Renasci no Dia em que a Mulher que Meu Marido Amava Morreu

Quando o terremoto aconteceu, eu estava presa nos escombros.

E junto comigo, presa no mesmo lugar, estava a musa intocável do meu marido, Luna Soares.

Um dos meus braços estava preso sob os destroços, já sem sensibilidade, e eu sentia uma dor constante na parte inferior do abdômen.

Ouvi passos da equipe de resgate se aproximando, e, assim como na vida passada, reconheci a voz do colega do meu marido, Érico Luz:

— Capitão Horta, o sinal da sua esposa está aqui!

Os pedaços de concreto sobre minha cabeça começaram a ser removidos, e a luz da lanterna bateu no meu rosto.

Vi o rosto animado de Érico:

— Talita, não se preocupe, vamos tirar você daí agora!

Mas meu marido, Ícaro Horta, parecia distraído. Seu celular de serviço vibrou, e ele atendeu sem hesitar.

Do outro lado, ouviu-se uma voz trêmula:

— Ícaro... você está onde? Está tão escuro aqui, eu estou com medo...

Eu nem precisava ver o rosto da Luna para saber o quão frágil e chorosa ela estava naquele momento.

Ícaro nem parou o olhar em mim. Seus olhos se suavizaram e ele começou a confortá-la com ternura:

— Luna, não tenha medo. Eu vou levar a equipe até você. Você vai ficar bem, eu prometo.

Aquela voz doce com que ele consolava sua musa, aquela mulher que ocupava o centro do seu coração, era a mesma que esquecia completamente que eu, grávida, ainda estava ali, soterrada bem na frente dele.

Érico, desconfortável com a cena, teve que lembrá-lo da minha presença. Só então Ícaro voltou os olhos para mim.

Nossos olhares se cruzaram, e o que vi foi frieza. Ele franziu a testa, claramente irritado, e disse com desprezo:

— Já te disse que, grávida, devia parar de correr por aí. Mas não, teve que vir até Cidade J atrás de mim. Agora está aí, presa no meio do terremoto. Está feliz?

— Tem tanta gente presa, e a gente tem que desperdiçar recursos para salvar você!

Ao ouvir mais uma vez aquelas palavras, não pude evitar sentir um calafrio no coração.

Na vida passada, diante das cobranças dele, eu me apressei em explicar que tinha vindo aqui com o hospital para participar de um seminário.

Mas ele insistiu que eu só tinha ido até lá para disputar atenção e atrapalhar sua vida.

Desta vez, não quis me justificar.

Nem valia a pena desperdiçar mais palavras com ele.