Capítulo 1

— Lene, você tá bem? Abre os olhos, por favor! Não me assusta assim!

A voz conhecida ecoou pelos meus ouvidos. Abri os olhos, atônita, e fui engolida por uma onda que me fez tossir com violência.

Eu renasci. E justo no instante em que Diana Castanho me empurrava do cruzeiro.

Sem tempo para pensar, agarrei com uma das mãos Noemi Bastos, a mãe de Ícaro Cintra, e com a outra comecei a bater na água, desesperada para nos aproximar do navio.

— Mãe, não fala nada agora. Guarda suas forças. Eu vou te levar de volta em segurança, prometo.

As ondas estavam bravas. Uma delas nos atingiu em cheio, e por alguns segundos não conseguíamos nem respirar.

Noemi deixou que eu a puxasse. Assim que conseguiu recuperar o fôlego, levou a mão à boca em forma de concha e gritou com toda força para o cruzeiro:

— Ícaro! Eu e a Solene fomos empurradas por aquela desgraçada da Diana! Manda alguém vir agora! Eu sempre disse que essa mulher era perigosa! Isso foi tentativa de assassinato!

Olhei para Noemi, tomada por uma sensação agridoce.

Ela ainda não sabia... que Diana, ao ouvir os gritos de socorro, se jogaria no mar do lado oposto do navio.

Tudo planejado. Para que Ícaro se voltasse apenas para ela. Para que esquecesse a esposa e a própria mãe.

E como previsto, do outro lado do navio, logo ecoou um grito agudo:

— Ícaro! Socorro! Me ajuda!

Na sequência, ouvi a voz dele, tomada de pânico:

— Diana, aguenta firme! Eu tô indo!

— Todo mundo, AGORA! Pulando na água! Salvem a Diana, imediatamente!

Noemi arregalou os olhos ao reconhecer a voz do filho. E, antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma nova onda a atingiu com força. O choque, a raiva, a decepção... tudo de uma vez. Ela perdeu os sentidos e desmaiou nos meus braços.

Meu corpo ficou mais pesado de repente. As lágrimas começaram a cair sem controle.

Mas mesmo diante do mar revolto, mordi os lábios com força e não deixei escapar nenhum som.

A brisa salgada trouxe consigo fragmentos da conversa entre Ícaro e Diana:

— Como você caiu na água? E a Solene?

— Foi ela quem me empurrou! Disse que queria me fazer desaparecer no mar, sem deixar rastros. Depois disso, se escondeu... — A voz dela vacilava. — Ícaro, estou passando mal, cof...

— Diana, não fecha os olhos! Fica comigo!

— Virem o navio agora! Vamos voltar pra terra e levar a Diana pro melhor hospital! — Ícaro ordenou ansiosamente.

— Mas, senhor, a senhora e a Sra. Noemi parecem não estar a bordo. Há indícios de que também caíram no mar.

— Aquela vadia da Solene Azevedo empurrou a Diana! Deve estar escondida em algum canto! Deixem ela pra lá! Quando eu encontrar essa mulher, vai ter que ajoelhar e pedir perdão à Diana!

Senti o desespero me arrancar o ar do peito. As forças me abandonaram num instante.

De repente, Noemi tossiu e cuspiu um jato d’água.

Acordei do meu torpor. Com o coração disparado, continuei nadando, arrastando seu corpo desacordado.

Mas o motor do cruzeiro já rugia com força. As hélices giravam a toda velocidade, e as ondas impulsionadas batiam violentas no meu rosto.

O navio de Ícaro se afastava cada vez mais. E eu não conseguia mais alcançar.