Após o Acidente

Quando eu descobri, o meu mundo parou. Lembro-me de segurar a borda da cama antes que tudo ficasse preto.

Disseram que desmaiei de choque. Luca Moretti, meu marido, o homem que todos chamavam de herdeiro de ouro da Máfia, abandonou um negócio de um bilhão de dólares e voou para casa durante a noite.

Ele não dormiu por dois dias, sentado ao lado da minha cama, com o rosto pálido de medo.

Quando finalmente abri os olhos, ele estava ali mesmo.

— Valeria — ele sussurrou, pressionando minha palma contra a bochecha dele. — Você me assustou tanto que quase morri.

Este era o mesmo homem que uma vez encarou uma arma carregada sem estremecer, agora tremendo porque eu havia desmaiado.

Olhar nos olhos dele, aqueles olhos em que eu costumava confiar mais do que em qualquer tudo, doeu mais do que qualquer coisa que meu corpo pudesse sentir.

Um amor assim não podia ser fingido. E, no entanto, eu não conseguia parar de me perguntar... ele também olhava para ela daquela maneira? Bianca Rizzo. Sua amiga de infância. A mulher que lhe deu gêmeos.

Se eu não tivesse visto a prova com os meus próprios olhos as fotos, o relatório de DNA eu jamais teria acreditado.

O mundo via Luca como perfeito. Mas a perfeição esconde coisas. E o segredo dele estava respirando ao lado de outra mulher há um ano inteiro.

Virei o rosto e deixei as lágrimas molharem o travesseiro. Minha mão tremia ao tocar minha barriga. Após anos de tratamentos de Fertilização In Vitro(FIV) fracassados, eu estava finalmente grávida. E tudo o que eu conseguia fazer era chorar.

Luca me puxou para os braços dele, a voz baixa e terna.

— O que há de errado, querida? Quem te aborreceu? Me diga e eu resolvo.

Mas então senti um leve cheiro na pele dele perfume caro que eu nunca usava, misturado com a doçura pulverulenta de fórmula de bebê.

Meu estômago se revirou. Eu o empurrei e cambaleei em direção ao banheiro, vomitando. Ele correu atrás de mim, segurando meu cabelo, limpando meu rosto. Ele odiava bagunças. Ele odiava o cheiro de doença. E, no entanto, lá estava ele, de joelhos, sussurrando:

— Está tudo bem. Eu estou com você.

Quase me quebrou novamente porque, naquele momento, ele era o homem por quem me apaixonei. Aquele que costumava caminhar pelo fogo por mim. Aquele sem o qual eu pensei que nunca poderia viver.

Eu quase o perdoei.

Quase me convenci de que, se ele deixasse Bianca, poderíamos voltar ao que éramos. Recomeçar, criar nosso bebê juntos, fingir que o mundo ainda não havia acabado.

Abri a boca para contar para ele.

— Luca, eu...

Mas o telefone dele tocou. Ele beijou minha testa, disse algo sobre negócios e saiu pela porta.

Trinta minutos depois, Bianca me enviou uma foto. Luca estava segurando os gêmeos, com os lábios pressionados na testa deles. O sorriso no rosto dele não era de culpa, mas de paz.

Aquela foto destruiu o último resquício de esperança que me restava.

Quando saí do hospital, não fui para casa. Fui direto para Clara, minha amiga mais antiga, a única pessoa em quem eu ainda podia confiar.

— Me ajude — eu disse.

— Preciso que você forje um acidente de avião.

Ela me encarou horrorizada, mas eu não pisquei. Porque eu conhecia Luca. Ele nunca me deixaria ir. E, se eu quisesse proteger meu bebê, eu precisava desaparecer.

Naquela noite, comecei a fazer as malas.

Abri o guarda-roupa e peguei todas as camisas que eu havia costurado para ele. Eu as cortei em pedaços e as joguei fora.

Os diamantes que ele me deu eu os entreguei às empregadas.

E os dezesseis álbuns de fotos que fizemos ao longo dos anos, prometendo olhar para eles juntos quando fôssemos velhos eu os alimentei um por um na lareira.

As páginas enrolaram, ficaram pretas e viraram cinzas.

À meia-noite, meu telefone vibrou.

Clara: — Está tudo pronto. Em dois dias, você desaparece.