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Capítulo 5

Author: Aurora Mendes
Aline tossiu forte mais uma vez.

Dessa vez, nem conseguiu se segurar e caiu de joelhos no chão. Seu corpinho frágil se curvou e, num instante, cuspiu uma porção de sangue.

A voz de Isadora tremeu, e correu para a filha:

— Aline!

O rostinho de Aline estava vermelho de febre, mas seus lábios estavam assustadoramente pálidos:

— Estou bem, mamãe...

Isadora não pensou duas vezes e a pegou nos braços:

— Vou te levar para o hospital.

Aline agarrou a blusa da mãe com suas mãozinhas, os olhos já completamente vermelhos.

Isadora correu para o hospital e, depois que os médicos fizeram um exame de sangue, elas ficaram esperando o resultado no corredor.

A voz fraquinha da Aline expôs toda sua fragilidade:

— Mamãe... o papai me odeia?

Naquele instante, Isadora ficou sem palavras.

Ela queria tanto dizer para a filha:

— Aline... seu pai não odeia você, ele odeia a mim.

— Se você fosse filha da Tereza... com certeza seria feliz.

Mas ela mentiu mais uma vez, engoliu o choro e balançou a cabeça:

— Não, Aline. O papai não te odeia, ele só está muito ocupado...

Aline sorriu de leve, seu rostinho pálido parecia ainda mais frágil. Com sua mãozinha, acariciou os cabelos de Isadora:

— A mamãe vai ficar feliz.

Essas palavras quase fizeram as lágrimas de Isadora caírem, mas ela precisava se segurar.

Forçou um sorriso pior que o choro.

— Doutor!

Uma voz fria e cortante ecoou pelo corredor.

Isadora congelou.

Ela e Aline levantaram a cabeça ao mesmo tempo e, então, viram Olavo, que deveria estar ocupado no trabalho. Mas ali estava ele, no hospital, carregando outra mulher nos braços.

Era Tereza.

Aline chamou por ele sem pensar:

— Papai!

Os olhos de Olavo captaram o chamado, e ele olhou em direção às duas. Ficou surpreso ao vê-las.

Naquele momento, Tereza também percebeu a presença delas.

Então, agarrou o braço de Olavo e disse, com uma expressão de dor:

— Olavo... está doendo...

A lucidez voltou a ele por um momento:

— O doutor já está chegando.

Logo em seguida, o médico apareceu às pressas.

Olavo desviou o olhar, trocou algumas palavras com o médico e saiu sem hesitação, acompanhando-o.

Aline viu Olavo indo embora e ficou atordoada:

— Mamãe... por que o papai estava carregando aquela senhora?

O peito de Isadora se apertou como se alguém tivesse pisado forte nele. Prendeu a respiração e forçou um sorriso:

— Deve ser uma colega do trabalho dele que se machucou.

Aline piscou, confusa:

— É mesmo? Mas também estamos no hospital... por que ele se preocupa com os outros, mas não conosco?

Naquele momento, Isadora percebeu: não importava quantas mentiras contasse... a verdade sempre viria à tona.

Afinal, se até uma criança conseguia perceber, significava que a preferência de Olavo era escancarada.

Os olhos de Isadora ficaram vermelhos, tentou responder com calma:

— Talvez a senhora esteja mais machucada...

Aline ficou em silêncio.

E quanto mais ficava calada, mais Isadora se sentia inquieta.

Uma hora depois, quando foram buscar o resultado do exame, deram de cara com Olavo. E Tereza, agora estava sentada em uma cadeira de rodas.

Isadora parou no meio do caminho, sentindo um aperto sufocante no peito.

Naquele instante, sentiu um arrependimento profundo por conhecer Olavo.

Ela podia aceitar a humilhação de nunca ter sido amada por ele, mas não aceitava que sua filha passasse pela mesma dor.

Aline chamou baixinho:

— Papai...

Olavo e Tereza olharam ao mesmo tempo.

O rosto dele mudou de expressão, mas sua voz se manteve fria:

— Aline.

Ela desviou o olhar para Tereza:

— Papai... quem é essa senhora?

Os traços firmes de Olavo ficaram ligeiramente tensos, ele hesitou um pouco antes de responder: — Ela é...

Antes que ele terminasse, Tereza segurou a mão dele e sorriu gentilmente:

— Pequena, sou... amiga do seu pai.

Ao dizer isso, seu rosto ficou ainda mais pálido, e sua voz trêmula parecia carregada de sofrimento.

Que cena comovente.

Até mesmo Isadora sentiu uma pontada no coração ao vê-la assim.

Olavo ficou sério, e sua voz saiu grave:

— Aline, essa é a namorada do papai.

Aquelas palavras caíram sobre Isadora como uma lâmina afiada.

Ela não demonstrou nenhuma reação exagerada. Afinal, já esperava por isso.

Como esperado, ele nunca permitiria que Tereza passasse por um único desconforto.

Então, Isadora sorriu, como se nada tivesse acontecido:

— Aline, essa é a Sra. Tereza, namorada do seu pai.

O rostinho da menina ficou ainda mais pálido.

Isadora se abaixou, alisando suavemente a bochecha da filha:

— Querida, tem algo que ainda não te contei. O seu pai e eu já não estamos mais juntos... mas, não importa quanto tempo passe, ele sempre será seu pai, e eu sempre serei sua mãe.

Olavo achava que Isadora tinha levado a filha até ali só para criar confusão. Afinal, ela já tinha aprontado de tudo no passado.

Foi por isso que, ao apresentar Tereza como sua namorada, ele quis provocá-la.

Mas não esperava que Isadora dissesse tudo assim, sem hesitar.

Ele estava enganado?

Aline ficou atordoada, mas, acima de tudo, triste:

— E a mamãe?

Isadora hesitou.

Aline começou a chorar, as lágrimas rolando sem parar:

— Tenho papai e mamãe... mas, mamãe, e você? Você não tem ninguém...

Naquele momento, Isadora sentiu como se seu coração tivesse sido esmagado, e foi a própria filha que o juntou de volta, pedacinho por pedacinho.

Sim... Ela já não tinha mais ninguém.

E agora, estava prestes a perder sua filha também.

Ela estava sozinha no mundo.

Mas forçou um sorriso e bagunçou os cabelos da Aline:

— Tenho você. Agora, cumprimente a Sra. Tereza.

O peito da Aline estava sufocado de tanta amargura, mas mamãe ensinou que ela precisava ser educada.

Engolindo o choro, ela olhou para o pai segurando a mão de outra mulher e forçou um sorriso:

— Olá, Sra. Tereza...

O rosto da Tereza se contraiu levemente, mas como Olavo estava ao lado, ela apenas sorriu sem graça:

— Olá, Aline.

Olavo ficou observando.

Aline não disse mais nada e voltou para o lado da mãe. Isadora também não olhou mais para eles.

Era uma cena harmoniosa...

Mas por que ele se sentia tão incomodado?

Nesse momento, Daniel chegou com os papéis da internação.

Isadora entregou a filha para ele e olhou para Olavo:

— Podemos conversar?

Olavo franziu o cenho, impaciente, já recusando antes mesmo de ouvir:

— Diante da filha, vai fazer um escândalo de novo?
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