Só Depois Da Minha Morte

Uma nevasca deixou toda a nossa família presa no topo da montanha. O helicóptero de resgate demorou para chegar.

Quando finalmente chegou a minha vez e a da minha irmã gêmea, Ana, o helicóptero só podia levar mais uma pessoa.

Com câncer terminal, eu pretendia ceder a vaga para Ana.

Mas antes que eu abrisse a boca, Ana começou a reclamar de tontura.

Nossos familiares então seguraram as mãos de Ana e a puxaram para dentro do helicóptero.

Meu marido, Heitor, me olhou com um ar de desculpas:

— Alice, sua irmã está mais fraca. Vamos levá-la primeiro. Você terá que esperar pelo próximo resgate.

Nossa filha, Aurora, jogou uma bola de neve no meu braço fraturado:

— A tia Ana precisa de ajuda mais do que você! Não roube o lugar dela!

Meus pais me observavam caída fracamente na neve, segurando Ana com força e me pedindo para esperar mais um pouco.

Durante toda a minha vida, eles me fizeram ceder, simplesmente porque Ana era mais frágil e precisava de mais amor e proteção.

Desta vez não foi diferente. Diante do meu corpo maltratado, eles ainda favoreciam Ana.

Antes do helicóptero de resgate decolar, Ana, encostada na janela, mostrou a língua para mim e ficou fazendo caretas.

Ela nunca esteve tonta. Era tudo encenação, só para ser resgatada primeiro.

Na nevasca, assisti ao helicóptero de resgate se afastar, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Ana, por que fazer esses jogos? Mesmo que você não tivesse desmaiado, eu ainda teria deixado você ir primeiro.

Temendo preocupá-los, nunca contei que estava em estágio terminal de câncer, com apenas um mês de vida.

No entanto, na hora final da vida, eles ainda escolheram favorecer Ana.

Se é isso que querem… então terão.

Depois de passar um dia congelando na montanha nevada, o helicóptero de resgate finalmente levou meu corpo inconsciente para o hospital.

Minha condição havia piorado; o que deveria ser um mês me deixou agora com apenas três dias.

Para aqueles três dias finais, resolvi dar tudo à minha família, para satisfazer todos.

Depois de tomar a medicação para manter a vida, voltei para casa.

No momento em que abri a porta, vi meus pais em frente ao telefone, fazendo uma videochamada com Ana no hospital. Com rostos cheios de preocupação e carinho.

— Ana, querida, diga à mamãe o que você quer de comer. Vou preparar e mandar para você.

— Não se preocupe, papai vai chegar em breve para fazer companhia para você.

No telefone, Heitor estava dando leite para Ana, enquanto minha filha Aurora contava uma história para ela.

Ao ver essa cena terna, meus olhos se encheram de lágrimas.

Uma cena que eu nunca tive — nem quando estava doente. No entanto, Ana, apenas fingindo tontura, era tão profundamente amada.

Quando minha mãe levantou o olhar e me viu ali, parada, o sorriso desapareceu. Virou raiva:

— Você ainda tem coragem de voltar? Ana ainda está no hospital por sua causa!

Sua voz transbordava reprovação.

— Se você não tivesse insistido em levar toda a família para aquela montanha, ela estaria sofrendo assim?

Papai entrou na conversa, com um tom igualmente frio.

— Você é um alpinista perfeito, mas falhou em proteger sua família, colocando todos nós em perigo.

Eu ouvi em silêncio, sem oferecer nenhuma refutação.

Eles esqueceram que foi Ana quem implorou para ir à montanha nevada para "dar uma olhada", e eu a recusei por causa da minha antiga lesão de alpinismo.

E que foram eles — e Heitor — que me pressionaram durante uma semana inteira até eu ceder.

Experiências me ensinaram que explicações eram inúteis.

Nesta casa, as lágrimas de Ana tinham mais peso do que qualquer verdade.

Então, sem discutir. Calmamente, peguei os documentos que havia preparado há muito tempo na minha bolsa.

— Pai, mãe, vou ceder minha loja de equipamentos de alpinismo a Ana. Considerem isso minha compensação a ela.

Seus olhares se voltaram para mim, cheios de confusão.

Depois de alguns segundos, o rosto do meu pai mostrou um sorriso de alívio.

Minha mãe veio até mim e passou a mão na minha cabeça — um gesto que nunca fez antes.

— Alice, finalmente... Agora você está se comportando como uma irmã de verdade.

Meu pai concordou, seu tom de voz suavizando consideravelmente:

— Ana é frágil. É certo que você a ajude mais.

Então é isso, só ao entregar os frutos de uma década de trabalho, para finalmente ser considerada uma boa irmã.

Ao ver os sorrisos de alívio deles, meu coração se transformou em gelo.