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Capítulo 4

Author: Joe Dabay
Naquela tarde, Alice saiu de um antigo prédio comercial no centro da cidade. Quando deixou o lugar, a conta bancária dela estava 1,5 milhão de reais mais cheia.

A transação foi feita com uma daquelas empresas de empréstimo privadas, que exploravam seus clientes pior do que agiotas. Ela havia vendido a casa para a família de Ricardo por 2 milhões, mas, ao hipotecá-la para a empresa de empréstimos, só conseguiu 1,5 milhão de reais. Além disso, os juros eram absurdamente altos.

Alice havia assinado uma nota promissória com prazo de sete dias para pagar o empréstimo. Se ela não devolvesse 2 milhões de reais dentro desse período, a empresa ficaria com a casa.

Era um esquema feito para levar as pessoas à ruína, um buraco sem fundo projetado para tomar tudo de quem caísse nele. Mas Alice não estava nem um pouco preocupada, porque ela nunca teve a intenção de devolver o dinheiro. Na verdade, ela sabia que a casa já nem existia mais.

A data de vencimento do empréstimo era perfeita: o prazo de doze dias terminaria exatamente antes do início do apocalipse. Quando a empresa de empréstimos fosse atrás da casa, eles inevitavelmente teriam que lidar com a família de Ricardo.

Alice sabia que tanto a empresa quanto Ricardo eram pessoas difíceis de lidar. Ela estava curiosa para ver quem sairia vencedor dessa disputa. Mas, no fundo, ela tinha certeza de que ninguém ganharia. Afinal, em poucos dias, aquela casa acabaria reduzida a escombros.

Com os 1,5 milhão de reais em mãos, Alice se sentiu ainda mais ousada. Ela decidiu que não pararia por ali. Com um sorriso frio, Alice acionou todas as plataformas de empréstimos controladas por gangues e fez empréstimos em cada uma delas.

Ela sabia que essas organizações eram ainda mais implacáveis do que as empresas de empréstimos convencionais, mas isso não importava. Alice estava em uma corrida contra o tempo, e o apocalipse estava prestes a mudar todas as regras.

Depois de várias transações, Alice conseguiu mais 500 mil reais, totalizando 3,7 milhões de reais em sua conta. Agora, ela tinha recursos suficientes para fazer outra rodada de compras pesadas de suprimentos.

Com o dinheiro em mãos, Alice foi direto a uma fábrica de materiais de construção para continuar reforçando seu abrigo.

A primeira coisa que ela comprou foram 40 ou 50 câmeras de vigilância. Depois, foi até uma loja de geradores para adquirir um sistema de geração de energia.

Os geradores disponíveis no mercado incluíam opções de energia eólica, hidráulica, térmica e a diesel. Alice descartou as três primeiras opções porque eram difíceis de instalar, demoravam muito tempo e, na maioria dos casos, não estavam em estoque, precisando ser encomendadas de fábricas especializadas. A opção a diesel, por outro lado, era a mais prática e estava prontamente disponível.

— Qual a potência do gerador que você quer? — Perguntou o dono da loja.

— Quais opções você tem? — Alice respondeu com calma.

— Temos de 30 kW, 50 kW e outros entre 200 e 800 kW. Acima de mil kW, o preço é bem mais alto. — Explicou o dono da loja.

Alice começou a analisar as opções. Um gerador de 30 kW custava entre 10 e 20 mil reais. Os modelos intermediários, com potência de 200 kW, variavam entre 50 e 100 mil reais. Já os de 300 kW custavam a partir de 100 mil reais, com o preço dobrando para cada aumento significativo na potência. Para os modelos acima de mil kW, os preços começavam na casa dos milhões, especialmente os importados, que eram de 20% a 30% mais caros do que os nacionais.

— Um gerador nacional é mais que suficiente. A qualidade é excelente, tão boa quanto a dos importados. Além disso, os nacionais são mais duráveis e práticos. Os importados costumam ser mais exigentes quanto ao tipo de diesel usado. Você vai usar o gerador como reserva de energia para um restaurante? — Perguntou o dono da loja, tentando adivinhar o propósito da compra.

— Isso mesmo. — Alice respondeu, mantendo a fachada.

Ela precisava de energia para alimentar o sistema elétrico do abrigo e garantir iluminação diária. Um gerador de médio porte seria suficiente, mas Alice decidiu comprar o modelo mais potente disponível. Afinal, o Sistema recompensava com base na qualidade do equipamento adquirido. E, para Alice, só o melhor bastava.

— Quero o melhor que você tiver. Não vou economizar! — Alice declarou, exibindo um ar de pessoa rica.

Ela acabou comprando o gerador mais caro da loja, um modelo de 1.100 kW, que custava 1,2 milhão de reais.

O dono da loja, vendo a confiança de Alice, abriu um sorriso de orelha a orelha. Ele sabia que tinha feito uma venda excelente.

— Vou incluir algumas coisinhas extras para você. — Disse ele, tentando agradar.

Alice aproveitou a oferta e pediu tudo o que pudesse ser útil: tapetes de isolamento acústico, kits de ferramentas e outras peças pequenas. Ela exigiu que os itens menores, que não valiam muito, fossem incluídos como brindes.

O dono da loja não hesitou nem por um segundo. No final, ele ainda deu a Alice os últimos dez litros de diesel que tinha na loja.

Assim que viu o combustível, os olhos de Alice brilharam. Ela aproveitou a oportunidade para perguntar:

— Você conhece alguém que consiga vender diesel por um preço mais em conta?

Diesel não era algo fácil de se adquirir. Nos postos de combustível, a compra era limitada a poucos litros por vez, e ainda era necessário apresentar documento de identidade e registrar a compra. Muitas vezes, os postos sequer vendiam diesel ou gasolina a granel, apenas abasteciam veículos diretamente.

Mas lojas que vendiam geradores, como aquela, provavelmente tinham contatos e sabiam de "caminhos alternativos".

Ela já suspeitava que negócios como aquele estavam conectados a certas redes clandestinas. Existia um mercado negro para combustível, conhecido como "óleo ilegal". Pequenos refinadores ilegais compravam petróleo bruto de grandes campos, ou contrabandeavam óleo refinado vindo do mar, e depois processavam e vendiam diesel e gasolina em segredo.

Assim que Alice terminou de falar, o dono da loja lançou um olhar misterioso e a chamou para um canto. Ele entregou a ela um cartão de visita e disse:

— Se você precisar de diesel, ligue para esse número. Diga que fui eu quem indicou, e eles vão te dar um desconto. É pelo menos 20% mais barato que o preço do mercado.

— Obrigada. — Alice pegou o cartão com um sorriso discreto.

Ao sair da loja, o dono murmurou, como se estivesse refletindo sobre algo:

— Essa gripe que está se espalhando... está tudo tão parado ultimamente.

— É verdade. — Alice respondeu automaticamente, sem demonstrar nenhuma emoção, e saiu da loja a passos largos.

Ela sabia muito bem que essa gripe era apenas o prenúncio do apocalipse.

Duas semanas após o surto viral, as pessoas infectadas começariam a morrer de repente. Enquanto o mundo ainda estivesse de luto pela perda de seus entes queridos, os mortos começariam a "voltar à vida".

Mas, claro, eles não voltariam como humanos. O que retornaria seriam criaturas diferentes — os zumbis.

Na vida passada, Alice havia passado esse período ajudando Ricardo com os preparativos para o casamento. A esposa de Ricardo descobriu que estava grávida nesse meio-tempo, e Alice, além de pagar pelos móveis novos e pela reforma da casa, também a acompanhava em consultas médicas e exames no hospital.

No dia em que o apocalipse começou, Alice estava justamente no hospital com sua cunhada, esperando os resultados de um exame pré-natal. Ela se lembrava claramente do momento em que gritos começaram a ecoar pelos corredores.

Alice viu com seus próprios olhos um paciente que havia sido declarado morto durante a emergência levantar-se repentinamente e atacar um parente que estava ao seu lado.

Pessoas tentaram intervir, mas o parente ferido foi o primeiro a se transformar. Apenas cinco minutos após ter sido mordido, ele começou a convulsionar no chão. Quando finalmente se levantou, seu corpo estava tenso e sem nenhuma cor. Seus olhos haviam se transformado em um tom de cinza opaco, como os zumbis dos filmes.

Ele não tinha mais vida em seu olhar, apenas uma fome animal. Seus dentes amarelados se abriram em um grito horrível, antes de avançar sobre as pessoas que estavam ao redor e começar a mordê-las.

O hospital inteiro entrou em caos. Situações idênticas começaram a acontecer em todos os cantos do prédio.

Alice percebeu que qualquer pessoa mordida se transformava em cinco minutos, unindo-se ao ataque.

Ela sentiu medo, claro, mas sua necessidade de proteger sua cunhada grávida a fez permanecer incrivelmente calma. Com as mãos tremendo, ela encontrou uma arma improvisada e enfrentou os zumbis que avançavam. Lutando com todas as suas forças, ela conseguiu escapar do hospital com sua cunhada.

Mas foi justamente essa coragem e capacidade de liderança que fizeram sua família acreditar que Alice poderia resolver qualquer problema. A partir de então, tudo recaía sobre ela: buscar suprimentos, proteger os outros, enfrentar perigos. Alice era sempre a primeira a ser enviada para a linha de frente.

Naquela época, Alice acreditava que ser necessária, proteger sua família, era sua maior felicidade. Mas agora ela sabia que não estava protegendo uma família. Estava protegendo um bando de parasitas.

Nesta vida, ela não seria mais uma idiota.

Depois de comprar os materiais, Alice pediu ao dono da loja para entregar tudo diretamente no depósito que havia alugado. Durante o caminho, ela ligou para o contato indicado no cartão e fez um pedido de diesel.

Alice pediu ao fornecedor que entregasse os produtos diretamente no armazém e exigiu que a entrega fosse feita o mais rápido possível, preferencialmente no dia seguinte.

Alice foi direta: pediu que enviassem tudo o que tivessem em estoque. Ela comprou todo o diesel disponível, gastando 1 milhão de reais de uma só vez!

O fornecedor deu a ela um desconto de 25%, mas, mesmo assim, só um dia, Alice já havia gastado quase 2 milhões de reais.
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