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Capítulo 2

Author: Paulo Santos
Olhei para Flamejante, encolhido ao meu lado.

O pobre Flamejante não sabia por que, mas desde que saiu do ovo tremia sem parar.

Só quando ouviu Ursula dizer que ia levar Gélido embora, ele relaxou um pouco.

Eu não tive paciência para discutir com Gélido e Ursula; só segurei Flamejante e saí porta afora.

— Giselle, você realmente quer... me aceitar?

Estendi a mão, querendo acariciar a cabeça de Flamejante, mas ele, por reflexo, recuou.

Ele me olhou apavorado:

— Giselle, eu não fiz de propósito... não me bata, por favor.

Enquanto falava, Flamejante lutava para controlar o corpo trêmulo, e mesmo assim, ofereceu a cabeça para mim.

— Flamejante, você... o que houve? Por que eu te bateria?

Então compreendi: Flamejante também havia renascido.

— Flamejante, foi a Ursula... ela...

— Não fala dela, não fala dela...

Flamejante pareceu ficar ainda mais abalado com as minhas palavras, encolheu-se de dor e lágrimas de sangue escorreram-lhe dos olhos.

Ao vê-lo assim, entendi imediatamente: com certeza Ursula havia maltratado Flamejante.

Abracei Flamejante, acariciando suavemente suas asas.

— Vai ficar tudo bem, tudo bem...

Aos poucos, sob meu consolo, Flamejante foi se acalmando.

— Flamejante, vamos para casa? Só que... minha casa é longe, e não tenho um carro, talvez você precise me acompanhar a pé por um tempo...

Olhei para Flamejante com culpa, afinal, minha situação financeira era muito diferente da de Ursula.

Ursula obrigou os pais a gastarem tudo comprando casa e carro para ela, enquanto eu só podia alugar um lugar para morar.

Flamejante piscou, tímido, e falou baixinho:

— Giselle, se você não se importar, eu posso te levar voando para casa.

Flamejante curvou o corpo, sugerindo que eu subisse em suas costas.

Fiquei um pouco constrangida.

— Giselle, não tem problema, pode subir. Eu te levo para casa voando.

Diante de tanta gentileza, não tive escolha a não ser aceitar e subi em suas costas.

— Flamejante, eu te digo para que lado ir.

— Não precisa, Giselle, eu sei onde você mora.

Achei estranho, e ia perguntar como ele sabia, quando Flamejante disse:

— Giselle, já chegamos.

— Já chegamos?

Fiquei surpresa com a velocidade do voo de Flamejante.

— Foi mais rápido que um avião!

— Avião? Eu sou da Tribo Flamejante.

Flamejante levantou o rosto com certo orgulho. Pela primeira vez, observei-o atentamente.

Flamejante parecia puro e inocente, com o rosto ainda cheio da confusão típica de um adolescente.

Diferente de Gélido, cujos olhos escuros eram sempre carregados de malícia.

— Giselle, você não vai me elogiar?

Flamejante me olhou, parecendo esperar por algum reconhecimento.

Comentei, admirada:

— Flamejante, você é tão bom... como ela pôde te tratar daquela maneira?

Mal terminei de falar, percebi que tinha dito algo errado.

De fato, ao olhar Flamejante de novo, seus olhos, tão brilhantes antes, ficaram opacos.

Apressada, pedi desculpas:

— Desculpa, Flam, não quis tocar nesse assunto.

Flamejante sorriu com amargura:

— Flam, é um nome bonito... Giselle, me diz, será que eu sou mesmo um Flamejante inútil?

Sem esperar minha resposta, continuou:

— Giselle, Ursula dizia que eu não servia para nada, que só fazia ela sentir mais calor, diferente de Gélido, que conseguia refrescá-la. Ela dizia que eu tinha arruinado a vida dela, arrancava minhas penas uma a uma, me espetava com agulhas, quebrava meu bico com um alicate e, por fim, quebrou minhas asas e me jogou fora, para morrer sozinho. Comparado com Gélido, será que eu sou tão ruim assim? Giselle, por que você me trouxe de volta? Eu sou um Flamejante inútil...

Eu já suspeitava que Ursula havia maltratado Flamejante, mas não imaginava tamanha crueldade.

No começo, foi ela quem escolheu Flamejante. Ninguém podia prever o apocalipse de calor; por que pôr toda a culpa em Flamejante?

— Não é verdade, Flam, não acredita no que ela disse. Você é incrível, muito melhor que Gélido.

— Giselle, sei que você está tentando me consolar... mas não tem problema, estou melhor agora.

Para não me preocupar, Flamejante forçou um sorriso.

— Flam, não estou te consolando, é verdade. Você é mil vezes melhor que Gélido. Vou te contar um segredo: na verdade, eu também renasci.
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