Capítulo 3

Bruna observou as costas dos dois enquanto se afastavam.

Ela ergueu o rosto, tentando impedir que as lágrimas caíssem, forçando-se a suportar a dor enquanto empurrava a porta do carro e caminhava, trêmula, em direção à entrada do hospital.

No início da noite, uma forte chuva caiu, e Bruna não fez menção de se proteger, deixando que a água lavasse seu ferimento.

A enfermeira no balcão de triagem, ao vê-la, soltou um grito de espanto, cuidou imediatamente de seu machucado e a levou para exames.

Uma hora depois, Bruna, exausta, terminou todos os exames e só então pegou o celular.

Na tela, apareciam mais de dez chamadas não atendidas.

Todas de Henrique.

Ela não hesitou e desligou o aparelho.

Ao pensar que precisaria tomar soro até tarde da noite, Bruna pediu logo à enfermeira que abrisse um quarto de hospital para ela.

Meio atordoada, começou a se perder nas lembranças.

Desde que Henrique ficou deficiente, era ela quem o substituía nos jantares de negócios.

Certa vez, numa dessas mesas, dois presidentes de empresas discordaram e, no calor do momento, viraram a mesa, todos os pratos caíram no chão e os cacos de cerâmica atingiram seu pulso.

Henrique, ao saber do ocorrido, correu imediatamente até lá, mandou seu assistente encerrar os negócios com as duas empresas e, aflito, levou-a ao hospital para cuidar do ferimento.

Ela achou aquilo tudo um exagero, mas Henrique a acalmou com voz suave:

— Bruna, você é a mulher mais importante da minha vida. Além da gravidez e do parto, não quero ver nenhuma ferida em você.

— Uma mulher tem que estar sempre com a pele linda, assim fica ainda mais bonita com roupas e joias.

Agora, ela sangrava pelo rosto inteiro, e ele, por causa de outra mulher, a ignorava completamente.

Prometeu que não a deixaria se machucar, mas permitiu que ela arriscasse a vida doando medula para outra pessoa.

Até mesmo casar e ter filhos, ele fez escondido com outra.

Antes de dormir, Bruna viu que "A felicidade de Olívia" tinha postado um novo vídeo no TikTok.

Era um vídeo de Henrique, para ajudá-la a dormir, ajoelhando-se e lavando seus pés.

Bruna assistiu várias vezes, sentindo o peito apertado, sem conseguir dormir durante toda a noite.

Na manhã seguinte, Bruna voltou para casa a contragosto.

Assim que entrou na mansão, o mordomo Natan a recebeu com expressão preocupada:

— Senhora, o senhor está esperando por você ao lado da piscina, ele não está de bom humor…

Bruna caminhou até a área da piscina e, de longe, já viu Henrique consolando Olívia.

Olívia chorava baixinho, de um jeito que partia o coração de quem visse.

Quando Henrique percebeu que Bruna finalmente havia voltado, não conseguiu mais conter a raiva que estampava seu rosto, um frio cortante emanando de todo seu corpo:

— Foi você quem revelou o paradeiro de Olívia para o inimigo do pai dela?

Bruna parou por um instante.

Olhou para Olívia sentada no sofá, a jovem inclinava a cabeça, lançando-lhe um olhar de lado, com um sorriso vitorioso nos lábios vermelhos.

Naquele momento, Bruna entendeu tudo e, um pouco irritada, massageou as têmporas:

— Eu nem sei quem é o inimigo do pai dela, como poderia ter revelado o paradeiro dela?

O rosto de Henrique ficou ainda mais fechado, ele tirou um maço de fotos e jogou sobre a mesa diante de Bruna.

— E essas fotos de você encontrando o inimigo do Sr. Marcos, como explica?

Bruna baixou os olhos para as fotos na mesa, o rosto ficando frio.

Eram imagens de alguns dias atrás, quando ela vendeu artigos de luxo usados a um comprador numa cafeteria.

Agora fazia sentido aquele homem ter sido tão rápido, sem negociar preço, apenas exigindo que se encontrassem na cafeteria.

Vendo que Bruna não dizia nada, Henrique achou que ela estava admitindo, e seu rosto bonito ficou ainda mais sombrio.

— Eu já te disse: não importa o que digam sobre mim e a Olívia, entre nós não existe nada. Sempre a tratei como uma irmã, ela é uma pessoa realmente bondosa. E você está comigo há oito anos, você sabe como fui com você.

— Além disso, eu te pedi em casamento há poucos dias. Faz sentido você agir assim, machucando e prejudicando a Olívia?

Ao ouvir as palavras dele, o coração de Bruna doía como se fosse perfurado por agulhas.

Nos oito anos de relacionamento com Henrique, houve um ano em que ele se aproximou dela de propósito para defender Olívia, e cinco anos em que ele ficou deficiente e ela cuidou dele.

Durante aqueles cinco anos, ele era melancólico, teve crises, chorou de madrugada.

E tudo isso porque, para alimentar a vaidade de Olívia, ele se arriscou em corridas de carro.

No entanto, toda essa dor causada por Olívia, ele já esqueceu.

Durante aqueles cinco anos, para ajudá-lo na recuperação, ela se matriculou em fisioterapia sem contar a ele, massageava suas pernas todos os dias, nunca faltando uma vez sequer.

Naquele período, quando ele estava depressivo, ela procurou o melhor psicólogo de Cidade Luz, aprendendo como acalmar pacientes com deficiência.

Nada do que ela fez ficou na memória dele.

Realmente irônico.

Na verdade, Bruna queria perguntar: se ele só via Olívia como irmã, por que agora estava ajudando a irmã a fazer fertilização in vitro?

— Pois é, nesses oito anos, só agora entendi como você me tratava e como tratava ela.

Henrique ficou mais sério:

— O que você está querendo com tudo isso?

Bruna não quis discutir, apontou para o curativo na cabeça e sorriu com amargura:

— Ontem, quando ela foi sequestrada, eu também me machuquei, levei cinco pontos na cabeça. Eu seria tão estúpida a ponto de me ferir assim só para machucá-la?

Mesmo após Bruna mostrar seu ferimento, Henrique, agora completamente voltado para Olívia, continuou sem confiar nela.

Bruna olhou para a mandíbula tensa daquele homem, e agradeceu por em três dias poder ir embora.

— Henrique, já que você acredita que fui eu, diga, como quer resolver isso?