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Capítulo 3

Author: Paulo Santos
Os olhos de Flamejante brilharam de repente.

Contei a Flamejante, em detalhes, como Gélido me maltratara na vida passada: extraía meu sangue todos os dias e, por fim, matou-me. Não omiti nada.

Flamejante pareceu muito surpreso ao ouvir minha história.

— Como pode ser? Giselle, segundo as tradições da nossa Tribo Bestial, devemos lealdade absoluta ao nosso benfeitor. Não importa como ele nos trate, temos que suportar tudo. Se alguém violar essa antiga regra, será severamente punido. Como ele teve coragem de te tratar assim?

Sorri amargamente e balancei a cabeça:

— Também não sei, Flam. Que tipo de punição é essa de que você fala?

— Não sei exatamente, só sei que é uma punição extremamente severa.

— Deixa pra lá, não quero pensar nisso.

Puxei Flamejante para sentar-se comigo no sofá.

— O apocalipse do calor extremo está chegando. Não deveríamos nos preparar de alguma forma?

Pensamos juntos e percebemos que comprar um ar-condicionado não adiantaria de nada, pois num mundo pós-apocalíptico de calor extremo, os sistemas de energia e água já teriam colapsado.

Por fim, decidi ir até uma casa de campo e cavar uma adega bem funda.

A adega é quente no inverno e fresca no verão, e o mais importante é que não precisa de nenhum equipamento para baixar a temperatura. Era, sem dúvida, a melhor escolha.

Flamejante não só era rápido, como também muito forte — em menos de uma semana, cavou uma adega com mais de cem metros de profundidade.

Além disso, durante a escavação, encontramos água subterrânea.

Assim, resolvemos ao mesmo tempo o problema da temperatura e do abastecimento de água.

Montei nas costas de Flamejante e descemos até o ponto mais profundo da adega.

Assim que chegamos, fui envolvida por uma onda de frescor, em nítido contraste com o calor da superfície.

Vendo que eu tremia de frio, Flamejante rapidamente ativou o poder extraordinário, ajustando a temperatura ao nosso redor para um nível confortável.

— Flam, agora que já resolvemos a temperatura e a água, e a comida? O que vamos fazer com a comida?

— Isso é fácil. Vou cavar outra adega, maior, ao lado desta. Plantamos sementes lá embaixo — teremos sol e água subterrânea. Quando o apocalipse do calor chegar, a temperatura estará ideal para o crescimento das plantas. Só precisamos preparar comida para um mês, enquanto as sementes crescem.

Dividimos as tarefas e, finalmente, antes da chegada do apocalipse do calor, estava tudo pronto.

Amanhã seria o dia em que o apocalipse do calor começaria.

Abracei Flamejante e deitei-me com ele na grande cama da adega, esperando a chegada do calor extremo.

Na manhã seguinte, percebi claramente que a temperatura da adega estava bem mais amena. O frio sombrio de antes fora substituído por uma temperatura confortável.

Flamejante espreguiçou-se na cama:

— Finalmente não preciso mais ativar o poder extraordinário. Se tivesse que fazer isso todos os dias, estaria exausto. Meu Sangue de Flamejante já estava quase no fim.

— Flam, quer dizer que ativar o poder extraordinário consome seu sangue?

— Sim, é como quando vocês jogam videogame e gastam energia. Para usarmos o poder extraordinário, também precisamos gastar sangue.

Olhei para Flamejante, sentindo-me culpada e comovida:

— Por que não me disse isso antes? Eu aguentaria ficar com frio por alguns dias.

Depois de um mês convivendo comigo, Flamejante já não era mais tímido nem medroso como no começo. Ele apertou meu rosto com as mãos:

— Eu sabia que, se te contasse, você não deixaria.

Olhando para Flamejante à minha frente, senti uma mistura de emoções.

Por que a diferença entre Bestial e Bestial é tão grande?

Na vida passada, nunca reclamei do calor para Gélido. Ele é que não aguentava o calor e insistia em ativar o poder extraordinário.

Mas ele ativava o poder extraordinário consumindo o meu sangue.

Ao pensar nisso, suspirei baixinho:

— Será que Ursula está bem?

De acordo com o que aconteceu na vida passada, hoje seria o primeiro dia em que Ursula teria o sangue sugado.

Que pena não poder ver o sofrimento dela.

Flamejante pareceu adivinhar meus pensamentos.

— Ursula, vou te mostrar uma coisa engraçada.

Enquanto falava, Flamejante me entregou misteriosamente um espelho de bronze.

— O que é isso? Um espelho?

Examinei o espelho de bronze de todos os lados, sem perceber nenhuma característica especial.

Flamejante soprou fogo sobre o espelho, que imediatamente ficou mais nítido.

De repente, vi os rostos de Ursula e Gélido refletidos ali.

Diante da minha confusão, Flamejante explicou:

— Este é um tesouro da nossa Tribo Flamejante. É parecido com o que vocês humanos chamam de monitoramento, mas não precisa de internet nem de eletricidade.

Assenti e passei a observar a cena no espelho.

Vi Ursula encostada em Gélido, suando muito e reclamando:

— Estou morrendo de calor, Gélido! Você não tem o poder extraordinário de baixar a temperatura? Ative logo esse poder extraordinário!

Gélido apertou os lábios. Senti um frio na barriga — era o sinal de sua impaciência e o prenúncio de que estava prestes a sugar sangue.

Gélido esboçou um sorriso sinistro e lançou a Ursula um olhar sombrio:

— Ursula, é você quem está pedindo para eu ativar o poder extraordinário. Depois, não venha se arrepender.

— Ativa logo! Vou morrer de calor!
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