MasukEu não conseguia entender como o coração de Augusto podia ser tão frio.Ele me separou da minha filha por tantos anos. Ele me viu despedaçada, no fundo do poço, e ainda assim manteve essa mentira até agora.Saí da enfermaria apressada, apoiando-me contra a parede gelada do corredor, enquanto tentava respirar. Meu peito parecia comprimido por uma pedra enorme, e cada respiração que eu dava vinha acompanhada de uma dor surda.Natália veio atrás de mim com passos rápidos, preocupada.— Débora, você está pálida! O que aconteceu?Eu olhei de relance para a porta do quarto que acabara de deixar. Minha garganta apertou, e minha voz saiu trêmula:— Minha filha... Minha filha pode nunca ter morrido. Laís é a minha filha!Natália ficou chocada. Ela me encarou, incrédula.— Débora, você sabe o que está dizendo?Minha voz tremia, mas cada palavra saiu clara como cristal:— Ela é alérgica a abacaxi...Natália tentou ser racional.— Débora, eu sei o quanto perder seus dois filhos com Augusto foi dev
Eu também senti um alívio ao ver que Natália estava mais calma.— O médico já disse o que causou a alergia? — Perguntei.Natália respondeu:— Ainda estão investigando. Ele disse que só mais tarde terão o resultado.Ela suspirou, visivelmente frustrada, e continuou:— Apesar de o médico ter garantido que a Laís vai ficar bem depois de terminar o soro, eu só consigo pensar em uma coisa: se essa menina contar para o Augusto o que aconteceu, ele vai acabar derrubando o jardim de infância inteiro!— Vamos entrar e ver como ela está, então. — Sugeri.Entramos juntas no quarto.Laís já estava acordada, mas a reação alérgica parecia ter sido grave. Seus lábios e rosto ainda estavam pálidos. Quando ela me viu ali, piscou os olhos, surpresa:— Débora? O que você está fazendo aqui?— Ouvi dizer que você teve uma alergia, então vim te ver. — Respondi, tentando me manter casual. — Me diz uma coisa, quem vai te buscar hoje à noite? Sua avó ou sua mãe?Laís fez um biquinho, claramente chateada:— Min
Por causa das várias tentativas frustradas de Augusto em fazer um penteado na filha, Laís quase se atrasou para o jardim de infância. Olhando para o cabelo todo bagunçado dela, eu simplesmente não consegui suportar e decidi ajudar.Quando Laís viu Mônica chegar, chamou-a de “mamãe”, mas sua atenção estava completamente voltada para o novo penteado que eu tinha feito.Laís olhou para o espelho, admirando a trança que eu tinha trançado, e parecia extremamente feliz. Já o rosto de Mônica estava sombrio, como se ela tivesse mordido limão.Foi só então que eu percebi. Provavelmente, Mônica tinha planejado deixar a filha aqui para me provocar. Mas, em questão de dias, eu tinha ensinado Laís a fazer bolo, penteado seu cabelo, e, para piorar, a menina parecia estar gostando disso tudo.Mônica provavelmente estava se sentindo ameaçada.Aquela manhã, ela chegou com uma mala de viagem. Provavelmente, tinha acabado de descer do avião e vindo direto para cá.Augusto, ao vê-la, perguntou:— Você não
Laís pegou o batedor com cuidado, ficando na ponta dos pés para alcançar a mesa. O rostinho, que normalmente exibia um ar de superioridade, agora estava cheio de concentração. Naquele momento, a seriedade dela tinha algo de inesperadamente fofo.De vez em quando, um pouco de creme de leite espirrava para fora da tigela, e Laís, meio sem graça, colocava a língua para fora como se pedisse desculpas.Foi então que eu senti um olhar intenso vindo de trás de mim.Augusto, que desde que voltamos estava concentrado em seus documentos, havia parado de trabalhar e estava parado na porta da cozinha, recostado no batente, observando a cena com atenção.O som de uma notificação do WhatsApp quebrou o silêncio. Era uma chamada de vídeo de Mônica.Augusto atendeu, e logo a voz doce e melosa de Mônica ecoou pelo celular:— Augusto, que saudade de você e da Laís! Soube pela sua mãe que a Laís está aí com você. Posso vê-la?— Uhum. — Respondeu Augusto enquanto se aproximava de Laís com o celular. — Vem,
Nesse momento, o celular de Augusto tocou de repente. Era sua filha quem estava ligando.Com essa interrupção, ele perdeu o interesse em insistir para ver meu notebook e, com um tom de voz suave, atendeu:— Laís, já saiu da escola?Eu conseguia ouvir vagamente a voz de uma garotinha do outro lado da linha, cheia de petição:— Papai, você pode vir me buscar hoje? Eu não quero voltar pra casa com a vovó.Augusto hesitou por um momento e perguntou:— Por quê?— A vovó é muito chata, vive reclamando de tudo e me dá bronca o tempo todo. — Respondeu Laís, com a voz cheia de mágoa. — Papai, você é o melhor! Eu quero ficar com você.A voz de Augusto ficou ainda mais gentil:— Tá bom, eu já estou indo te buscar.Assim que desligou o telefone, ele chamou o motorista para esperar por ele lá embaixo e foi direto para o quarto trocar de roupa. Mesmo com os curativos ainda cobrindo o corpo, nada parecia capaz de impedir Augusto de ir atrás da filha.Eu o observei, percebendo que até para vestir uma
Augusto massageou levemente as têmporas enquanto dizia:— Ela é minha esposa. O que é meu também é dela. O que são mais uns dez milhões?— Mas vocês não vão se divorciar? — Fabiana rebateu, rangendo os dentes de raiva. — Ela está tentando arrancar mais dinheiro de você antes disso! Eu já falei, essa mulher só grudou em você por causa do dinheiro!O rosto de Augusto refletia um certo cansaço, e ele respondeu com impaciência:— Mãe, o médico disse que eu preciso de repouso. Toda vez que a senhora aparece aqui, vem fazendo escândalo.Fabiana ficou visivelmente constrangida, mas a raiva superava qualquer vergonha. Ela balançou a cabeça, exasperada, e disse:— Ótimo! Ótimo! Não me meto mais! Pode deixar que essa vagabunda cozinhe para você. Quando ela te envenenar, aí você vai perceber que eu só queria o seu bem!Fabiana saiu batendo os pés, e o quarto foi tomado por um silêncio instantâneo.Eu achei que Augusto fosse comer a comida que a mãe dele trouxe, então, sem pensar duas vezes, pegue






