Deixei o Homem que Morreu por Mim

A luz intensa da máquina do tempo explodiu diante dos meus olhos. Apertei as pálpebras com força, mas de repente ouvi a voz sarcástica de Luís ressoando ao meu redor:

— Meus pais me forçaram a casar com você ameaçando se matar. Sofia Costa, você realmente tem talento. Mas mesmo se casando comigo... o que você acha que vai ganhar? Você acha mesmo que seremos felizes?

Abri os olhos de repente — Luís estava vivo, bem na minha frente.

As mãos enfiadas nos bolsos da calça social, e em seus olhos havia um escárnio impossível de esconder.

O Luís do futuro era maduro, elegante. Mas esse... esse diante de mim exalava aquele ar despreocupado e rebelde de juventude que eu não via há tanto tempo.

Senti um nó na garganta.

A máquina do tempo realmente funcionou. Eu estava de volta ao passado. Mas havia falhado um pouco — em vez de me levar ao nosso primeiro encontro, me trouxe justamente para o dia do nosso casamento.

Felizmente, ainda dava tempo de mudar tudo.

Engoli a emoção e o encarei com um olhar faminto, quase como se quisesse memorizar cada traço.

— Luís... você não quer se casar comigo porque quem você ama de verdade é a Gabriela, não é?

Ele congelou por um instante, como se eu tivesse acertado em cheio. Depois, me lançou um olhar gelado.

— E se for? Estamos na porta do cartório. Vai desistir agora?

Assenti com franqueza.

— Vou.

Ele soltou uma risada de desprezo.

— Não tenho tempo pra esse joguinho de seduzir pra depois rejeitar. Assina logo. Assim que pegarmos a certidão, está tudo resolvido. Te espero lá fora.

Assisti à sua silhueta se afastando e senti meu coração ser perfurado por agulhas invisíveis.

Nesta vida e na anterior... eu amei Luís por muitos anos.

Ele me salvou duas vezes, sem hesitar. Aquilo me fez acreditar que talvez ele também me amasse — mesmo que em segredo.

Os pais dele também me incentivaram:

— O Luís tem o coração mole, só não sabe demonstrar. Se ele não te amasse, por que teria arriscado a vida duas vezes pra te salvar?

Eu acreditei. Me casei com ele, cheia de esperanças.

Mas, quando o primeiro amor dele, Gabriela, morreu, percebi que o amor dele era de outra.

As palavras que ele disse antes de morrer — que preferia nunca ter me conhecido — finalmente me esmagaram.

Os meus dez anos de amor foram, pra ele, dez anos de tortura.

Antes de ativar a máquina do tempo, um monge senior me disse:

"Você só vai romper esse laço amaldiçoado se realizar os três arrependimentos de Luís."

Assim, ele não morreria mais aos trinta anos por minha causa.

E nós dois poderíamos, enfim, seguir caminhos suaves e diferentes.

Baixei os olhos e, no formulário de casamento, escrevi o nome da Gabriela Nunes.

Eu me lembrava bem dos três arrependimentos que Luís havia anotado em seu diário:

“Me arrependo de ter me casado com a Sofia Costa. Me arrependo de não ter desafiado meus pais. Me arrependo de não ter salvado a Gabriela Nunes.”

Hoje... o primeiro arrependimento dele já estava resolvido.

Com as duas certidões de casamento em mãos, saí da sala. Luís estava me esperando ao lado de fora.

Ele pegou automaticamente os papéis da minha mão e começou a folhear, mas antes que ele pudesse ver, pressionei a mão dele com firmeza.