O Inverno Que Já Não Traz Geada

A voz de Sabrina ecoava nos meus ouvidos.

— Talvez eu devesse escolher o Igor. A minha mana é frágil, e o César é alto e forte, pode protegê-la melhor.

Acordei num sobressalto, com as memórias da vida anterior vindo à tona.

Antes que eu dissesse qualquer coisa, Sabrina fingiu generosidade ao olhar para César:

— César, vou deixar minha mana Juliana com você. Proteja ela direitinho.

Encarei a Sabrina, que estava fingindo aquela pose, senti o peito gelar.

Na vida passada, eu tinha sido enganada completamente por esse rosto bondoso dela.

Naquele tempo, quando ela escolheu César, eu fiquei hesitante, e ela, vendo isso, sugeriu trocarmos.

Eu, tola, realmente achei que ela estava pensando no meu bem.

Até que os inimigos do meu pai nos sequestraram. E, mesmo o guarda-costas dela, César, sendo habilidoso...

Mesmo ela podendo salvar a si mesma...

Ela só disse da boca pra fora para o Igor me salvar primeiro.

Ela tinha certeza de que eu não aceitaria que alguém cedesse algo por mim.

Assim, ela ficaria com o guarda-costas que queria e ainda sairia com fama de boa e generosa.

Desta vez, não dei chance para que ela continuasse a encenação, disse:

— Tá bom.

O rosto de Sabrina ficou cheio de surpresa, ela não imaginava que eu realmente não fosse recusar.

Encarei seu olhar chocado e deixei escapar um sorriso frio no canto da boca.

Na outra vida, eu fui fraca demais, e por isso ela me manipulou como quis.

Pelo canto do olho, percebi um traço de dúvida no olhar de Igor.

Nesse momento, meu pai falou primeiro:

— Não!

— Você é a filha mais velha da família Queiroz, sua segurança é prioridade. Esse menino é magro demais, e ainda por cima mudo. Como vai te proteger?

Olhei para meu pai, sentindo o gelo tomar conta do meu peito.

Então era assim, no coração dele, eu nunca cheguei perto de Sabrina, aquela filha ilegítima!

Ele tinha se casado com minha mãe só para salvar a empresa, e ela só descobriu depois que ele já tinha um filho com outra mulher, e acabou definhando.

Assim que minha mãe morreu, ele trouxe Sabrina e a mãe dela para casa, e ainda quis que eu chamasse Sabrina de mana.

Eu achava que, pelo menos por eu ser filha de sangue, ele teria algum sentimento por mim.

Mas nem isso. Ele sabia que Igor era mudo, e mesmo assim o trouxe.

No fim, nos deixar escolher não passava de formalidade.

Ele já havia decidido que César seria da Sabrina.

Ao lado, Sabrina soltou um suspiro de alívio e se agarrou ao braço do meu pai com fingida preocupação:

— Mas a mana...

Foi quando Igor perdeu a calma.

— Eu não sou mudo!

E, dizendo isso, executou na hora uma sequência de golpes rápidos e firmes.

— E eu só pareço magro. Na prática, sou muito bom de luta. Eu com certeza consigo proteger a senhorita!