Capítulo 2

Zoe, do outro lado da linha, pareceu surpresa e empolgada ao mesmo tempo. — Sério? Tessa, estou tão orgulhosa de você! Mas esse projeto vai ser muito difícil. A alcateia pra onde você está indo está no meio de uma guerra. Seu Alpha vai deixar você ir?

Apertei o telefone com força e disse com determinação: — Não importa se ele concorda ou não. Essa é a minha decisão.

No momento em que desliguei, uma onda de tontura me atingiu.

Os efeitos colaterais do transplante de medula voltaram com tudo. Me inclinei para trás, esperando me apoiar na parede. Mas no segundo em que dei um passo para trás, bati em um peito sólido.

Eu congelei.

Cayden estava franzindo a testa. — Com quem você estava no telefone? Que projeto?

Me recompus e menti calmamente: — Minha mentora estava perguntando se eu queria entrar na equipe de apoio médico da alcateia.

Ele não perguntou mais nada. Apenas disse em tom de comando: — A cirurgia de transfusão de sangue está marcada para a semana que vem. Vou levar Rosie pra casa pra eu cuidar dela até lá. Não quero ver mais nenhum daqueles desenhos meus no escritório. A última coisa que eu quero é que Rosie tenha uma ideia errada.

Virei o rosto e cravei as unhas na palma da mão, usando a dor para suprimir a tempestade no meu peito. Então disse baixinho: — Tudo bem.

Os desenhos que ele achava que não passavam de bagunça na verdade continham cada pedaço do meu amor e da minha saudade, com cada traço moldado na imagem dele.

Mas pra ele, eram apenas tralhas que precisavam ser descartadas.

Ele pareceu satisfeito com minha obediência. Sem dizer mais nada, virou e entrou no quarto.

Uma hora depois, ele estava cuidadosamente ajudando Rosie a entrar no carro, segurando-a como se ela fosse feita de vidro.

Ela deslizou para o banco do passageiro como se ele sempre tivesse pertencido a ela.

Fiquei atônita por um momento. Assim que estendi a mão para a porta de trás, o carro arrancou sem nem fazer uma pausa.

Fiquei ali parada, congelada. Meu celular vibrou, e olhei para baixo para ver uma mensagem dele.

"Rosie tem TOC. Ela não gosta do cheiro de estranhos. Você deveria encontrar seu próprio jeito de voltar pra casa."

Fiquei encarando aquela mensagem enquanto a luz nos meus olhos lentamente se apagava.

Chamei um táxi. O motorista me olhou pelo retrovisor e perguntou com preocupação: — Moça, seu rosto está bem? Está doendo? Precisa ver um curandeiro?

Balancei a cabeça. — Estou bem. Vai sarar logo.

Mas lá no fundo, havia uma pontada amarga.

Acontece que um completo estranho podia ser mais atencioso do que alguém que deveria ser minha família.

Pelo menos ele perguntou se meu rosto estava doendo.

Abri a porta da mansão assim que cheguei. Cayden não estava em lugar nenhum. Em vez disso, vi Rosie esparramada no sofá, virando uma medalha de honra na mão.

Meu sangue gelou.

Era a única coisa que meu falecido pai me deixou. Eu sempre a mantive trancada no cofre, preciosa demais para eu mesma tocar, a não ser que fosse absolutamente necessário.

Corri até ela, estendi a mão e disse friamente: — Isso pertencia ao meu pai. É tudo que me restou dele. Devolve. E por que você estava no meu quarto?

Ela me lançou um olhar desdenhoso, mas antes que pudesse responder, a voz de Cayden veio das escadas. — Por que ela não poderia estar?

Ele desceu devagar, me olhando de cima. — Rosie é minha companheira destinada, e ela será a senhora desta casa. Ela pode fazer o que quiser e ir onde quiser. Se ela quiser morar no seu quarto, você não tem voz nisso.

Eu estava tremendo de raiva.

Rosie ficou ainda mais atrevida agora que tinha o apoio dele. — É só uma medalha idiota. Toma, pega.

Ela jogou descuidadamente na minha direção.

Imediatamente estendi a mão para pegá-la, mas a medalha escorregou entre meus dedos e atingiu o chão com um estalo agudo, se despedaçando em pedaços.

— Não! — Naquele momento, meu coração também se partiu.

Era a última conexão que eu tinha com meu pai.

Eu não entendia. Será que me apaixonar pelo meu companheiro destinado era mesmo um crime tão imperdoável? Por que parecia que eu não tinha nem permissão de guardar o último presente do meu pai?

Talvez alguém como eu não merecesse felicidade.

Empurrei Rosie para o lado, caí de joelhos e desesperadamente tentei juntar os pedaços da medalha, mas era inútil.

Ela recuou como se estivesse com medo, fazendo uma cena de coitada e se encolhendo para o lado.

Cayden franziu a testa. Parecia que ele nunca tinha me visto desmoronar assim antes. Estava prestes a me ajudar a levantar quando Rosie agarrou a manga dele e disse suavemente, como se estivesse magoada: — Tessa não vai dificultar as coisas pra mim por causa disso, né? E se ela se recusar a fazer a transfusão?

Em um piscar de olhos, o rosto de Cayden ficou frio. — Chega. Ela não fez de propósito. Me diz quanto valia. Eu te pago.

— Pagar? — Olhei para aquele rosto frio e distante. De repente, eu ri, mas era o tipo de riso que soava mais como choro.

Gentilmente juntei os pedaços quebrados da medalha, me levantei e disse: — Deixa pra lá, Alfa. Não valia nada.

Nada valia nada para pessoas que não sabiam o que aquilo significava.

Aquela medalha era igual ao meu amor por ele — ambos sem valor aos olhos dele. Eu deveria ter desapegado há muito tempo.

E com isso, me virei e fui embora.

Cayden ficou parado no lugar, atônito com o título que eu não usava há anos: "Alfa".