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Capítulo 4

Author: Aurora Mendes
Claramente, ele se esqueceu de bloqueá-la daquela postagem.

O olhar de Isadora ficou mais frio, sem qualquer traço de emoção.

A joia que enviou ontem já estava substituída por uma nova nas mãos de Tereza. A rapidez impressionava.

Mas, claro, isso fazia sentido. Tereza era a pessoa que Olavo mais prezava.

Isadora soltou um riso curto.

Quando ia fechar o celular, uma mensagem apareceu na tela:

[Isadora, volto ao país em dez dias.]

A foto de perfil era preta.

As iniciais no nome eram ‘RA’.

Alguém que estava há anos na lista de contatos.

Seis anos, para ser exata, sem qualquer comunicação entre eles.

Isadora sentiu a respiração pesar, mas não respondeu.

...

Eram 16h20 quando Olavo finalmente conseguiu sair de uma reunião exaustiva. Só lembrou que precisava buscar Aline na escola quando Daniel o lembrou.

Sem perder tempo, entrou no carro executivo e partiu para o jardim de infância.

Olavo massageou as têmporas cansadas e disse, com a voz baixa e firme:

— Acelera.

O motorista assentiu em silêncio:

— Sim, senhor.

O plano de Olavo era buscar Aline e levá-la para Isadora, antes de seguir para a casa de Tereza.

Mas, nesse instante, o telefone vibrou, rompendo o silêncio do carro.

Era Tereza.

Olavo hesitou por um segundo e atendeu.

A voz do outro lado tremia, embargada de choro:

— Olavo... O Nino... não está bem. Tá babando, o veterinário disse que a doença dele já está avançada... Dessa vez, talvez ele não consiga...

Nino era o cachorro que Olavo tinha dado de presente para Tereza em um de seus aniversários.

Desde que se separaram, ele foi sua companhia constante, ajudando-a a superar a depressão. Para Tereza, aquele cachorro era como um filho deles.

Olavo ficou em silêncio por um instante, depois respondeu, em um tom tranquilo:

— Não se assusta, depois vou lá.

A voz dela tremia ainda mais. Ela estava chorando:

— Não... por favor, vem logo. Tenho medo que ele não vai sobreviver...

Ela quase se desfez em lágrimas ao dizer isso.

O olhar de Olavo se estreitou. Enquanto ouvia Tereza chorar, outra imagem veio à sua mente. Um par de olhinhos ansiosos, esperando por ele na porta da escola...

No fim, a preocupação por Tereza falou mais alto.

Ela precisava dele.

— Tudo bem, estou indo agora.

Assim que desligou, disse ao motorista:

— Muda a rota. Vai para a Clínica Vita.

O motorista hesitou, mas logo assentiu:

— Certo, senhor.

Olavo pegou o celular e mandou uma mensagem para Daniel, pedindo que ele buscasse Aline.

Então, largou o telefone ao lado, desviando o olhar do pequeno bolo de morango que Daniel preparou especialmente para Aline.

Fechou os olhos. Não queria mais olhar para aquilo.

...

Aline viu a chuva começar a cair. O vento frio cortava seu rosto, deixando sua pele pálida.

Todas as crianças da sua turma já tinham sido buscadas.

Até a última menina a ir embora olhou para ela, curiosa:

— Aline, você não disse que seu pai vinha te buscar hoje...?

Um menino riu e zombou:

— Ela só inventa história! Ela não pai tem, e você ainda acredita?

O peito pequeno de Aline apertou.

Queria responder. Queria dizer que tinha, sim, um pai.

Mas... Como provar?

Os pais dos outros iam nas reuniões escolares, nos eventos da escola... e o pai dela, nunca.

O menino mal acabou de falar e já levou uma tapinha na cabeça do próprio pai:

— Fala menos bobagem. Desculpa, professora.

E puxou o garoto para ir embora.

A professora se abaixou e perguntou, gentilmente:

— Aline, seu pai não vem hoje?

Ela queria dizer que ele vinha. Mas talvez fosse sua culpa... talvez estivesse atrapalhando seu pai.

Forçou um sorriso:

— A mamãe vem me buscar.

— Tudo bem, vou ligar para ela então.

Aline segurou as lágrimas:

— Obrigada, professora.

Quando Isadora chegou à escola, já chovia forte. O vento cortante e a água intensa dificultavam até mesmo abrir os olhos.

Correu, quase sem fôlego, e então viu Aline, encolhidinha em um canto, tremendo de frio.

Naquele instante, Isadora sentiu como se uma lâmina atravessasse seu coração.

Ainda conseguia ouvir a voz animada da filha dizendo que hoje o pai viria buscá-la.

O sangue subiu à cabeça, ela sentiu um gosto amargo na garganta.

Mas limpou as lágrimas dos olhos e forçou um sorriso:

— Aline!

Aline ergueu o rostinho pálido.

No momento em que viu Isadora, todo o sofrimento se desfez.

Ela correu até a mãe e, com a voz fraquinha e suave, chamou:

— Mamãe...

Era tão pequena, tão frágil.

Não perguntou nada, não reclamou.

Apenas chamou pela mãe.

Isadora se arrependeu.

Se não tivesse insistido tanto em ficar com Olavo, talvez Aline tivesse nascido em uma família que a amasse. Um pai que a protegesse, e uma mãe que cuidasse dela.

Apertou a filha contra o peito:

— Estou aqui. Vamos para casa, querida. Não chora.

Aline assentiu, mas lágrimas rolaram silenciosamente.

Ao chegar em casa, Aline começou a sentir febre.

Isadora tocou o rostinho quente da filha e sentiu uma dor sufocante no peito.

Então, seu telefone tocou.

Era Daniel.

Após cobrir Aline com o edredom, saiu do quarto para atender.

A voz do outro lado veio carregada de desculpas:

— Me perdoe, Sra. Isadora. O Sr. Olavo me pediu para buscar a Aline, mas estava atolado de trabalho e não vi a mensagem na hora. Quando cheguei na escola, a professora disse que você já tinha levado ela...

Isadora não queria ouvir desculpas, seu olhar se tornou frio:

— Cadê ele?

A voz saiu calma, mas com um tom gélido.

Daniel ficou mudo por um segundo.

Isadora continuou:

— Daniel, acho que, como esposa de Olavo, tenho o direito de saber onde ele está.

Daniel hesitou, depois respondeu:

— A Srta. Tereza ligou chorando... o cachorro dela adoeceu, então o Sr. Olavo foi...

Isadora ficou impassível.

Sua filha valia menos que o cachorro de outra.

Que ironia.

O gosto amargo voltou à sua garganta.

— Mamãe...

Ela se virou e viu Aline saindo do quarto, cambaleando, com um sorriso forçado no rosto pálido.

— Mamãe, não fica brava com o papai...

— Sei que ele não fez por mal...

— Ele tem muitas coisas para cuidar... entendo.

Naquele momento, o coração de Isadora se partiu.

Aline tossiu forte e correu para abraçá-la:

— Mamãe, só quero que você fique feliz...

Os olhos de Isadora se encheram de lágrimas.
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Comments (1)
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Márcia Silva Barbosa
eu não sacrificaria um filho jamais
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