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Uma nevasca deixou toda a nossa família presa no topo da montanha. O helicóptero de resgate demorou para chegar.Quando finalmente chegou a minha vez e a da minha irmã gêmea, Ana, o helicóptero só podia levar mais uma pessoa.Com câncer terminal, eu pretendia ceder a vaga para Ana.Mas antes que eu abrisse a boca, Ana começou a reclamar de tontura.Nossos familiares então seguraram as mãos de Ana e a puxaram para dentro do helicóptero.Meu marido, Heitor, me olhou com um ar de desculpas:— Alice, sua irmã está mais fraca. Vamos levá-la primeiro. Você terá que esperar pelo próximo resgate.Nossa filha, Aurora, jogou uma bola de neve no meu braço fraturado:— A tia Ana precisa de ajuda mais do que você! Não roube o lugar dela!Meus pais me observavam caída fracamente na neve, segurando Ana com força e me pedindo para esperar mais um pouco.Durante toda a minha vida, eles me fizeram ceder, simplesmente porque Ana era mais frágil e precisava de mais amor e proteção.Desta vez não foi difer

Nesse momento, minha melhor amiga Cecília me enviou uma mensagem.[Consegui as imagens de vigilância do helicóptero de resgate. Elas mostram claramente que Ana fingiu um desmaio. Além disso, os registros médicos mostram que ela está perfeitamente saudável.]Pouco depois, as imagens e os relatórios médicos chegaram ao meu celular.Ao ver Ana mostrando a língua no vídeo e os resultados dos exames perfeitamente normais, eu sorri.Respondi a Cecília: [Depois que eu morrer, envie isso para minha família.]Um dia antes da minha morte, doei um rim e uma córnea — para minha irmã, Ana, e minha filha, Aurora.Quando acordei, vi Ana vestindo uma bata de hospital, sentada na cama.Ela estava cercada pelos meus pais e Heitor, fazendo biquinho e exigindo comer naquele famoso restaurante francês no centro da cidade.A cena era idílica, como um retrato de família perfeito.E eu? Eu era a intrusa supérflua e inoportuna.Ao me ver acordada, os olhos de Ana brilharam com triunfo e provocação, e ela disse

Eu morri.Minha alma flutuava no ar, olhando para o humilde hotel no sopé da montanha.Minha querida amiga Cecília estava abraçando meu corpo frio, chorando inconsolavelmente.Ela era meu único calor neste mundo, mas eu não podia lhe responder.Minha consciência voltou para a casa onde eu vivi por trinta e um anos.A casa estava bem iluminada, cheia de risos e alegria.Um grande bolo de três andares estava no centro da sala de estar. Mamãe, papai, Heitor e minha filha Aurora estavam em volta de Ana, comemorando seu trigésimo segundo aniversário.Hoje também era meu aniversário, agora transformado em meu aniversário de morte.— Por que a Alice ainda não voltou? Ela prometeu que nunca perderia meu aniversário.Ana se inclinou nos braços de Heitor, fingindo uma expressão preocupada.Mamãe fez cócegas em seu nariz com um sorriso: — Alice adora ser misteriosa. Não se preocupe com ela. Nossa Ana é a estrela hoje. Faça um pedido.Papai olhou para ela com carinho: — É isso aí, não vamos espe

Depois de falar, ela acenou com a cabeça para as pessoas atrás dela.A enorme tela de projeção ao lado do memorial se iluminou instantaneamente, dando início à reprodução de um vídeo.O cenário mostrava o interior de um helicóptero de resgate.Dentro da imagem, Ana estava encostada na janela, com uma expressão que não demonstrava nenhum desconforto. Ela olhou para mim, parada na neve abaixo, fez uma careta provocadora, mostrando a língua.O funeral inteiro mergulhou em silêncio absoluto.Todos os convidados ficaram de olhos arregalados, incrédulos, alternando o olhar entre a projeção e a figura frágil de Ana, que parecia prestes a desmaiar a qualquer momento.Aquela careta, tão inocente e travessa, contrastava brutalmente com sua aparência atual, cheia de lágrimas e olhos vermelhos, criando uma ironia cruel.— O que... o que está acontecendo aqui?— Ela não foi resgatada primeiro porque estava se sentindo tonta? Por que ela parece perfeitamente bem?Os murmúrios fizeram o rosto de Ana

Ele sempre achou que minha compreensão era algo natural. Só agora ele percebeu que, na verdade, eu estava sacrificando minha própria vida para suportar um bando de chacais.— Aaaaaaaa! — Heitor soltou um grito animalesco e, tomado pela raiva, correu para estrangular aquela mulher cheia de malícia, mas foi imobilizado pela polícia.Quando saiu da delegacia, a noite já havia caído.Heitor caminhava pelas ruas geladas como uma alma perdida.Sem perceber, ele se viu diante da minha lápide.Minha foto na lápide ainda exibia meu sorriso radiante.Ele caiu de joelhos com um baque.A lápide, fria como a morte, parecia refletir a temperatura do meu corpo naquele dia na neve.— Alice... me desculpe...— Me desculpe...Ele repetia as palavras sem parar, chorando amargamente.Após a minha morte, ele finalmente derramou as lágrimas que há muito me devia.Ana foi condenada à pena máxima prevista em lei por tráfico ilegal de órgãos e tentativa de homicídio.O médico também recebeu o seu justo castigo