Na realidade, dessa vez, mesmo com Susana ressurgindo, nada disso devia fazer diferença.Teresa sorriu enquanto dirigia e comentou com Margarida:— Agora que você e o Vicente já formalizaram tudo, se essa Susana for inteligente deveria sumir de vez do mapa. Mas, se ela insistir em querer se meter, a gente se junta e acaba com ela rapidinho!Bem ciente do próprio lugar social, Teresa sabia que topar a Leonor da família Almeida era complicado, mas enfrentar uma da família Neves como a Susana era fácil.O comentário fez Margarida rir, sem discórdia. Mesmo que o casamento com Vicente não fosse exatamente de verdade, estando oficialmente ao lado dele, Susana era uma das poucas rivais amorosas que ela poderia derrubar sem peso na consciência.— Tomara que a Susana tenha um pouco de juízo dessa vez e pare enquanto está a tempo. — Respondeu Margarida, com sinceridade.Teresa não respondeu, mas ela mesma achava que esse desejo era bem otimista.Pouco depois, Teresa estacionou o carro em frente
— Não, não... Deixa o Vicente fora dessa, por favor. Ele não tem culpa de nada... — Defendeu Margarida. Tentando esconder o rosto corado, ela abanou o rosto, com ar sem jeito, e tratou logo de cortar o assunto, mudando de foco. — Aliás, você não ia me contar sobre minha vitória hoje? Já falou do Augusto, agora fiquei curiosa com a situação da Leonor.No fundo, Margarida realmente tinha interesse. Após ter dado aquele tapa na Leonor e saído quase correndo, não sabia se Leonor e Marina teriam ânimo para pensar em se vingar tão cedo.A resposta de Teresa veio com uma risada ainda mais barulhenta.— Deixei a Leonor para o fim justamente porque, olha, foi o barraco do ano! — Ela explicou, animada. — Por ser a herdeira da família Almeida, muita coisa foi abafada nas redes, mas aqui no meio da alta sociedade todo mundo ficou sabendo dos bastidores. As notícias que chegaram até mim pelo grupo das socialites. Leonor saiu da festa sendo arrastada pelos seguranças do Guilherme, amarrada com corda
— A notícia mais importante da noite, Margarida? Não tem nem discussão, foi você dando a volta por cima! — Teresa comentou, radiante, pulando praticamente de empolgação.Na real, ela nem tinha ido ao evento, pois o pessoal da família Carvalho fez questão de não a convidar só para evitar que ela se envolvesse em defesa da Margarida. E, para não atrapalhar os planos da amiga, Teresa aguentou firme a vontade, fingiu que nem estava sabendo de nada e ficou em casa.Só que, mesmo de longe, acompanhou cada segundo. Se não foi ao vivo, vigiou tudo online, de olho em cada detalhe, meme e notícia.— Você não imagina, Margarida. Mal oficializaram que você é a esposa do Vicente, o assunto explodiu em todas as redes. Aquela galera que vivia falando que você era amante, pelas histórias do Augusto, agora está pagando língua, te pedindo desculpas aos montes e descendo o pau na cara de pau dele. Foi tanto barraco que até as ações do Grupo Carvalho sentiram o baque.Apesar de Augusto poder ser interessa
— Você e o Vicente não passam de parceiras, Margarida. Ele finge ser seu marido só para te dar o respaldo de sair da família Carvalho, protege você dos ataques da Leonor. E você faz o papel de esposa, segura as pontas para o Vicente com a família Almeida, mantém os oportunistas longe e ainda garante que mulher nenhuma grude nele. — Disse Augusto, calmamente.No fundo, o que deixava Augusto cada vez mais descontrolado não era o casamento em si, mas o fato de ver Margarida disposta a atravessar qualquer limite só para romper de vez com ele.Porém, naquele momento, algo em Augusto finalmente cedeu.— Margarida, entendo se você quiser sair um pouco para esfriar a cabeça. Não vou te pressionar nem prender, porque não quero te sufocar mais. Mas entenda uma coisa, isso não acabou. — A voz dele saiu baixa, mas tinha um tom definitivo, como se sentenciasse o próprio futuro de Margarida. — Esse teatrinho de casamento falso com o Vicente pode durar um tempo, mas vai acabar, sim. E quando acabar,
Quando Margarida mandou Augusto se explicar, no fundo, já não esperava uma resposta que prestasse. O que ela não imaginava mesmo era que, ao invés de qualquer conversa honesta, Augusto tentaria se impor, tentando prendê-la à força, como se realmente tivesse algum direito sobre a vida dela.Mas Margarida nunca esteve em dívida com ele e muito menos era cachorro de ninguém. Se quisesse ir embora, ia. Se quisesse ficar com outro, isso nunca foi da conta de Augusto.Agora, com o olhar frio de quem já superou muita coisa, ela nem hesitou em fechar o zíper da mala com decisão, pronta para sair dali de uma vez por todas.Só que, de repente, a porta bateu forte bem na sua frente. Augusto se colocou entre ela e a saída, o corpo ereto bloqueando toda chance de escape, enquanto a voz dele, rouca e carregada de frustração, cortou o silêncio:— Marga, você mudou. Não é mais aquela de antes.— Augusto, quem não muda com o tempo? Só que o que você chama de mudança é, na verdade, sua raiva por não con
Margarida olhou novamente para Augusto, dessa vez com uma surpresa misturada a um certo cansaço; sinceramente, não esperava ouvir daquele homem um tipo de cobrança tão desconectada da realidade deles.Interrompendo a arrumação da bagagem, ela o encarou com firmeza, sem permitir qualquer mal-entendido.— Augusto, você tem certeza do que está dizendo? Por que eu teria medo de te encarar? Acha que te devo alguma explicação e, mais importante, será que fiz alguma coisa de errado com você?— Fez sim. Você traiu o que sentia por mim, quebrou a promessa de nunca me deixar sozinho. — Retrucou ele, tirando os óculos do rosto numa tentativa de manter a compostura, sem conseguir esconder o olhar cada vez mais desesperado.O que Margarida não sabia era que, após ela e Vicente saírem, Leonor tinha sido levada pelos seguranças da família Almeida, desesperada, mordendo, berrando, tentando evitar a todo custo que a levassem para casa.No salão, Carlos e Luísa ainda tentavam intervir e evitar um escând
— Desculpa, desculpa mesmo, eu juro que não foi de propósito! — Margarida se apressou em explicar.Ela arregalou os olhos, e assim que percebeu o deslize de ter encostado os lábios nos de Vicente, recuou o mais rápido que pôde, soltando o pedido de desculpas quase sem ar.O rosto dela ia além do vermelho, parecia que estava prestes a pegar fogo.Já Vicente, que sempre demonstrava frieza em qualquer situação, ficou paralisado, o corpo inteiro estava tenso. Pela primeira vez, não conseguiu dizer nenhuma palavra. E até as orelhas, traidoras, entregavam a vergonha.Afinal de contas, era o primeiro beijo dele.Mesmo tendo passado por tanta coisa e visto o pior do mundo, só agora soube o que era o gosto suave e intenso de beijar alguém que se amava. O problema foi que tudo durou pouco, e Vicente sabia que, na sua inexperiência, não tinha feito bonito.Mas, pensando bem, aquela era só a estreia. Haveria tempo de sobra para se aperfeiçoar.Forçando-se a recuperar o controle, Vicente olhou fund
Na verdade, Vicente já estava calejado demais para se abalar tão facilmente. Depois de tudo pelo que passou, aprendeu a ignorar comentários maldosos e ataques, por isso, quando Leonor despejou todo aquele ódio, ele manteve a calma, como se seu coração fosse completamente à prova de balas.Só que tudo mudou no instante em que Margarida, corajosa, se posicionou à frente dele e deu o tapa em Leonor. Estranhamente, naquele ato tão cheio de força, Vicente sentiu uma onda inesperada de ternura. Havia ali um cuidado e um carinho silencioso. Ficou claro que Margarida se importava com ele de verdade, talvez até sentisse pena dele, mas, para Vicente, qualquer gesto de proteção já bastava para aquecer o peito opresso de tantas mágoas.Ele encarou Margarida, os olhos cheios de emoção contida, e, em voz baixa, disse:— Não me importo com o que Leonor falou, mas preciso admitir que fiquei um pouco balançado. Posso te abraçar, Marga?— Claro que pode! — Respondeu Margarida, sem hesitar nem um instant
— Leonor, o Vicente de hoje já não tem nada a ver com aquele garoto perdido de treze anos atrás, que não tinha voz, nem poder algum. Agora, não importa o quanto vocês desprezem ele, ele está acima de todos nessa família, olhando de cima para baixo para quem tentou pisar nele um dia. Ele não vai morrer, muito menos antes de você. Pode apostar que o Vicente vai viver longos anos, vai ver cada um dos que odiaram ele provarem do próprio veneno. E, sabe o que mais? A antiga Sra. Almeida não morreu por sua culpa, não. Ela se foi porque perdeu o filho para sequestradores. Foi o desespero, a dor, não algum tipo de maldição ridícula. Se tem gente culpada, são aqueles canalhas que nunca foram presos, mas estão lá fora, aguardando a justiça, porque uma hora o destino cobra. Do mesmo jeito, Leonor, não reclama agora. Sofrer com a própria língua suja é só o preço que você paga por tudo que fez.Enquanto balançava a mão dormente de tanto bater, Margarida lançou um olhar gélido para Leonor, cada pala