Capítulo 0004

Patrícia estava com o rosto ruborizado.

Ela se mexeu desconfortavelmente duas vezes, lançando olhares ansiosos em direção à porta do escritório, preocupada que alguém pudesse entrar a qualquer momento.

— O que você quer comigo?

Roberto se controlou, endireitando-se na cadeira. Não sabia o que estava acontecendo consigo mesmo, mas ao vê-la, um impulso inexplicável o dominou.

Era como se tivesse perdido a razão. Um desejo oculto, algo que ele não conseguia controlar.

Patrícia, percebendo a tensão no ar, ajustou sua postura e ajeitou a roupa antes de responder, com um tom mais suave.

— Eu… Vou ser demitida. Não foi você que pediu isso, foi? — Ela perguntou cautelosamente.

Afinal, tinham acabado de registrar o casamento naquela manhã. O motivo? Ela ser funcionária do grupo, facilitando o gerenciamento e a colaboração com ele em algumas situações.

Patrícia acreditava que sua demissão não teria nada a ver com Roberto. Ele nunca tinha sugerido que ela fosse uma dona de casa em tempo integral.

— O que aconteceu? — Roberto perguntou, franzindo a testa e segurando levemente o queixo dela, instigando-a a explicar.

Patrícia mordeu os lábios, hesitando um pouco antes de relatar a situação, mas com uma ponta de sinceridade, ela acrescentou:

— Admito que minha cabeça estava meio confusa hoje, mas não cometi um erro tão grave. Mesmo que tenha cometido, isso não seria motivo para me demitirem… O Grupo Santana está em crise?

Ela piscou para ele, com um leve toque de ironia nos olhos.

Pensava que talvez Roberto tivesse ordenado a Sarah a demissão de algumas pessoas do departamento de secretariado, já que estava superlotado, e ela acabou sendo a vítima.

Um estalo cortou o silêncio.

De repente, sentiu uma dor inesperada no quadril.

Patrícia arregalou os olhos, incrédula. Roberto…

Tinha mesmo batido no quadril dela?

— Secretária Patrícia, como membro do departamento de secretariado, você não tem a menor ideia de como o Grupo Santana realmente funciona? — Ele perguntou, sorrindo com desdém. — Se for esse o caso, sua demissão faz todo o sentido.

Patrícia mordeu o lábio inferior, envergonhada, sentindo a humilhação tomar conta dela. Era culpa dela por ter falado demais.

O Grupo Santana era praticamente invulnerável, especialmente sob a liderança de Roberto.

O demônio do mundo dos negócios.

Desde que ele ingressou no Grupo Santana, a empresa nunca mais teve prejuízo, daí surgiu esse apelido.

— Sr. Roberto, eu estava brincando... — Ela tentou suavizar a situação. — Você pode reconsiderar a demissão?

Ela não queria perder o emprego no Grupo Santana. Afinal, havia passado por um processo seletivo rigoroso antes de ser contratada como secretária.

Nem acreditava que havia sido aprovada, já que os critérios da empresa eram extremamente exigentes.

Mas, de alguma forma, conseguiu passar por um triz em todas as etapas, o que a fazia pensar: “Será que tinha esgotado toda a sua sorte durante as entrevistas?”

O principal é que o salário no Grupo Santana era muito alto, e ela realmente não queria abrir mão dessa oportunidade. Além disso, ela estava, de fato, bastante apertada financeiramente porque...

— A Srta. Sarah tem grande importância para a empresa. Se ela tomou essa decisão, deve ter seus motivos. Vou analisar o caso. — A expressão de Roberto se manteve fria e séria, claramente tentando intimidá-la.

O rosto de Patrícia ficou pálido. Surpresa com a total falta de consideração dele.

Afinal de contas, eles agora eram, tecnicamente, um casal.

Mesmo que o casamento fosse uma fachada, ele não precisava ser tão insensível. Casaram-se pela manhã e, à tarde, ele já queria demiti-la?

Além disso, ele já tinha passado duas noites com ela...

Mas Patrícia não tinha coragem de contestar. Estava em uma posição vulnerável e precisava se submeter.

— Sim, Sr. Roberto. — Ela respondeu, desanimada, virando-se para a porta. Caminhou de volta ao escritório principal e sentou-se em sua estação de trabalho, derrotada.

Clara Gomes rapidamente se aproximou, preocupada. As duas tinham uma amizade sólida dentro da empresa. Clara baixou a voz e perguntou:

— Paty, o que aconteceu? Por que você está com essa cara tão abatida? A Sarah te chamou para dar uma bronca?

Patrícia assentiu, ainda atordoada.

— Vou ser demitida…

— O quê? — Clara exclamou, em surpresa.

O som atraiu a atenção de todos no escritório. Clara rapidamente cobriu a boca e fez gestos para os colegas, tentando acalmá-los.

— Não é nada, gente. Não é nada.

Ela então agarrou o braço de Patrícia e a puxou para a copa, decidida a entender a situação.

— Não pode ser! Uma falha tão pequena e vão te demitir? Você já é praticamente uma veterana aqui! Não te deram nem uma segunda chance? — Clara refletiu. — Paty, será que você fez algo que tenha incomodado a Srta. Sarah?

— Não, claro que não. — Patrícia balançou a cabeça, tentando lembrar se em algum momento havia desagradado Sarah, mas não conseguia pensar em nada.

O que realmente a incomodava era a atitude de Roberto.

Mesmo sendo marido e mulher por contrato, ele apenas observava passivamente sua demissão, sem demonstrar o mínimo de empatia.

Se soubesse que seria assim, nunca teria concordado em registrar o casamento.

— Já sei! — Clara exclamou, como se tivesse tido uma grande ideia. — É por causa da sua relação com o Sr. Roberto!

Patrícia ficou paralisada, gaguejando:

— Você… Como você sabe disso?

Seu casamento com Roberto era secreto. Apenas eles dois e, no máximo, Enzo sabiam da verdade.

Como Clara poderia ter descoberto?

— Ah, todo mundo sabe. Eu não fui ao resort, mas todo mundo soube que, na volta, você foi obrigada a sentar ao lado do Sr. Roberto. Nós ficamos com pena de você. — Clara fez uma careta, refletindo. — Com certeza a Sarah ficou com ciúmes de você estar no mesmo carro que ele e decidiu te demitir por pura implicância.

A paixão secreta de Sarah por Roberto era um segredo aberto na empresa, então a teoria de Clara fazia todo sentido.

Ela abaixou a voz e perguntou, num tom conspiratório:

— Você não andou flertando com o Sr. Roberto, né?

— Eu… Claro que não! — Patrícia negou rapidamente, mas por dentro sentia-se nervosa.

Roberto havia sido claro: nada sobre o relacionamento deles deveria ser divulgado. Ela precisava afastar qualquer suspeita.

— Eu sei, você nunca faria isso. Mas aposto que a Sarah está morrendo de inveja. Caso contrário, por que ela decidiria te demitir do nada, e justo depois que você voltou do resort? — Clara acariciava o queixo, cada vez mais convencida de sua teoria.

Patrícia balançou a cabeça, sem entender, e disse com resignação:

— Deixa para lá. Vou terminar as tarefas de hoje primeiro, ainda não finalizei a organização dos documentos. Se realmente me demitirem assim, pelo menos terei a indenização. Isso pode me ajudar a me manter enquanto procuro outro emprego.

Já estava quase na hora de encerrar o expediente.

Patrícia recebeu uma ligação interna, era Enzo pedindo que ela fosse ao escritório do presidente.

Confusa, ela largou o que estava fazendo e pegou o elevador até o último andar.

Com passos firmes, dirigiu-se à porta do escritório de Roberto. Quando estava prestes a bater, percebeu que a porta estava entreaberta.

Empurrando-a levemente, Patrícia viu Sarah de pé diante da grande mesa, com uma expressão de contrariedade, aparentemente se desculpando:

— Desculpe, Sr. Roberto. Foi um descuido meu. Achei que o problema fosse com Patrícia, por isso decidi demiti-la.

Ao ouvir o som de alguém se aproximando, Sarah olhou para trás. Quando viu que era Patrícia, um lampejo de raiva brilhou em seus olhos.

Antes que Patrícia pudesse reagir, Sarah rapidamente escondeu essa expressão e, de forma sensata, curvou-se em direção a ela:

— Peço desculpas, Secretária Patrícia. Lamento pelo mal-entendido.