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Capítulo 2

Author: Aurora Mendes
Olavo olhou para as mãos de Tereza, sentiu o coração apertar e logo disse:

— Então, um mês. Isadora, é bom que você não tente nenhuma gracinha. Se eu perceber qualquer coisa estranha, vai pagar caro.

Isadora arqueou levemente os lábios e respondeu com calma:

— Beleza. Desde que você fique com a Aline, faço tudo. E, como pai, não acha que deveria dar um presente de aniversário para ela?

Depois de um tempo, Aline se deitou nos braços de Isadora enquanto o carro seguia para casa.

Ela perguntou num tom trêmulo:

— Mãe... O papai veio mesmo?

Tentou disfarçar, mas o brilho ansioso nos olhos a entregou.

Isadora acariciou suas costas e respondeu baixinho, com doçura:

— Claro, meu amor.

Os olhos de Aline brilharam:

— Então, não conta para o papai que estou doente, tá? Não quero que ele fique triste.

Naquele instante, os olhos de Isadora se encheram de lágrimas, e o nariz ardeu.

Ela passou os dedos pelos cachinhos da filha:

— Tá bom, mamãe promete.

A filha sorriu docemente:

— Promessa de um século...

Mas, para os olhos de Isadora, tudo ficou meio embaçado.

Sua filha.

A única pessoa no mundo com o mesmo sangue que ela tinha.

E ela ia desaparecer deste mundo.

Mas, antes de perdê-la, Isadora queria lhe dar um último sonho bonito.

Ao chegarem à mansão da Família Carvalho, o mordomo pegou as malas delas imediatamente. Isadora perguntou:

— O Sr. Olavo está lá dentro?

Ele assentiu.

Com essa resposta, ela relaxou um pouco. Desde o casamento, Olavo quase nunca ficava na casa deles. E, para Aline, ver o pai era algo que só acontecia pela TV.

Segurando a mãozinha dela, Isadora entrou na casa.

De longe, viu Olavo sentado no sofá.

Os olhos de Aline brilharam. Isadora soltou sua mão e deu uma tapinha em seu ombro:

— Vai lá.

Aline foi se aproximando devagarzinho, meio insegura. Quando chegou a uma certa distância, chamou baixinho:

— Papai...

Olavo mexeu os olhos.

Ele já sabia que Isadora tinha chegado, mas não quis ir recebê-la.

Ao ouvir a voz da filha, sentiu um aperto no peito. Olhou para aquele rostinho inocente, tão parecido com o de Isadora, e sentiu um impulso de rejeição.

Ele engoliu em seco e respondeu com indiferença.

Depois, pegou um pacote ao lado.

— Seu presente de aniversário.

Aline arregalou os olhos, surpresa, até a voz dela saiu envergonhada:

— Obrigada...

Isadora observou aquilo com um olhar frio, insatisfeita com a atitude dele. Se aproximou e fez um carinho no cabelo da filha:

— Aline, abre. Vamos ver o que o papai te deu.

Aline sorriu e começou a abrir o presente.

Mas, no instante em que viu o que era, o sorriso dela congelou por um segundo.

Logo, Aline forçou um sorrisinho:

— Obrigada, papai, adoro isso.

Isadora olhou para os brincos de diamante e sentiu o coração apertar.

Ela conteve o temperamento e falou com calma:

— Aline, lembra que prometemos àquele senhor que íamos dormir cedo? Já tá tarde. Amanhã o papai te leva para passear.

Quando Olavo ouviu a palavra “aquele senhor”, seu olhar mudou.

Aline assentiu obediente.

Ela não gostou do presente, mas só de ver os pais juntos já estava feliz.

A mamãe disse que, se não quisesse que o papai soubesse quem era o médico, era só o chamar de “senhor”. Então, para obedecer ao médico, ela tinha que dormir cedo.

Isadora sorriu e observou a babá levando Aline para o segundo andar:

— Vai lá!

Ela pegou os brincos e disse num tom seco:

— Sr. Olavo, sei que sua agenda é cheia, mas, por mais que não tenha pensado bem no presente, dava para escolher algo melhor do que um par de brincos de diamante para uma criança de quatro anos.

Olavo sentiu um arrepio com aquele “Sr. Olavo” e retrucou:

— Já estava tarde, não tinha onde comprar nada. Peguei emprestado com a Tereza...

— Foi um erro dessa vez. Não vai se repetir.

Isadora quis dizer que não haveria próxima vez, ela não tinha chance do próximo aniversário da filha.

Engoliu a dor que lhe apertava o peito e, pegou o livro de histórias que já tinha preparado:

— Como um bom pai, hoje à noite, você vai comigo contar história para Aline antes de dormir.

Olavo disse com frio:

— Não sei fazer isso.

Isadora já sabia que ele diria isso, e respondeu:

— Não tem problema. Eu leio, você só precisa ficar lá.

Olavo conteve a irritação e soltou um “Tá”.

Isadora continuou:

— Sei que você não quer me ver. Mas, assim que a Aline dormir, pode sair e ir para Tereza. Só precisa estar de volta antes dela ir para escola.

Ele a olhou surpreso.

No passado, Isadora fazia de tudo para segurá-lo ao seu lado.

Chegou até a fingir estar doente, só para o avô dele obrigá-lo a voltar para casa.

Ele achou que era mais um joguinho dela e ficou ainda mais frio:

— Não precisa. Vou dormir no quarto de hóspedes.

Ela não reagiu:

— Vamos.

Pela primeira vez desde que se casaram, entraram juntos no quarto da filha.

O que era irônico: já que estavam casados há cinco anos, mas era a primeira vez que Olavo entrava no quarto de Aline.

Ele observou Isadora se sentar ao lado da filha, abrir o livro e começar a ler.

Aline, por sua vez, estava radiante.

Ela sempre olhava de canto de olho para Olavo, como se quisesse gravar aquele momento na memória.

O clima era estranho.

Olavo quis sair dali várias vezes, mas pensou em Tereza e aguentou.

Era só um mês.

— E, no fim, a sereia virou espuma e voltou para o mar...

A voz de Isadora era suave, como um riacho tranquilo.

E a luz do abajur criava um contorno delicado em seu corpo magro e elegante. Os cabelos dela estavam trançados de lado, e o olhar focado na filha.

Olavo estreitou os olhos.

De repente, Aline disse:

— Mamãe, quero leite.

Isadora achou que seria bom dar um tempo para pai e filha ficarem sozinhos, então respondeu suavemente:

— Tá bom, vou buscar.

Ela se levantou, e Olavo fez menção de sair também.

Mas Isadora o fuzilou com o olhar.

Ele entendeu a mensagem, contraiu os lábios e se sentou de novo.

A porta se fechou, e o quarto ficou em silêncio.

Olavo sentiu o olhar intenso da filha, ele piscou:

— O que foi?

Aline abriu um sorriso tímido, mas muito feliz:

— Papai, estou muito feliz que você veio hoje.

A voz dela era delicada, cheia de cuidado, tentando expressar sua alegria.

Os olhos de Olavo pararam nos dela, que brilhavam de expectativa.

Ele hesitou:

— Por quê?

Eles mal se viam.
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