Capítulo 3

Tudo aquilo era coisas que eu jamais havia recebido na vida. Em todos os anos que estive casada com Leonardo, só recebi o seu desprezo, frieza, acusações e sarcasmo.

No coração dele, eu nunca valia nem um fio de cabelo da Juliana.

Por isso, ele não viria.

Os turistas retidos ao meu redor viram a notícia e tiveram reações diferentes, mas o desejo de sobreviver falou mais alto e todos, um a um, começaram a discar para o número pessoal do Leonardo.

— Alô? Quem fala? — A voz dele soou, do outro lado, cheia de impaciência.

— Sr. Leonardo, estamos presos no aeroporto com sua esposa, Lua...

— Já não chega? Eu pago o dobro do que aquela mulherzinha calculista, Lua, pagou a vocês por toda essa encenação! Sumam todos e me deixem em paz!

— Sr. Leonardo, o senhor não viu as notícias? O alerta de terremoto já foi emitido, todos estão sendo evacuados!

— Notícia coisa nenhuma! Se houvesse mesmo um terremoto, vocês acham que meus assistentes não me avisariam? A Lua está aí do seu lado, não é? Eu estou te avisando, Lua, não pense que porque minha mãe está do seu lado, isso vai mudar alguma coisa. No meu coração, só existe a Juliana!

Nesse momento, um funcionário da equipe de resgate, não aguentando mais, e interviu.

— Sr. Leonardo, por favor, acalme-se. Eu sou um funcionário da embaixada responsável pela evacuação.

Ao ouvir isso, Leonardo pareceu finalmente acreditar.

— Cunhadinha, você viu a notícia e ficou com ciúmes de novo, não foi? — A voz delicada da Juliana surgiu do outro lado da linha. — O Léo é uma figura pública. Já pensou no tamanho do impacto negativo que usar um desastre natural para inventar mentiras pode causar a ele?

Alguém, indignado, arrancou o celular e mudou a ligação para vídeo, tentando fazer com que Leonardo visse todos presos no aeroporto.

— Sr. Leonardo, nós não estamos mentindo! É uma questão de vida ou morte, por favor, venha nos salvar!

Todos prenderam a respiração, esperando a reação dele. Bastou um chamado manhoso da Juliana para que o olhar dele passasse direto da tela e se voltasse para ela.

No segundo seguinte, a própria Juliana estendeu a mão e desligou a chamada.

O silêncio tomou conta ao redor. Então, o alerta disparou de novo, agora ainda mais estridente. Diferente dos anteriores, dessa vez o sinal veio acompanhado de fortes tremores sob nossos pés.

Quase num instante, todos fomos jogados ao chão, cambaleando.

A equipe de resgate correu para me levar a um local mais seguro.

Felizmente, o primeiro tremor não foi muito intenso, e logo o chão parou de balançar.

Enquanto as pessoas trocavam palavras de alívio, de repente, o som das hélices de um helicóptero ecoou no céu.

— Sra. Lua, olha! — Alguém levantou a cabeça e me cutucou, animado. — Seu marido veio te buscar!

O helicóptero desceu lentamente, e logo uma escada de corda foi lançada.

— Não vai segurar? — Dentro da cabine, Leonardo apareceu de rosto fechado.

Perplexa, mesmo assim estendi a mão e agarrei a escada.

Conforme o helicóptero subia comigo pendurada, uma confusão tomou conta do meu coração. Leonardo sempre me odiou com todas as forças. Por que teria mudado de ideia agora?

Não importava. Afinal, dessa vez, foi ele quem salvou a minha vida.

Assim que chegássemos a um local seguro, eu precisava convencê-lo a mandar imediatamente um avião particular para resgatar os outros. Me preparei e ensaiei mentalmente as palavras para pedir que ele recolhesse a escada e me deixasse entrar no helicóptero, quando, de repente, o helicóptero parou de subir.

— Sua idiota. — Do lado da cabine, apareceu o rosto carregado de malícia de Juliana. — Você não achou mesmo que viemos aqui para te salvar, não é? Você já nos atrapalhou demais. Desta vez, viemos só para te dar uma lição!

Dizendo isso, ela tirou do bolso uma faca afiada, com um sorriso estampado no rosto.

Imediatamente percebi a intenção dela. Mas, eu estava indefesa, suspensa no ar, sem ter como me segurar em nada, completamente impotente. Só pude gritar por ajuda, desesperada.

— Leonardo, me ajuda! — Gritei na direção de Leonardo.

Ele, porém, não fez nada para detê-la. Pelo contrário, me olhou friamente.

— Lua, este é o castigo que você merece por inventar boatos maliciosos. Não se preocupe, uma queda dessa altura não vai te matar. Mas, vai te ensinar a nunca mais tentar me enganar desse jeito.

A faca de Juliana cortava a escada, devagar, de um lado a outro.

— Léo, essa faca está tão cega, minha mão está doendo. — Disse, ela.

Leonardo, cheio de zelo, a consolou. Logo depois, os dois se beijaram apaixonadamente, e meu coração se afundou no mais absoluto desespero.

Foi só quando o helicóptero passou sobre um gramado macio que Juliana voltou a se inclinar para fora.

Ela olhou para o chão de concreto duro logo à frente.

— Lua, adeus. — Ela disse, curvando os lábios num sorriso cruel.

No instante seguinte, ela puxou a faca com força. Com um estalo seco, a corda se partiu.

Caindo rumo ao chão, minha última reação foi apertar com força o ventre com as duas mãos.