Capítulo 1

— Lua Andrade, certo? Aproveita que a onda sísmica ainda não chegou onde estamos, e chama seu marido para trazer o jatinho particular e nos resgatar!

Ao ouvir aquele apelo ansioso, abri os olhos em choque. Ao meu lado, minha sogra, assustada com os turistas que corriam em pânico, agarrou firme à barra da minha roupa.

— Lua, a culpa é toda minha por ter te arrastado até aqui. Eu não devia ter vindo a esse maldito leilão. — Ela respirou fundo, tentando se recompor, e continuou. — Não tem muitos lugares nos aviões de evacuação. Vamos deixar para os outros e esperar juntas o Leonardo vir nos buscar!

Ao ver todo o esforço dela em manter a calma para me confortar, meus olhos quase se encheram de lágrimas.

— Mãe, o Leonardo está comemorando o aniversário da Juliana agora. Se eu ligar pedindo ajuda, ele vai achar que só estou com ciúmes, inventando uma desculpa para enganá-lo. — Respondi.

O sorriso da sogra congelou de repente. Ao redor, os outros passageiros que se empurravam para embarcar também pararam, trocando olhares de cumplicidade.

Todos sabiam que, o presidente do Grupo Alencar, Leonardo Alencar, não amava a própria esposa. No coração dele, só existia a sua preferida, Juliana.

Diante dos rumores, Leonardo me forçou a aparecer em público diversas vezes para esclarecê-los, defendendo a reputação de Juliana, como se fôssemos irmãs.

E agora, ao me ouvirem admitir abertamente sobre o meu papel nesse casamento, alguns até chegaram a levantar o celular para gravar.

— Não se preocupe, Lua. — Minha sogra baixou os olhos, constrangida. — Assim que voltarmos, eu mesma vou castigá-lo e obrigá-lo a cortar de vez essa relação com aquela vadiazinha!

Senti o calor da mão dela segurando a minha, mas o que me veio à mente foi a dor da minha morte na outra vida. Leonardo, para vingar Juliana, me torturou até o fim. Ele e ela, nunca, jamais se separariam.

— Mãe, eu estou bem. — Respondi.

Mal terminei de falar, e a voz furiosa do Leonardo ecoou do celular.

— Lua, o que você está armando agora? Eu só pedi que você acompanhasse minha mãe num evento, e você já aproveitou a chance para fazer drama? Terremoto? Que terremoto? Você só pode ter colocado alguém na minha cola para inventar isso bem agora, e estragar meus planos com a Juliana!

Minha sogra ficou boquiaberta.

— Leonardo, você enlouqueceu? — Sem conter a raiva, ela gritou para o telefone. — Como a Lua inventaria uma coisa tão séria?

— Mãe, até você resolveu entrar na confusão da Lua? — Do outro lado da linha, ouviu-se o suspiro cansado dele. — Chega. Eu sei que ela não suporta me ver com a Juliana, mas hoje é o aniversário dela, e ela quer ver as luzes da cidade à noite, lá do alto. Eu não posso decepcioná-la.

Sem dizer mais uma palavra, ele desligou na nossa cara.

A sogra levou a mão ao peito, tremendo, a respiração falhando. Antes que terminasse de falar sobre seu filho rebelde, a raiva lhe subiu tão forte que ela caiu inconsciente. Enquanto isso, o primeiro grupo de passageiros já havia embarcado e decolado. E a tripulação correu até nós para socorrê-la.

— Sra. Lua, pedimos desculpas. Quando sua família viaja, costuma usar o jatinho particular, e a nossa equipe de resgate não foi informada. Por isso, não reservamos lugares para vocês. Agora só resta um assento no avião. Se o Sr. Leonardo não vier buscá-las, você e a sua sogra terão que escolher...