cada fibra do seu ser estivesse atenta a ela: — E
O casamento de Helena foi planejado durante dois meses, e a data ficou marcada para o final de outubro. Dois dias antes da cerimônia, Helena recebeu uma ligação de um número desconhecido. Nos últimos dias, com os preparativos a todo vapor, ela vinha recebendo diversas chamadas de felicitações. Algumas eram de colegas de estudo, outras de parentes da família Almeida ou da família Santos, e até mesmo de familiares da família Costa. Por isso, quando viu o número desconhecido, Helena atendeu com naturalidade e educação. — Alô? Quem fala? Ela esperava ouvir mais uma voz amigável a parabenizá-la, mas, para sua surpresa, a voz do outro lado da linha era de Leonardo. Com um tom rouco e carregado de amargura, ele disse: — Helena, ouvi dizer que você vai se casar. Helena reconheceu a voz imediatamente. Sua expressão endureceu, e sua fala assumiu um tom frio. — Sim. Se você ligou para me parabenizar, agradeço. Mas, se está aqui para criar problemas, então... Antes que ela pude