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Capítulo 3

Author: Aroma
Soltei um suspiro e, só depois de garantir minha vaga para estudar fora do país, voltei para casa.

Sr. Jorge Almeida e Dona Marta Souza, os pais de Luís, já haviam preparado uma mesa cheia de comida. Assim que me viram entrar, Dona Marta segurou minha mão com entusiasmo:

— Sofia, vocês já pegaram a certidão de casamento tão rápido assim? E por que o Luís não voltou com você?

— Ele teve que resolver algo no trabalho. — Respondi.

Dona Marta resmungou, aborrecida:

— Esse menino... Hoje é um dia tão importante, o dia do registro de casamento, e ele não consegue deixar o trabalho de lado?

Sr. Jorge riu, descontraído:

— Um homem dedicado à carreira também não é ruim. Afinal, já estão casados, e a refeição em família pode acontecer a qualquer momento.

Dona Marta continuava resmungando baixinho, insatisfeita.

Diante daquela cena calorosa e familiar, meus olhos se encheram de lágrimas.

— Jorge, Marta... eu e o Luís não pegamos a certidão de casamento. Eu já finalizei os trâmites para estudar fora. Daqui a dois dias, devo embarcar.

Dona Marta ficou chocada:

— Como assim não se registraram? Será que Luís te intimidou? Esse menino só é teimoso; na verdade, ele se importa muito com você e gosta de você lá no fundo.

Ela apertou minha mão com mais força e continuou:

— Você estudou Psicologia por conta própria, ficou ao lado dele todos os dias, ajudando com o trauma... a gente viu o quanto você foi verdadeira com ele. Vocês se amam, claro que deveriam ficar juntos. E mais, você sabe tão bem quanto a gente que aquela Gabriela não vale nada. A gente não pode deixar ela vencer.

Sr. Jorge concordou com um aceno:

— O Luís só está sendo teimoso. Depois que se casarem, ele vai acabar cedendo.

Aquelas palavras... eu já tinha escutado antes. Exatamente as mesmas.

O problema é que, forçando o destino, todos acabaram arrependidos.

Apertei a mão de Dona Marta e disse suavemente:

— Por favor, não fiquem tão nervosos. Ouçam o que tenho a dizer. Eu não queria aceitar, mas... o que é forçado, nunca vai dar certo. O Luís... ele nunca me amou de verdade.

— Ontem à noite, tive um sonho. Nele, eu e o Luís nos casávamos. Mas ele se afastava de mim, passava os dias no trabalho até ficar doente do estômago. Eu fazia canja pra ele, mas ele se recusava a comer. Mesmo doente, não deixava que eu cuidasse dele. No fim, me disse que a dor de estar comigo era maior do que qualquer felicidade. E... aos trinta anos, morreu tentando me salvar de um caminhão.

Ao dizer isso, meu coração doeu tanto que mal conseguia respirar.

Dona Marta ficou paralisada:

— Mas... Sofia, foi só um sonho... Luís não faria isso.

Aspirei com força e forcei um pequeno sorriso:

— Sonhos são avisos. Ele não precisa se casar comigo, não podemos ser marido e mulher, mas eu quero que ele tenha uma vida longa.

— Tudo tem um sinal. O Luís ama música, não negócios. Ele odeia seguir caminhos que outros impuseram. Se não tivesse machucado a mão, jamais teria abandonado o piano. E se não fosse pela pressão de vocês, ele também não me escolheria como esposa.

— A origem de tudo sou eu, é culpa minha. Não quero continuar errando.

— O intercâmbio já está acertado, e a bondade de vocês dois eu guardarei sempre no meu coração. No futuro, prometo cuidar de vocês como se fossem meus pais.

Dona Marta limpou discretamente as lágrimas:

— Você é uma boa menina... o Luís é que não teve sorte de te ter como esposa.

Abracei-a de volta, com os olhos marejados, mas sorrindo:

— Não tem problema. Se não posso ser nora de vocês, posso ser filha. E no futuro, vou cuidar de vocês do mesmo jeito.

Sr. Jorge e Dona Marta finalmente sorriram, mesmo com os olhos vermelhos. No fim, acabaram aceitando minha decisão.

Pensei no segundo arrependimento anotado no diário de Luís. Acho que, agora, ele também foi resolvido.

A máquina do tempo só me permitiria ficar aqui por 36 horas. E agora, restava o último arrependimento a ser corrigido. Será que eu conseguiria?

Já era noite quando cheguei sozinha ao observatório.

Aquele era o melhor lugar para ver a chuva de meteoros. Apoiei as mãos no parapeito e, por um instante, deixei o coração se encher de expectativa.
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