Capítulo 2

Uma dor fina e penetrante veio tardiamente.

Normalmente, eu não ficaria tão triste. Eu poderia tratar isso como uma traição de um amigo, nada demais.

Mas foi Renan quem primeiro escolheu cruzar a linha da amizade.

No dia em que decidimos nos transferir juntos, ele me levou a um bar para comemorar nossa libertação.

A luz ambiente nos envolvia, e olhando para o homem por quem eu me apaixonara secretamente por anos, senti-me um pouco deslumbrada.

Por isso, quando ele se aproximou para me beijar, não o recusei.

Os sentimentos reprimidos por anos floresceram em um instante.

Incapaz de me conter, perguntei para confirmar.

— Renan, que tipo de relacionamento nós temos agora?

Renan beijou minha testa novamente, com carinho.

— Boba, que outro tipo de relacionamento poderia ser?

O som de vivas encheu a sala privada, a atmosfera era quente, como minha paixão.

Eu não esperava que, apenas dois dias depois, ouviria Renan quebrar minhas ilusões com suas próprias palavras.

Eu sorri, mas as lágrimas escorreram incontrolavelmente pelo meu rosto.

Então, aquela resposta vaga também foi uma mentira de Renan para me enganar e me afastar o mais rápido possível por causa de Giselle?

O sino de vento no meu quarto tilintou, secando minhas lágrimas pouco a pouco.

Meu coração partido lentamente começou a se recompor.

Renan estava errado.

Ele era apenas o filho ilegítimo da família Braga, enquanto eu era a única herdeira da minha família. Nós realmente não deveríamos ficar juntos.

Pois nossos status não eram compatíveis.

O formulário de transferência em minhas mãos ficou manchado com minhas lágrimas, a tinta borrando, tornando-se ilegível.

Mas não importava. Se este estava sujo, eu poderia simplesmente trocá-lo por um limpo.

Nossa família nunca careceu de opções.

Imprimi um novo formulário, mas ao preencher a seção da escola de destino, liguei para minha mãe.

— Mãe, da última vez que você disse que queria que eu estudasse no exterior, a que colégio você se referia?

— Sim, eu irei sozinha.

O sino de vento no quarto emitiu um som nítido e agradável, como se estivesse comemorando por mim.

Fechei os olhos por um momento e, desta vez, não foi o rosto de Renan que apareceu diante de mim.

Um homem que lembrava Renan em cerca de trinta por cento com Renan, mas muito mais bonito e deslumbrante, sorriu para mim, tão confiante e sério quanto há dois anos.

— Clarinda, mais cedo ou mais tarde, você vai desistir de Renan e me escolher.

Na época, pensei que ele estava brincando.

Agora, eu repetia silenciosamente em meu coração.

"Renan, eu realmente não te quero mais."

Depois de preencher o novo formulário de inscrição, soltei um longo suspiro de alívio, sentindo-me calma por dentro.

A porta do meu quarto foi batida de repente.

Fiquei surpresa. Eu sempre morei sozinha nesta casa, e a única pessoa que saberia a senha seria...

Abri a porta e, como esperado, vi o rosto de Renan.

Sua voz era gentil como sempre.

— Clarinda, você não se despediu dos amigos. Fiquei preocupado.

Tentei falar com a voz mais calma possível.

— Meu estômago não está muito bem, então não vou.

Quando eu estava prestes a mandá-lo embora, meu olhar periférico captou uma figura inesperada.

Giselle estava encolhida ao lado de Renan, recuando no momento em que nossos olhares se cruzaram.

Renan, atento a cada movimento dela, imediatamente a envolveu em um abraço protetor.

— Clarinda, você assustou a Giselle.

Lá estava de novo, Giselle sempre agindo como se tivesse medo de que eu a intimidasse, como se eu fosse uma vilã terrível.

Mas eu não tinha feito absolutamente nada.

Meu rosto endureceu.

— Eu já disse que não gosto que outras pessoas venham à minha casa.

Renan franziu a testa, um pouco descontente.

— Giselle não é uma estranha. Além disso, ela veio porque também estava preocupada com você.

Antes que eu pudesse responder, os olhos de Giselle de repente ficaram vermelhos.

— Clarinda, me desculpe. Eu sei que você sempre me desprezou, mas eu tomo banho todos os dias.

Com a voz embargada, ela acrescentou.

— Não vou sujar sua casa...

Ao ouvir isso, Renan franziu a testa imediatamente, olhando para mim com descontentamento.

— Clarinda, Giselle pode ser de uma família pobre, mas ela não é tão desprezível quanto você pensa. Tratá-la assim realmente me decepciona.

Giselle puxou a manga de Renan com cuidado, parecendo tolerante e compreensiva.

— Renan, eu estou bem. Não brigue com a Clarinda...

Ela fungou e forçou um sorriso magoado, mas teimoso.

— Afinal, a Clarinda disse que vocês se conhecem desde pequenos. Como eu poderia me comparar a esse tipo de status...?

Renan segurou o rosto de Giselle com ternura, confortando-a com palavras suaves.

— Que bobagem você está dizendo? Você é única.

Então ele se virou para mim, seu rosto frio como gelo, e disse com voz grave.

— Giselle não está bem emocionalmente, vou levá-la embora primeiro. Pense bem no que você fez e não se esqueça de oficializar a transferência.

Eu realmente refleti sobre meu péssimo julgamento de caráter.

E então mudei a senha da porta da minha casa.

O nó de raiva em meu peito finalmente se desfez por um momento.