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Capítulo 5

Author: Algodão
Talita terminou de comer o arroz em silêncio, não deixando um único grão. Já fazia muito tempo que não comia um arroz tão macio e saboroso.

A única coisa que restava era um talo de aipo, que se destacava no prato vazio. Ela colocou os talheres sobre a mesa, se levantou e olhou para os outros, dizendo:

— Já terminei.

Karen, preocupada, tentou pegar seu prato enquanto falava:

— Como assim já terminou? Você comeu tão pouco. A mamãe vai te servir mais arroz.

— Não precisa. Eu vou sair, continuem comendo. — Disse Talita, sem querer se envolver mais com as pessoas da família Fortuna.

Ela se virou e saiu decidida.

— Tali, você não prometeu para a mamãe que ia ficar aqui? — A voz de Karen tremeu de desespero, quase em lamento. A cadeira rangeu estridentemente com seu movimento brusco.

Igor se levantou, segurou Karen e lançou um olhar para Talita, era um misto de culpa e desaprovação.

Talita franziu levemente a testa, a mão ao lado do corpo tremeu discretamente. Ela não suportava ouvir aquele tipo de voz, trazia à tona lembranças dos três meses seguidos de maltrato que sofreu na prisão.

Ela conteve o impulso de fugir, abaixou os olhos e respondeu com voz calma:

— Eu vou voltar.

Sem esperar mais, ela desapareceu rapidamente da vista de todos.

Ao sair pelos portões da mansão dos Fortuna, Talita pegou o celular e abriu uma das conversas. Havia uma nova mensagem, era um endereço, a chamando para uma entrevista.

Ela não reconhecia aquele lugar. O dedo pairou alguns segundos sobre a tela antes que Talita decidisse sair da área residencial primeiro.

Três anos de prisão haviam a distanciado completamente da vida em sociedade. Ela caminhou quarenta minutos até o ponto de ônibus. Pegou o ônibus, mas o destino não era exatamente onde queria, teria que caminhar o resto do trajeto.

Com os olhos baixos, Talita observava a paisagem urbana pela janela. Uma BMW passou por ela, e seu olhar parou ali.

Pela janela aberta do carro, ela viu Igor conversando com alguém. Ao lado dele, Milena sorria de forma encantadora.

Talita desviou o olhar sem expressão. O alto-falante do ônibus anunciou a próxima parada. A BMW seguiu em frente.

— Igor, o que você está olhando? — Perguntou Milena.

Igor voltou a si e balançou a cabeça:

— Nada não.

Ele achava que tinha visto Talita no ônibus.

Com ajuda de alguns transeuntes, demorou dois minutos para descobrir que podia usar o GPS no celular. Ela sabia o que era GPS, mas nunca tinha usado, essa era sua primeira vez. Após alguns ajustes, conseguiu inserir o endereço corretamente.

Seguindo as instruções do aplicativo, chegou em frente a um prédio alto, aquele era o local da entrevista.

Ela guardou o celular e entrou. A recepcionista a parou, perguntando:

— Você veio fazer o quê? Tem horário marcado?

— Precisa de agendamento para vir aqui? Vim para uma entrevista. — Talita não esperava que fossem tão rígidos, começando a se perguntar se conseguiria mesmo entrar.

A recepcionista a analisou dos pés à cabeça, falando de forma visivelmente impaciente:

— Entrevista a essa hora da tarde? Suba pelo elevador até o terceiro andar.

Talita franziu a testa, achando que precisava se explicar, mas antes que pudesse falar, a recepcionista olhou para alguém atrás dela e rapidamente mudou de atitude, cumprimentando toda sorridente:

— Diretora Odete, boa tarde!

Talita olhou para trás rapidamente, mas não disse nada, seguiu direto para o elevador. Quando chegou ao terceiro andar, enviou uma mensagem: [Cheguei.]

Ela encontrou a sala com a placa indicando “Sala de Entrevista” e bateu na porta.

— Entre. — Disse alguém lá dentro.

Ela abriu a porta. Havia um homem e uma mulher sentados ali, ambos a observaram com certa dúvida. A mulher apontou para a cadeira em frente e falou:

— Veio para a entrevista? Espere um pouco, a entrevistadora ainda não chegou.

Talita assentiu e se sentou calmamente para esperar.

Pouco depois, a porta se abriu de novo.

— Diretora Odete.

Talita olhou para trás e viu que era a mulher bonita que vira na recepção. O rosto dela mostrava impaciência.

Ela lançou um olhar para Talita.

— Veio para entrevista agora? — E, sem esperar resposta, emendou. — Qual a sua formação?

Talita franziu a testa. Antes de ser presa, tinha acabado de receber a carta de admissão da universidade, mas nunca teve a chance de frequentar. Ainda assim, completou os estudos por conta própria, incluindo projetos e disciplinas avançadas. Naquele momento, seu conhecimento era superior ao de muitos graduados.

— Não cursei faculdade.

Odete imediatamente fechou a cara e, com raiva, disparou:

— Quem te mandou vir aqui se você nem tem diploma?

Talita abriu a boca para explicar, mas Odete a interrompeu:

— Isso aqui não é qualquer empresinha que aceita gente sem formação. Não me importa quem te indicou, aqui não tem jeitinho. Pode sair.

Talita se levantou de repente, seus olhos frios se fixaram em Odete.

— Primeiro, diploma não é o único critério para medir competência. Segundo, acho que essa empresa também não serve para mim.

— Você... — Odete apontou o dedo, prestes a gritar, quando a porta se abriu novamente. Ao ver quem entrava, seu rosto mudou na hora e um sorriso forçado apareceu imediatamente. — Sr. Igor, Srta. Milena! Por que não me ligaram? Eu teria descido para receber vocês!

Milena olhou para Talita, exclamando surpresa:

— Mana? Você está aqui? Veio para entrevista? Mas... Os requisitos mínimos aqui são pós-graduação, e você nem entrou na faculdade ainda. — Ela lançou um olhar estranho e mordeu o lábio. — Igor, a irmã não tem o diploma necessário. Acho que eu posso ceder minha vaga para ela...
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