No meio de maio, Filippo encerrou a turnê pela Europa e voltou ao país para se despedir de sua esposa e de seu filho. O funeral de Vinícius e Cíntia foi realizado no dia 17 de maio. Naquele dia, o céu estava encoberto, com nuvens cinzentas pesadas que pareciam quase tocar o chão. O ar estava denso e opressivo, como se a própria natureza compartilhasse da tristeza do momento. A quinze quilômetros ao norte da mansão da família Costa, havia um cemitério privado onde gerações da família estavam enterradas. Fileiras de lápides alinhadas se erguiam em silêncio, como guardiãs do tempo, testemunhando o fim de muitas vidas. Agora, duas novas lápides se juntavam àquelas, trazendo os nomes, datas de nascimento e falecimento dos dois novos integrantes da eternidade. As pessoas que vieram prestar suas condolências estavam vestidas de preto, com expressões sombrias e pesarosas, enquanto caminhavam devagar por aquele lugar tranquilo. As duas lápides estavam dispostas uma acima da outra,
— Gabriel. — A voz de Helena era tão baixa que se perdeu instantaneamente no som da chuva torrencial. Como se fosse um tipo de telepatia, ele ainda assim ouviu. Gabriel se virou, e seus olhos encontraram os dela através da cortina de chuva. Helena estava na varanda, enquanto ele permanecia parado sob a tempestade. A chuva era tão intensa que seu rosto estava borrado, difícil de distinguir. Helena abriu o guarda-chuva e deu um passo em direção à chuva. Mas, como se Gabriel tivesse sido ativado por algum tipo de comando silencioso, ele começou a caminhar rapidamente na direção dela. Com suas longas pernas e passos largos, ele a alcançou antes que Helena pudesse dar mais de dois passos. — Sua ferida ainda não cicatrizou; não tome chuva. — A voz dele estava rouca. Gabriel segurou a mão de Helena, a que não segurava o guarda-chuva, e a guiou de volta para a varanda. A mão dele estava gelada, e Helena estremeceu involuntariamente. Gabriel percebeu e soltou a mão dela im
Helena rolou na cama, inquieta. Depois de muito hesitar, ela pegou o celular e finalmente enviou uma mensagem para Gabriel. [Meus sentimentos.] Ela esperou por muito tempo, mas não recebeu resposta. Não sabia se ele estava dormindo ou ocupado lidando com os problemas da família Costa. Helena suspirou, sentindo um aperto no peito. Por mais que ela não quisesse admitir, sabia muito bem que ainda não havia conseguido esquecer Gabriel. Agora, com tudo o que havia acontecido com a família Costa, ela se preocupava com ele. Ele devia estar sofrendo muito. Já estava quase amanhecendo quando Helena finalmente sentiu o sono chegar. Mas, enquanto estava prestes a adormecer, a tela do celular iluminou o quarto. Era uma resposta de Gabriel. [Estou bem. Descanse.] Helena leu a mensagem, mas sua preocupação não diminuiu. "Como ele pode estar bem?", pensou ela. Um era o pai dele, o outro, a avó que o criou. Ela quis responder algo para consolá-lo. Esfregou os olhos, tentando af
— S-sangue... — Inês murmurava, os lábios tremendo sem parar. As palavras saíam entrecortadas, quase inaudíveis. — Muito sangue... Suicídio... Pulou... Alguém pulou? Suicídio? Helena ficou chocada. — Inês! — Nesse momento, Mateus entrou correndo no quarto. Ele se aproximou rapidamente e, sem dizer nada, pegou Inês nos braços, segurando-a com cuidado. O rosto de Mateus estava tomado por preocupação enquanto ele a segurava com firmeza, falando em um tom baixo e reconfortante: — Inês, calma. Não precisa ter medo, eu estou aqui. Está tudo bem, meu amor. Eu estou aqui... Inês tremia sem parar, as mãos agarradas com força na camisa de Mateus. Seu rosto pálido estava coberto de lágrimas, e ela soluçava de tanto chorar. Helena sentiu uma onda de culpa. Se ela soubesse que algo assim poderia acontecer, nunca teria deixado Inês sair para ver o que estava acontecendo. Pelo estado dela, era evidente que havia testemunhado a cena do salto com seus próprios olhos. Aquilo certamente deixa
Este caso de envenenamento estava claro como o dia: os fatos eram evidentes, as provas contundentes e suficientes. Zuriel foi identificado como o mandante, enquanto Beatriz foi acusada como a responsável pela execução do crime. O Ministério Público apresentou denúncia contra os dois por homicídio doloso. Além disso, após Gabriel entregar à polícia diversas provas de outros crimes cometidos por Zuriel, incluindo atividades realizadas no País H, o Ministério Público decidiu incluir todas essas acusações no processo. A sugestão de pena apresentada pela promotoria foi a mais severa possível: pena de morte com execução imediata. Gabriel desligou o celular e, ao virar-se, notou que a refeição servida a Vinícius estava intocada sobre a mesa. — É sobre a acusação contra Zuriel e Beatriz? — Perguntou Vinícius, com uma voz fraca e quase inaudível. Gabriel respondeu de forma indiferente: — É. — E o que a polícia disse? — O envenenamento é homicídio doloso. — Gabriel falou em um to
Nesse momento, Fernanda entrou no quarto carregando a comida. Ao ver o pequeno santo na mão de Percival, o olhar de Fernanda congelou por um instante. Ela reconheceu o objeto imediatamente. Era um amuleto do Santuário de Santa Luz do Vale, algo que só podia ser obtido com devoção extrema: ajoelhando-se, rezando e pedindo com o coração cheio de fé. Anos atrás, quando Isabela, mãe de Helena, estava gravemente doente, Leonidas também havia ido ao santuário buscar um amuleto igual para ela. Mas, infelizmente, Isabela não resistiu. Ao relembrar disso, os cílios de Fernanda tremeram, e uma onda de tristeza passou por seu coração. — Percival. — Fernanda chamou seu nome, com o olhar ligeiramente surpreso. — Esse amuleto... Foi você quem pediu pessoalmente? Ela ficou olhando para o pequeno santo em transe, como se pudesse enxergar o passado através dele. Percival manteve os olhos fixos em Helena, seu olhar profundo como sempre, e respondeu com um simples: — Sim. Fernanda ficou