Capítulo 4

A chamada veio de um número desconhecido.

Valentina nem pensou duas vezes e simplesmente rejeitou, ainda bloqueou aquele número.

Ela geralmente não atendia chamadas de desconhecidos.

Afinal, hoje em dia a maioria era telemarketing ou trote, e quem ela conhecia normalmente falava pelo WhatsApp.

Ela tinha esquecido completamente da história daquele sapato que pisou.

**

Só que foi só na manhã seguinte, por volta das nove, que Henrique voltou. Sempre preocupado com a imagem, ele estava com o cabelo meio bagunçado, e o rosto bonito mostrava claramente cansaço.

Valentina, que estava tomando café, deu um leve sorriso sem que ele percebesse.

Ela gostava de ver ele assim.

Valentina tinha dito que ia destruir tudo dele, aos poucos.

Henrique percebeu que Valentina estava ali, sentada, claramente sabendo que ele tinha voltado, mas não se mexia. Com um olhar profundo, ele se aproximou dela, passou os braços por trás e a abraçou. Com uma voz suave, misturando carinho e um tom de convencimento, disse:

— Essas fotos na internet são montagem, o pessoal por trás disso já está sendo investigado. Não pense nisso demais.

Montagem...

Valentina quase riu da cara de pau dele. Escondendo o sarcasmo nos olhos, ela se levantou e afastou o corpo dele, dizendo:

— Então quer dizer, alguém está tentando usar você e a Yasmin para causar confusão... E mesmo assim, por que você ainda mantém ela por perto?

Henrique ficou em silêncio por um momento e então explicou sem vergonha:

— Ela já sofreu o bastante por estar no meio dessa confusão. Como chefe, não posso jogar tudo nas costas dela, isso só deixaria os outros funcionários desmotivados.

Que desculpa bonita...

Valentina falou num tom mais leve:

— Mesmo que isso prejudique a entrada da empresa na bolsa?

— O que você está preocupada não vai acontecer!

Ele já tinha visto de tudo no mundo dos negócios, sabia lidar com aqueles truques sujos, e tinha certeza que nada ia atingir ele.

Ela viu a confiança no rosto dele e concordou com a cabeça:

— Se você tem tanta certeza, então nem vou me preocupar à toa.

Falou isso e virou para subir as escadas.

Henrique agarrou seu pulso e sugeriu:

— Hoje é fim de semana. Que tal vamos dar um passeio à tarde?

Valentina puxou o braço de volta, com um sorriso meio de lado:

— Só se você realmente não tiver nada para fazer, pode ser?

Era impossível que Yasmin deixasse eles ficarem sozinhos por muito tempo.

E como previsto, não demorou nem uma hora, ele já falou que tinha uma reunião com cliente.

Valentina só sentiu desprezo por dentro, nada além disso.

Nos últimos seis meses, ele já tinha dado um bolo nela tantas vezes que talvez nem ele lembrasse quantas mentiras contou.

Toda vez que Yasmin ligava, ele saía correndo, e Valentina queria saber se ele sentia algum pingo de culpa por isso.

Dizia que não queria o divórcio, mas pelo jeito que agia, onde ele ainda a via como esposa?

Se ainda ligasse a mínima, alguém tão cuidadoso como ele teria percebido que várias coisas dela tinham sumido da casa.

Ela tinha comprado um apartamento para si. Quanto àquela mansão, ela já havia publicado o anúncio de venda no cartório de imóveis.

Afinal, aquela mansão tinha sido desenhada e construída por ela mesma. Claro que não deixaria aquilo para ele.

Órfã desde pequena, quando Henrique a pediu em casamento, ela acreditou que finalmente teria alguém que nunca a abandonaria na vida.

Para ela, ele era mais do que um amor, era família. Por isso, passou quase dois anos criando, com as próprias mãos, aquele lar para os dois...

Valentina soltou um sorriso amargo e continuou a arrumar suas coisas.

Ao olhar o armário cheio de itens de luxo, sentiu uma dor no peito que não conseguiu controlar.

Antes, ele só tinha olhos para ela. Sempre lembrava das datas comemorativas e preparava presentes com carinho. Mas, de dois anos para cá, aquilo tinha deixado de acontecer.

A relação dele com Yasmin claramente não tinha começado há apenas um ano. Só descobriu na madrugada passada que foi a própria cunhada quem tinha apresentado os dois de propósito.

Ela procurou na internet um serviço de revenda de artigos de luxo, chamou eles para virem buscar em casa mesmo, e doou todo o dinheiro para uma instituição de caridade.

Como se tivesse adivinhado, justo quando pegava a mala para sair, recebeu uma ligação de alguém que nunca a procurava: a cunhada Cecília Duarte.

Ao ver o nome dela piscando na tela, os olhos de Valentina se estreitaram. Ela atendeu direto:

— O que foi?

— A mãe quer que você passe lá. Disse que pegou um remédio tradicional que ajuda a engravidar.

Mesmo que ela ainda não tivesse se divorciado de Henrique, Valentina sabia que a sogra nunca teria aquela boa vontade.

Era óbvio que Cecília tinha segundas intenções. Então Valentina respondeu de propósito:

— Tem que ser hoje?

— Tem sim, e de preferência agora.

Valentina respirou fundo e respondeu com frieza:

— Tá bom.

**

A mansão à beira-mar ficava a quase quarenta minutos de carro da mansão da família Duarte, e Valentina chegou bem na hora do almoço.

O mordomo se surpreendeu ao ver ela.

— Srta. Valentina? O que você está fazendo aqui?

O Sr. Henrique e a Srta. Yasmin também estavam por lá. E se eles se encontrassem? O mordomo estava suando por dentro.

Srta. Valentina...

Ela foi casada com Henrique por três anos, mas a sogra nunca permitiu que os empregados a chamassem de Sra. Duarte.

No passado, ouvir aquele tratamento sempre dava a ela um nó na garganta. Mas naquele momento...

Ela até preferia assim!

Valentina deu um olhar direto ao mordomo.

— O que foi? Não posso vir aqui?

Foi a primeira vez que ele foi tratado assim por Valentina e o mordomo demorou alguns segundos para reagir.

— Vou avisar a Sra. Duarte.

Antes que Valentina dissesse qualquer coisa, ele já havia corrido para dentro da mansão e deixando ela do lado de fora.

Sem permissão, ela nem tinha mais o direito de entrar na mansão da família Duarte!

Eles provavelmente já tinham esquecido que metade de tudo o que a família Duarte era naquele dia se devia a Valentina.

Aproveitavam tudo o que ela quase deu a vida para conquistar, e ainda tinham a coragem de olhar ela de cima para baixo. Que gente sem vergonha!

Cinco minutos depois, o mordomo voltou e abriu o portão.

— Srta. Valentina, por favor, me acompanhe.

Ela o seguiu até a sala de estar da mansão da família Duarte.

Assim que chegou no hall, ouviu uma voz doce de Yasmin:

— Rique, você está cada vez melhor na cozinha! Adorei todos os pratos.

— Ah, claro. Meu irmão aprendeu a cozinhar só por sua causa.

Mesmo já tendo se preparado para aquilo, ouvir que Henrique cozinhava para Yasmin ainda causava um incômodo.

Eles estiveram juntos por tantos anos e, mesmo nos melhores momentos do casamento, Henrique nunca havia feito sequer uma refeição para ela.

Nem pense em cozinhar, ele nunca tinha feito nem uma tarefa doméstica. Até as roupas íntimas dele ela que tinha que lavar, como se fosse obrigação dela.

— Hahaha... — Ela soltou um riso frio, engolindo o gosto amargo que sentia. E então caminhou até a sala de jantar.

Henrique, Yasmin, a sogra Gabriela Furtado e a cunhada Cecília estavam à mesa, conversando e rindo como uma família feliz.

E ela... Parecia uma intrusa.

Henrique estava colocando comida no prato de Yasmin quando viu Valentina entrar. Seus olhos se arregalaram de surpresa.

— O que você está fazendo aqui?

Ele sabia que a mãe dele não gostava de Valentina, então ela quase nunca aparecia naquela casa. Por que ela veio naquele momento, de repente?

Será que, como da última vez, ela o tinha seguido?

Percebendo a mudança no rosto de Henrique, Valentina desviou o olhar para Cecília, que assistia tudo com cara de quem já esperava o show.

— Sua irmã me ligou, disse que sua mãe pediu para eu vir. — Disse ela com um sorriso sarcástico. — Mas você não estava com um cliente? Ou será que a sua cliente é a Srta. Yasmin? Nossa, a Srta. Yasmin deve ser mesmo importante, hein? A ponto de precisar da presença da sua mãe e da sua irmã, até a família inteira fazendo sala!