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Capítulo 2

Author: Mel Soares
Claramente, Augusto havia acabado de retornar do Hotel Luar e agora se encontrava no pequeno quarto de Margarida. Ainda usando seu elegante terno branco, que exalava uma aura de sofisticação, ele se destacava à distância com sua postura impecável, o semblante terno e a aparência de um personagem saído de uma pintura.

Assim como há treze anos, bastava um olhar para que Margarida se perdesse nele.

Entretanto, pela primeira vez, Margarida sentiu estranheza ao olhar para o homem que estava ao seu lado dia e noite por tanto tempo.

Ao erguer o olhar, Augusto percebeu a aparência desleixada de Margarida, com o pé machucado, e franziu levemente a testa.

— Como é que você se machucou assim? — Perguntou Augusto, o tom de sua voz, suave e repleto de uma preocupação sutil, fazendo parecer que nada havia mudado desde os velhos tempos.

Apertando a maçaneta com mais força, Margarida permaneceu imóvel antes de responder, num tom contido:

— Hoje, fui ajudar no museu de artes e acabei me envolvendo em um imprevisto.

— Você já foi ao hospital? — Inquiriu Augusto.

— Fui. — Replicou Margarida, de maneira breve.

— Você me ligou a tarde inteira por causa disso? Desculpe, mas na próxima vez, vou pedir que meu assistente te acompanhe. Além disso, evite ir ao museu. — Continuou ele, com um tom de cuidado. — Não é seguro.

Enquanto segurava a testa com um gesto contido, Augusto falava com a mesma voz encantadora de sempre, como se os tempos idos tivessem simplesmente voltado. Mas, mesmo assim, Margarida sabia, com o coração apertado, que tudo havia mudado.

Antes, bastava que Margarida machucasse o tornozelo ou sofresse um pequeno corte na mão, Augusto imediatamente se adiantaria, seguraria sua mão com tanta delicadeza e preocupação, examinando-a e cuidando pessoalmente do ferimento.

Porém, naquele momento ele permanecia a distância, observando-a sem maiores demonstrações de afeto, e seu pedido de desculpas soava tão frio e superficial.

Mais do que isso, mesmo de longe, Margarida conseguia sentir um perfume doce, quase enjoativo, que não era o seu. Era um aroma marcante, com uma feminilidade que não lhe pertencia, deixando claro que ele foi muito próximo de outra mulher.

Naquele instante, emoções complicadas se revelavam sem que precisassem de explicação.

Com os lábios comprimidos, Margarida soltou:

— Augusto, o que significaram esses três anos para você? Afinal, quem eu sou para você?

— Margarida, você sempre é minha família. — Augusto baixou o olhar, demorando alguns instantes, antes de retirar lentamente a mão da testa e continuar. — Eu sei que você viu as notícias. Não quero te enganar. Realmente estou prestes a ficar noivo de Leonor. Como herdeiro da família Carvalho, sinto a obrigação de assumir responsabilidades e casar com alguém de condição compatível. Mas fique tranquila, depois do casamento, nossa relação continua exatamente como era.

O silêncio se instalou no quarto, e por um instante Margarida ficou sem palavras. A dor, que antes era parcialmente abafada pelos remédios, parecia agora se espalhar como agulhadas, subindo dos ferimentos aos seus membros e alcançando seu coração, a ponto de fazê-la perder o fôlego e soltar uma risada amarga, reflexo de sua incredulidade.

— Augusto, você falou tanto... Quer dizer que, para você, esses três anos não foram um namoro, mas meramente um caso escondido? Que eu nunca fui sua namorada, mas apenas sua amante. E agora insiste para que eu continue nessa posição, mesmo depois do seu casamento? — Ela perguntou, com a voz trêmula, mas determinada.

Augusto fixou o olhar nela por longos instantes e, por fim, acenou de leve.

— Sim.

Com as mãos trêmulas, Margarida recorreu à parede próxima. Jamais imaginava que o que ela considerava um primeiro amor puro e belo pudesse ser tão desprezível aos olhos de Augusto. Ele a enganou, mas ela não podia mais enganar a si mesma.

— Eu não aceito esse arranjo. — Ela declarou com firmeza enquanto, lentamente, se endireitava. As lágrimas em seus olhos eram tampadas com um gesto resoluto, e, por trás delas, outra luz começava a brilhar. Era uma chama profunda que redescobria com uma beleza impressionante.

Augusto fez uma breve pausa, então perguntou:

— O que você quer?

Margarida respondeu, pronunciando cada palavra com clareza:

— Eu te dou uma escolha: ou você me escolhe, ou opta pelo casamento arranjado. Você só pode escolher uma das duas opções.

Augusto franziu ainda mais a testa. Aquela aura de gentileza e educação que sempre o envolvia começou a se transformar visivelmente. Com passos contidos e pesados, ele se aproximou de Margarida.

— Se eu optar pelo casamento, isso significa que você vai se afastar de mim?

— Exato. Se você me escolher, independentemente das dificuldades que possamos enfrentar, estou sempre ao seu lado, assim como há três anos. Mas, se você preferir o casamento arranjado, nossa relação chega ao fim. Desejo a mim mesma um recomeço, e a você, um casamento pleno de felicidade, com uma família completa. — Respondeu Margarida, com uma voz agora fria e definitiva.

Apesar de amar Augusto, Margarida não se rebaixaria a tal ponto. Ela jamais aceitaria dividir o homem que tanto amava com outra mulher. Seus princípios a impediam de oferecer a ele mais do que essa última e decisiva chance.

No rosto de Augusto, uma sombra profunda se fazia presente. Após um longo silêncio, sua voz soou, repleta de uma resignação quase imperceptível, mas cortante como uma lâmina:

— Margarida, você realmente refletiu sobre isso? Se é o fim da nossa relação que deseja, posso aceitar. Mas tem certeza de que, ao terminar comigo, não será você a sair ferida? Mesmo morando na nossa casa, você nunca é vista como parte da família, nem mesmo como minha irmã. No meio da alta sociedade, com esse status, você mal tem um apoio. Já eu posso escolher entre tantas opções. E, sobretudo, você me ama intensamente. Em meio à indiferença de todos, até sua própria mãe te ignora, eu sempre fui o único a tratar você com carinho. Será que você é capaz de se afastar de mim?

Augusto a observava com uma frieza cruel, quase como a de um deus altivo que olhava para o insignificante das criaturas. Ele estava absolutamente convicto de que Margarida jamais conseguido se desvincular dele.

Mas diante dele, Margarida não conseguiu conter um arrepio que percorria seu corpo. Num impulso repentino, ela avançou com todas as forças e deu um forte tapa em seu rosto!

Augusto não se esquivou. Mesmo ao girar a cabeça para absorver o impacto, sua expressão permaneceu inalterada, apenas as veias de sua mão sobressaíam sob a pele.

Foi então que um grito agudo irrompeu de fora:

— Meu Deus! Margarida, você está louca? Como pode bater em Augusto assim?

Luísa entrava carregando uma bandeja de frutas e, sem o esperar, se deparou com a cena em que Margarida agredia alguém. Imediatamente, largou a bandeja e puxou Augusto pelo braço, instando-o a mostrar o rosto marcado pelo estrondo do tapa.

Virando-se com firmeza para Margarida, seu rosto endureceu novamente.

— Augusto é o presidente do Grupo Carvalho. Você acabou de ferir o rosto dele. Se alguém testemunhar isso, como podem interpretar? Você não tem nem um pingo de noção, como sempre te ensinei? — Resmungou Luísa, com evidente desgosto.

Enquanto as palavras saíam, Luísa levantou a mão, ameaçando dar um tapa em Margarida. Mas, num instante, seu pulso foi agarrado com firmeza.

Intervindo, Augusto impediu Luísa com uma voz suave, mas cheia de autoridade:

— Luísa, foi apenas uma brincadeira entre mim e Margarida. Eu mesmo vou me explicar com meu pai. Não se preocupe.

Luísa ainda murmurou, com um tom de reprovação carinhosa:

— Eu apenas me importo com você. — Sabendo que nada a desagradava mais do que deixar o marido insatisfeito, Luísa, aliviada pelas palavras de Augusto, não podia deixar de tecer uma última advertência. — Augusto, entendo que vocês jovens têm suas brincadeiras e espontaneidades, e, como pessoa mais velha, não devo me intrometer demais. Mas, considerando que você e Margarida já cresceram, é preciso ter mais cuidado com os limites, não acha? Claro que não estou te pressionando, pois confio no seu julgamento. Afinal, você está prestes a se noivar com a filha da renomada família Almeida, uma aliança que até seu pai aprovaria. Como poderia, então, escolher minha mísera Margarida?

Sem responder, Augusto lançou um olhar frio para Margarida e se virou para sair.

Ainda segurando a bandeja, Luísa rapidamente o seguiu, sem nem ao menos lançar um olhar para Margarida e nem notava o torcionar de seu tornozelo.

Margarida permaneceu ali, encarando as silhuetas dos dois se afastarem, até que, depois de um longo instante, um sorriso amargo escapou de seus lábios.

De fato, eram as pessoas mais próximas que mais cortavam. Eram aquelas a quem amavam que, às vezes, machucavam mais profundamente.

...

Naquela noite, Margarida trancou a porta e, após tomar um analgésico prescrito no hospital, tentou se entregar a um sono profundo. Contudo, para sua surpresa, a dor insistiu por toda a noite, fazendo com que ela acordasse encharcada de suor, até que, ao clarear do amanhecer, embotada, adormeceu novamente.

Mal se passava algum tempo, quando o som insistente de batidas à porta anunciou a presença da empregada.

— Srta. Margarida, temos visitas em casa. A Sra. Luísa está recebendo os convidados, e o Sr. Augusto pediu que você descesse para ajudar.

Margarida olhou fixamente para o teto, franzindo o cenho. Não conseguia entender que tipo de convidados os da família Carvalho poderiam ter, a ponto de obrigá-la a sair e se envolver em tanta confusão, mesmo com a perna machucada.

Porém, os apelos insistentes da empregada, do lado de fora, soavam como se ela não desistisse até ouvir sua resposta.

Sem outra opção, com os dentes cerrados, Margarida teve que reunir todas as suas forças para se manter de pé e, arrastando a perna ferida, sair do quarto.

Mal havia descido as escadas que ela parou, atônita, diante do que viu.
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