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capítulo 2

Penulis: Anônima
No fim, meus pais me disseram:

— Filha, por que você não volta pra Veredalto com a gente?

Não era a primeira vez que tentavam me convencer.

Sentei desanimada num canto e levantei o olhar. Vi os olhos deles cheios de esperança.

Eles eram os fundadores do maior escritório de advocacia de Veredalto. Foi por influência deles que escolhi ser advogada. A ideia era que, depois do mestrado, eu começasse a trabalhar na firma da família.

Mas aí conheci Renato Martins. Me apaixonei. E por isso vim com ele pra Altavira.

Ele veio do interior. Sempre desprezou quem nasceu em berço de ouro, quem tinha dinheiro ou sobrenome importante.

Então, durante esses cinco anos, nunca contei de onde vim. Na cabeça dele, eu era só mais uma garota simples do interior, igual a ele.

Com o tempo, virei uma advogada conhecida. Nós dois, juntos, ganhamos o bônus do escritório por três anos seguidos. Colegas nos chamavam de casal modelo, “os dois perfeitos do jurídico”.

Nossa vida só melhorava. Eu achava que, talvez, ele nem ligasse tanto pra isso. Mas nunca surgiu o momento certo pra contar a verdade.

Pensando nisso, soltei um suspiro.

No fim das contas, nem precisava mais dizer nada.

— Tá bom, eu vou com vocês.

Os olhos deles brilharam. Meus pais apertaram minha mão com força.

— Minha menina. A gente vai comprar sua passagem. Você não precisa mais passar por isso aqui!

Depois de deixá-los acomodados, voltei pra casa.

Tudo seguia tão vazio quanto sempre.

Fiz um miojo qualquer, sentei no sofá e abri o Ins. Logo vi uma nova postagem da Bianca.

Na foto, ela usava roupa de academia colada ao corpo, ao lado do Renato. Os dois coladinhos, sorrindo.

[Convenci meu mentor a largar a cerimônia e jogar bola comigo. Ele ficou meio bravo, mas quando falei que ia cozinhar pra ele lá em casa, ele logo ficou feliz. Haha.]

Ao ler isso, senti um enjoo subir pela garganta. Quase vomitei.

Sabia que ele não ia voltar essa noite. Igual tantas outras.

Ainda bem que a gente nunca chegou a registrar o casamento. Não precisei me humilhar além da conta.

Na manhã seguinte, fui com as malas prontas pedir demissão.

Meu desempenho era bom, então o chefe tentou me convencer a ficar. A gente ainda conversava quando Renato entrou com uma pilha de documentos na mão.

Olhei de canto e vi a marca de beijo no pescoço dele. E o cheiro doce de pêssego que tomava conta da sala.

Dava pra ver que a noite dele tinha sido bem aproveitada.

Ele sempre odiou quando eu deixava marcas nele. Dizia que isso atrapalhava no trabalho. Por isso, mesmo nos momentos mais intensos, eu me segurava — agarrava o lençol, mordia o travesseiro.

Mas agora eu entendia. O problema não era deixar marca. O problema era ser eu quem deixava.

Assim que ele entrou, o chefe suspirou.

— Ainda bem que você chegou. Fala com sua namorada. Ela tá querendo sair do escritório. Brigaram?

— Isso não tem nada a ver com ele. — Respondi.

— Você vai pedir demissão?

As duas vozes ecoaram ao mesmo tempo. No canto do olho, vi o olhar do Renato fixo em mim. Os lábios cerrados.

— Então era isso... Você ficou brava porque eu cancelei o casamento de última hora, né?

Vendo o clima, o chefe saiu discretamente, deixando a sala só pra nós dois.

Assim que a porta se fechou, Renato veio até mim e perguntou, com cara de poucos amigos:

— Eu já falei que só cancelei porque a Bianca machucou a perna. Por que você tá sendo tão mesquinha?

Tentei manter a calma. Levantei o olhar e menti:

— Não tô brava. Pedi demissão porque tô cansada. Quero viajar um pouco, tirar um tempo pra mim.

Ele cruzou os braços e franziu a testa, desconfiado.

— Se fosse só isso, era só tirar férias. Você saindo assim do nada vai fazer os outros pensarem que você tem algo contra a Bianca. E aí, como é que ela vai continuar trabalhando aqui?

Ele tinha esquecido.

Eu já tinha gastado todas as minhas férias — cada dia delas esperando por um casamento que nunca aconteceu.

Mas tudo o que importava pra ele... era como a Bianca ia se virar no escritório.

Meu peito afundou. Um vazio gelado tomou conta.

Voltei a encarar a marca no pescoço dele. Não falei nada.

Ele percebeu e, no reflexo, cobriu o pescoço com a mão.

— Isso aí foi só um mosquito. Não vai pensar besteira.

Me surpreendi. Ele não estava brigando. Estava tentando se justificar.

Mal feito, é verdade. Mas antes eu teria acreditado.

Só assenti, em silêncio.

Renato soltou um suspiro de alívio. Achou que eu já tinha deixado pra lá. Sorriu e passou o braço pelo meu ombro.

— Assim que eu gosto. Uma advogada de verdade tem que ser generosa.

— E nada de demissão, hein? Hoje à noite a gente vai naquele Restaurante Luazinha. Pra compensar.

Continuei sem dizer nada. Ele achou que era um “sim”.

Reprimi a vontade de me despedir dele de verdade. Agora eu não queria mais contar que estava indo para Veredalto.

— Mentor!!

Bianca entrou sem bater.

Renato tirou o braço de cima de mim na mesma hora, como se tivesse levado um choque.

Ela riu, meio sem jeito.

— Desculpa atrapalhar o encontro de vocês. Mas é que não teve jeito. Tô com dúvida nesse caso aqui...

Sem nem olhar pra mim, ele já estava indo até ela. Pegou os papéis da mão dela, curvou o corpo, e perguntou com toda paciência o que ela não tinha entendido.

Bianca se aproximou ainda mais. Os dois cochichavam bem ali, na minha frente. Como se tivesse uma parede invisível entre a gente.

Logo depois, ela segurou o braço dele e os dois saíram juntos. Na hora de fechar a porta, ela ainda virou pra trás e sorriu pra mim com aquele ar de deboche.

Pá.

O silêncio tomou conta da sala. Só dava pra ouvir minha própria respiração.

No segundo seguinte, a pulseira de jade escorregou do meu pulso. Caiu no chão. Estilhaçou.

Sem motivo aparente.

Foi o presente que ele me deu no nosso primeiro ano de namoro. Na época, disse que queria que nosso amor fosse como aquela pulseira: completo, sem fim.

Fiquei parada um tempo. Depois, sem ligar pro corte na mão, juntei cada pedacinho.

Juntei também o que ainda restava de sentimento. E joguei tudo fora.
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