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Capítulo 4

Author: Algodão
Talita não quis ficar para assistir àquela cena afetuosa entre mãe e filha, mas assim que passou pelas duas, viu Igor caminhando em sua direção. Ao perceber que Karen estava chorando, ele apressou o passo e falou com raiva:

— Talita, o que você disse para a mamãe?

Talita o encarou sem expressão, respondendo com calma:

— Sr. Igor, o certo seria perguntar o que sua mãe me disse. Eu só falei uma frase com ela.

Igor parecia não acreditar. Ele ia retrucar, mas Karen o interrompeu:

— Igor, trate sua irmã com mais carinho. Eu estou bem, só fiquei muito feliz de ver a Tali.

Repreendido pela mãe, Igor lançou um olhar de desagrado para Talita, mas não disse mais nada.

— Tali, a mamãe preparou roupas e sapatos novos para você. Por que está usando essas roupas que não servem direito? — Karen olhou para Talita com um leve franzir de sobrancelhas.

Talita ergueu os olhos, a voz ainda carregando impaciência:

— Não precisa, essa roupa está ótima. Vou ver o vovô.

Ela se virou para sair, mas Igor estendeu o braço, bloqueando sua passagem e dizendo:

— O vovô já foi descansar.

— Impossível, o Bruno ainda está lá com ele. — Disse Talita, visivelmente ansiosa. Após três anos sem vê-lo, ela mal podia esperar.

— O Bruno já foi embora. — Disse Igor com impaciência. Se não fosse por ela, Bruno com certeza teria ficado para o jantar.

— Tali, não precisa se preocupar. Se quiser ver o vovô, pode ver amanhã também. — Karen tentou consolá-la com voz doce.

Talita abaixou os olhos, frustrada. Se não fosse por eles, ela teria conseguido ver o avô. Silenciosa, ela se virou e entrou.

— Tali, já preparamos seu quarto. Desta vez, a mamãe quer mesmo te compensar. — Disse Karen com gentileza.

Talita permaneceu indiferente. Ela não queria morar ali, só queria ver o avô.

— Está bem.

Karen ficou radiante. Ao notar a mochila nas mãos da filha, seus olhos se encheram de compaixão.

— Igor, você já preparou o quarto da sua irmã? Deixa a Tali descansar um pouco.

Igor ficou visivelmente desconfortável ao responder:

— O quarto ainda não foi arrumado. Deixa ela ficar no quarto dos empregados por enquanto.

— Igor, o que você está dizendo? — Karen mal podia acreditar no que ouviu.

Igor permaneceu em silêncio.

— Onde fica o quarto dos empregados? — Perguntou Talita.

Ela não queria mais discutir. Ao receber a resposta, pegou a mochila e entrou no quarto no térreo.

Karen queria dizer algo, mas, lembrando que foi Igor quem cuidou disso, acabou se calando.

Talita fechou a porta. O quarto dos empregados era simples, mas tinha tudo o que precisava. A família Fortuna era rica, então mesmo os quartos dos empregados eram espaçosos. Talita não se incomodava com conforto, afinal, ela já havia morado em celas escuras. Comparado à prisão, aquilo era luxo.

Ela arrumou rapidamente suas coisas, colocou o celular para carregar e respondeu algumas mensagens. Logo, alguém bateu à porta.

— Mana, a mamãe pediu para te chamar para jantar. — Disse Milena sorridente do lado de fora.

Mas Talita viu claramente a hostilidade escondida por trás daquele sorriso.

— Beleza, vamos.

...

Na mesa de jantar, Karen serviu Talita com entusiasmo, colocando legumes em seu prato. Talita, por reflexo, protegeu seu prato e desviou.

Um pedaço de brócolis caiu na mesa.

A voz de Igor saiu carregada de raiva:

— Talita, por que você esquivou quando a mamãe estava te servindo?

— Desculpa, é puro hábito.

Talita estava falando sério. Na prisão, quando alguém estendia a colher, ou era para roubar sua comida, ou para jogar algo sujo no prato dela. Se ela não se esquivasse, não conseguiria comer.

Igor riu:

— Talita, até para mentir tem limite. Você acha que alguém vai acreditar nisso?

Talita pousou os talheres, olhou Igor nos olhos e disse:

— Acreditar ou não é problema de vocês.

Karen interveio rapidamente:

— Igor, a Tali não fez por mal. Vamos comer, ou a comida vai esfriar.

Igor segurou a raiva, mas o olhar que lançou sobre Talita era cortante. Ela fingiu não ver, já estava acostumada com olhares mais sombrios e cruéis do que o dele. Perto de certos olhos na prisão, Igor era fichinha.

— Tali, por que não está comendo? A comida não está do seu gosto? — Karen pareceu preocupada.

Talita não sabia por que ela estava tão atenciosa naquele dia. Se fosse três anos atrás, ela teria ficado emocionada, achando que finalmente estava recebendo o carinho da mãe.

A Talita de três anos atrás precisava daquilo. Mas a Talita de agora, já não precisava mais.

— Não é isso. O tempero da comida está um pouco forte, não consigo comer.

A comida na mesa não era gordurosa, mas tinha sabores adocicados e picantes, exatamente do jeito que Milena gostava.

Igor não se conteve, reclamando:

— Antes você comia isso numa boa, agora não consegue mais?

Talita ergueu os olhos e disse com voz neutra:

— Antes eu não estava doente por passar fome. Durante os três anos na prisão, passar fome era normal, e sempre ter pressa para comer também era normal. Assim, ter gastrite se tornou rotina.

Igor ficou sem palavras. Karen já estava com os olhos marejados, dizendo:

— Tali, por que você não ligou para casa? A mamãe sempre achou que você estava bem lá dentro...

Talita achou aquilo ridículo. Como alguém poderia achar que a vida na prisão poderia ser descrita com "estar bem lá dentro"?

Eles só a jogaram lá, não moveram um dedo para ajudá-la. A prisão era um lugar onde os fracos eram pisoteados. Ela não tinha dinheiro, nem poder, então ser maltratada virou rotina.

Quanto a ligar para casa...

— Eu liguei.

— Como assim? — Igor retrucou instintivamente. — A gente nunca recebeu ligação sua!

De repente, ele parou de falar.

Talita mostrou um lampejo sarcástico no olhar, continuando a falar:

— Dois meses depois que entrei na prisão, liguei para casa, e quem atendeu foi uma empregada. Ela me disse que vocês mandaram eu aceitar o castigo e que não era para ligar mais.

O ambiente na mesa ficou completamente congelado.
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