Capítulo 1

Cayden Gates disse: — Por favor, Tessa. Um pouco de sangue não significa nada pra você, mas sem ele, Rosie vai morrer. Se você aceitar salvá-la, eu concordo com qualquer coisa que você pedir.

A voz grave dele ecoou nos meus ouvidos, me puxando de volta das garras geladas da morte.

Eu voltei à vida no exato dia em que ele me implorou para doar sangue para Rosie Lloyd. Eu o recusei na minha vida passada. E no final, me afoguei em um lago congelante, consumida pela humilhação.

Eu já tinha doado metade da minha medula óssea para salvá-lo. Minha loba mal estava se aguentando, lutando para se recuperar. Não havia a menor chance do meu corpo aguentar outra transfusão.

Mas nesta vida, eu enxergava as coisas com clareza. Doar me mataria, mas recusar também.

Então, considerei esse sangue meu pagamento final. Depois disso, não deveria mais nada à família Gates, e não teria mais nada a ver com ele.

Levantei a cabeça, encontrei o olhar conflitado dele e respondi com firmeza: — Eu aceito.

Todas as palavras que ele tinha preparado ficaram presas na garganta.

O médico ao nosso lado ficou alarmado. — Senhorita Tessa Smith, por favor, pense bem! Sua condição já é crítica. Uma transfusão completa pode custar sua vida!

É claro que eu sabia disso. Mas se a morte significava que eu finalmente poderia escapar de Cayden e desse lugar sufocante, que assim fosse.

Quando Cayden viu que eu assinei o termo de consentimento sem hesitar, a tensão no rosto dele finalmente aliviou. Ele me olhou e disse com a voz suave: — Já que você concordou, vou manter minha palavra. O que você quiser, é só pedir.

Respirei fundo e disse calmamente: — Eu só tenho um pedido, e é cortar todos os laços com a família Gates. A partir de agora, não faço mais parte de vocês.

Ele franziu as sobrancelhas. — Você está falando sério?

Provavelmente achou que eu aproveitaria essa chance para forçá-lo a me marcar e me tornar sua companheira. Não esperava que eu quisesse ir embora de vez.

Olhei para ele sem vacilar e assenti.

Ele me encarou por alguns segundos, como se algo tivesse acabado de fazer sentido. Sua expressão ficou sombria, e sua voz carregava um tom de aviso. — Tessa, para de joguinhos. Ir embora da família Gates não significa que existe alguma chance entre nós. Minha companheira destinada é Rosie. Ela é a única com quem eu vou me unir.

Lá no fundo, minha loba uivou de angústia. Eu sabia que ela queria dizer que a companheira destinada dele era na verdade eu.

Mas eu não me importava mais. Apenas disse baixinho: — Entendi.

A humilhação do passado ainda estava vívida na minha mente. Eu sabia que Rosie tinha usado algum truque para turvar a percepção dele sobre nosso vínculo. Eu trouxe provas e contei tudo, mas ele nunca acreditou em mim.

Então nesta vida, eu só queria distância. O máximo possível.

Ele me olhou por mais um momento. Era como se sentisse algo diferente em mim, mas não conseguisse identificar o quê. Abriu a boca como se quisesse falar, mas o choro fraco de Rosie vindo do quarto o interrompeu.

Ele correu até ela sem pensar duas vezes. Eu hesitei, depois o segui.

Ela estava encostada na cabeceira da cama com os olhos marejados, dizendo com a voz trêmula: — Cayden, para de pressionar a Tessa. Ela me odeia. Eu sei que ela nunca concordaria em me ajudar...

Antes que ela pudesse terminar, Cayden pegou a mão dela e disse com a voz cheia de alívio: — Rosie, ela aceitou. Você vai ficar bem!

Ela me encarou em choque, depois seus olhos ficaram venenosos. — Ela pediu pra você marcá-la em troca?

Antes que ele pudesse responder, ela me deu um tapa no rosto. — Tessa, você não tem vergonha? Cayden é seu irmão. Como você ousa ter esses pensamentos nojentos sobre ele?

Ela chorou, apertando o peito. — Cayden, se você marcá-la, eu me mato!

Vi Cayden instintivamente dar um passo na minha direção como se quisesse me proteger. Mas então ele se conteve e reprimiu o impulso.

Ele virou nos calcanhares e envolveu Rosie firmemente nos braços. — Rosie, você é minha única companheira e a única que eu vou marcar. Quanto a qualquer outra pessoa? Nem pensar.

Pressionei a mão na bochecha ardendo e soltei uma risada amarga antes de me virar para sair. Mas parei quando ouvi as vozes deles atrás de mim.

— Você está dizendo que... O médico te disse que o corpo da Tessa está fraco demais e que me dar sangue poderia matá-la, mas você ainda assim a fez fazer isso? — Rosie perguntou.

Eu parei por um segundo, envergonhada pelo resquício ridículo de esperança que ainda tinha pela resposta dele.

Ele hesitou por um momento, mas a indiferença fria na voz dele que veio em seguida destruiu qualquer esperança que eu ainda tivesse. — Você me deu sua medula óssea e me salvou uma vez. Não posso simplesmente assistir você morrer. Mas a Tessa sempre foi saudável. Como ela poderia de repente estar fraca demais para doar sangue justo quando você precisava? Vai saber se ela não pagou o médico e armou tudo isso só pra parecer boa na minha frente. A coisa mais importante para um lobisomem é sua companheira destinada. Eu só quero que você melhore logo.

Balancei a cabeça e sorri com amargura.

É, a companheira de um lobisomem significava tudo. Mas acho que nem a Deusa da Lua poderia ter previsto que um lobisomem confundiria a pessoa errada como sua companheira destinada.

Se Cayden descobrisse que eu era sua verdadeira companheira... será que ele se arrependeria?

Provavelmente não. Ele estava emaranhado demais nas mentiras dela.

Essa verdade seria enterrada comigo.

Saí do quarto, tirei alguns momentos para me recompor e então liguei para minha mentora, Zoe Brown.

— Sra. Brown, eu decidi participar daquele programa de curandeiros em zona de guerra que a senhora mencionou antes.

Já que não me restava muito tempo, era melhor fazer valer a pena.