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Capítulo 3

Author: Mel Soares
Quando Margarida desceu as escadas, notou que havia várias pessoas reunidas na sala de estar. No meio de todos, estava uma figura muito familiar. Alguém que ela só tinha visto pela televisão no dia passado.

— Margarida, por que demorou tanto? — Luísa se levantou do sofá num rompante e a puxou para perto, sem muita delicadeza, lhe lançando um olhar de leve reprovação. — Eu mandei a empregada te chamar faz tempo... Aconteceu o quê? Ficou dormindo demais? Sua futura cunhada está aqui embaixo esperando você há um tempão!

A futura cunhada a que Luísa se referia era ninguém menos do que Leonor Almeida, a noiva recém-anunciada de Augusto e a filha da família Almeida.

Talvez porque estivessem vivendo dias de intenso romance, até naquele momento Leonor continuava usando o sapato de cristal que Augusto lhe havia dado publicamente no dia anterior.

Visto de longe, ela parecia um cisne nobre. Mas, graças ao rosto doce e aos olhos grandes e arredondados, ainda tinha um ar de menina, quase infantil.

Augusto estava sentado ao lado dela, vestindo um terno claro e usando óculos de armação dourada. Talvez pela forma como a luz refletia nas lentes, era difícil adivinhar o que ele estava pensando. No entanto, quando Luísa se referiu a Leonor como "futura cunhada", ele não deu qualquer reação. Nem de confirmação, nem de protesto.

Foi então que se ouviu Leonor, com uma voz meiga e cheia de timidez:

— Ah, Luísa, não diga assim... O Augusto ficou aqui embaixo comigo esse tempo todo, e eu fiquei feliz de verdade.

Em seguida, no entanto, ela piscou os olhos grandes para Margarida, mudando repentinamente o tom:

— Mas, Margarida, como você consegue ficar tranquila enquanto a gente espera?

O contraste entre a doçura anterior e essa repreensão tão direta era chocante. Nada tímida, Leonor falava como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

Não era à toa que diziam nos círculos sociais que a herdeira da família Almeida não era uma pessoa comum. Seu temperamento volátil era tão famoso quanto sua beleza estonteante.

Margarida apertou os dedos gelados uns contra os outros e forçou os lábios num sorriso que não alcançava os olhos.

— Me desculpe, Srta. Leonor.

— Só um pedido de desculpa assim, tão básico, me parece pouco sincero, não é? — Leonor se virou para Augusto, cruzando os braços com leve altivez. — Já que é a minha primeira vez visitando a família Carvalho, que tal a Margarida me acompanhar num passeio pela casa?

Assim que terminou de falar, Leonor se levantou do sofá e segurou firmemente o braço de Margarida.

Para qualquer convidada que fosse namorada e potencial futura esposa de Augusto, era perfeitamente razoável querer conhecer cada cantinho da mansão da família Carvalho. E, como era a primeira visita de Leonor, não houve quem contestasse.

Entretanto, Margarida estava com a perna ferida desde a noite anterior, mal conseguindo ficar em pé, quanto mais fazer um tour prolongado pela propriedade. Mesmo tentando se manter firme ao descer as escadas, seu passo mancou aqui e ali, denunciando sua dificuldade.

Margarida não tinha certeza se Leonor não reparava em nada ou se, ao contrário, fingia não notar de propósito.

Instintivamente, Margarida quis recusar, mas antes que conseguisse dar alguma resposta, a voz serena, porém inegociável, de Augusto soou:

— Margarida, se a Leonor quer que você acompanhe ela, então mostre a mansão a ela.

O coração de Margarida deu um salto dolorido. Ela ergueu o olhar, incrédula, na direção de Augusto. Porém, já no instante seguinte, satisfeita ao ter sido atendida, Leonor deu uma risadinha e puxou Margarida para o jardim, quase correndo.

A mansão da família Carvalho havia sido projetada por um renomado arquiteto, que elaborou um amplo jardim cheio de detalhes. Não se tratava apenas de um espaço compacto ao redor da casa, havia pedras ornamentais, um lago artificial repleto de carpas e toda uma área verde de tirar o fôlego. O problema era que dar a volta por ali dificilmente levaria menos de trinta minutos.

Para Margarida, cada passo era um tormento. Desde a noite passada, a dor em sua perna não dava trégua. Em poucos minutos de caminhada, ela já estava suando, com a sensação incômoda de que a bandagem em sua perna estava encharcando de sangue outra vez.

Ainda assim, Leonor parecia completamente alheia à situação e falava sem parar, sem demonstrar qualquer preocupação.

— Margarida, você entrou na família Carvalho porque sua mãe se casou com o Carlos, né? Mas me conta, por que seus pais se separaram?

Margarida respondeu, abaixando os olhos:

— Na verdade, meu pai faleceu. Eu só tinha sete anos quando ele sofreu um acidente e não resistiu. Minha mãe ficou sozinha comigo até encontrar o Carlos no ano seguinte. Foi então que eles se casaram.

— Então quer dizer que, no fim das contas, você acabou tendo sorte na desgraça, Margarida? — Leonor lançou um olhar firme na direção dela e prosseguiu em tom incômodo. — Veja só, você perdeu o pai, mas passou todos esses anos morando na família Carvalho, e todos sempre te trataram tão bem. Não é uma vida feliz? Além disso, ouvi dizer que apesar de ter se formado em Escultura, você nunca produziu nada de realmente notável após a formatura. Só aparece ocasionalmente num museu para fazer trabalho voluntário. Já eu fui cobrada a ser exemplar desde criança e, assim que me formei, entrei direto no Grupo Almeida como diretora, conduzindo uma equipe inteira em vários projetos.

Leonor fez uma pequena pausa antes de continuar, com um sorriso que não chegava verdadeiramente aos olhos:

— Ah, e a razão de eu ter conhecido o Augusto foi por causa de um projeto que fizemos juntos há cerca de um ano. Passamos muito tempo lado a lado, até que os sentimentos surgiram e ficamos cada vez mais próximos. Você não acha, Margarida, que se eu ficasse em casa o dia todo sem fazer nada, igual a você, jamais teria encontrado o Augusto?

Margarida não respondeu. Seu rosto, já pálido pela dor, mostrou um novo traço de sofrimento contido.

Notando a expressão dela, Leonor a mediu de cima a baixo e perguntou com aparente curiosidade:

— Ué, Margarida, não vai ficar zangada, né? Tudo bem que talvez você não tenha muita competência, mas ao menos esse seu rostinho não é de se jogar fora. E, pelo que ouvi, meu irmão ainda te deve um favor gigantesco, correto?

"Meu irmão?" Margarida teve um sobressalto ao perceber que Leonor evitava mencionar o nome dele de propósito. Mas ela logo pensou em Vicente Almeida, o homem de reputação impressionante na família Almeida e que, mesmo sem o nome da família, permaneceria no topo da pirâmide social, sempre tão reservado e distante.

Assim como Augusto, Vicente conhecia Margarida desde a juventude. Ela havia o ajudado numa situação delicada, e ele jamais se esqueceu disso.

No entanto, Margarida nunca se sentiu merecedora de tal gratidão e preferia não comentar o assunto com ninguém. Lá, no fundo, pretendia passar a vida inteira sem jamais cobrar esse favor.

Ao que tudo indicava, Leonor já tinha investigado tudo.

Margarida parou de andar, respirou fundo e enfim perguntou sem rodeios:

— Srta. Leonor, o que exatamente você quer dizer com tudo isso?

— Eu? Não quero dizer nada de mais, Margarida. Só acho curioso como todo mundo parece ter tanto apreço por você. — Soltou Leonor, erguendo a voz de maneira ligeiramente estridente na última frase. Num movimento repentino, ela tirou os sapatos de cristal que estava usando.

— Pronto, pode ir agora. Vou ficar aqui um tempinho para brincar na beira do lago de carpas. — Disse isso como quem dispensa um cachorro, sem qualquer cerimônia. Em seguida, ela se aproximou do lago e, na ponta dos pés alvos, mergulhou-os levemente na água para chamar a atenção dos peixes.

Margarida ficou imóvel alguns instantes. Lançou um olhar rápido ao par de sapatos que cintilava sobre a grama e se retirou, mantendo a cabeça erguida. Um impulso interno a fazia querer ficar o mais longe possível de Leonor.

Já em seu quarto, sozinha, Margarida desfez com cuidado o curativo. Como temia, o ferimento, que já estava frágil, abrira de novo. O sangue vermelho vivo enrubesceu toda a gaze, uma cena capaz de impressionar qualquer um. Trincando os dentes, ela suportou a dor a ponto de quase perder a visão por instantes, mas conseguiu refazer o curativo.

Porém, pouco depois, ouviu batidas familiares à porta. Dessa vez, era Luísa, que entrou apressada, falando num tom urgente:

— Margarida! Sumiram os sapatos de cristal da Srta. Leonor. Vá rápido lá embaixo, ela quer explicações!

"O que isso quer dizer?", pensou Margarida, atônita. Amparando-se na parede, ela abriu a porta e perguntou:

— Os sapatos de cristal da Leonor sumiram... E por que estão me chamando?

— É você quem deve explicar! — Com o rosto pálido de nervoso, Luísa pareceu prestes a perder a paciência. — Aqueles sapatos foram feitos sob encomenda, um presente especial que o Augusto deu à Leonor como prova de amor. Agora há pouco, ela quis conhecer a propriedade da família, e só você ficou com ela. De repente, você sai no meio do passeio sem dar satisfação e, olha só, os sapatos simplesmente desapareceram! Então, é melhor você devolver isso agora mesmo e descer para se desculpar com Leonor!
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