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Capítulo 0005

Author: Ana Luiza Mendes
O pedido de desculpas repentino de Sarah deixou Patrícia visivelmente confusa.

Instintivamente, ela olhou para Roberto, sentado atrás da mesa imponente, esperando que ele explicasse o que estava acontecendo.

Quando seus olhos, carregados de incerteza, encontraram os de Roberto, ele sentiu um aperto leve na garganta, lembrando-se de como ela o olhara da mesma maneira, envergonhada, na noite anterior.

Disfarçando o desconforto, Roberto afrouxou a gravata e, com a voz firme, disse:

— Se foi um mal-entendido, instruirei o departamento de Recursos Humanos a cancelar a solicitação de demissão. Sarah, como integrante da alta gestão da empresa, espero que, no futuro, você evite cometer erros desse tipo. Líderes devem ser exemplo para seus funcionários.

As palavras “erros desse tipo” foram ditas em tom aparentemente neutro, mas Sarah percebeu a reprimenda velada.

Ela apertou os lábios, escondendo a frustração e o ressentimento, e respondeu, de cabeça baixa:

— Entendido, Sr. Roberto. Não repetirei esse erro.

Embora Patrícia ainda não compreendesse totalmente a situação, uma coisa estava clara: ela não seria mais demitida.

Uma onda de alívio e alegria tomou conta dela.

Ela havia passado a tarde inteira em tensão, se preparando para o pior, mas, no fim, tudo parecia resolvido.

Feliz com a reviravolta, Patrícia nem percebeu o olhar rancoroso que Sarah lançou em sua direção antes de sair.

Quando a porta do escritório se fechou, ficaram apenas Patrícia e Roberto.

Reunindo coragem, ela se aproximou da mesa dele e perguntou cautelosamente:

— Sr. Roberto, é verdade que não serei mais demitida?

Ao ouvir a pergunta formal e respeitosa, Roberto levantou levemente uma sobrancelha.

— Prepare um café para mim.

Sua voz era calma, mas autoritária.

Patrícia hesitou.

Todos no departamento de secretariado sabiam o quão exigente Roberto era com seu café. Apenas Enzo e Sarah conseguiam prepará-lo exatamente como ele gostava, na temperatura e concentração perfeitas.

O pedido inesperado deixou Patrícia nervosa.

Ela temia não atender às expectativas e acabar irritando-o.

Mesmo assim, sabendo que não poderia recusar, Patrícia respirou fundo e saiu da sala.

Na copa, diante da máquina de café, sua mente estava um turbilhão de pensamentos. Ela começava a se arrepender de ter aceitado casar com Roberto por impulso.

Antes, mesmo com o trabalho exaustivo, ela ainda tinha sua liberdade depois do expediente. Agora, com essa parceria com o chefe, sentia que sua vida ficaria muito mais restrita.

Será que realmente valia a pena sacrificar seu futuro só para provocar Fabiano?

Mas já havia chegado até ali, não havia mais como voltar atrás.

Com o café pronto, Patrícia voltou ao escritório de Roberto, equilibrando cuidadosamente a xícara fumegante.

— Aqui está seu café…

Ela colocou a bebida sobre a mesa. No instante em que seus dedos se afastaram da xícara quente, sentiu uma mão firme e quente envolver seu pulso.

Com um único puxão, Roberto a trouxe para seu colo.

Era uma posição familiar.

Seu corpo ainda guardava as memórias da intensidade da noite anterior.

Somente ao se sentar nas pernas de Roberto, uma avalanche de lembranças proibidas invadiu sua mente, flashes das cenas que ela havia vivido tão intimamente na noite passada.

— O que você está pensando? Suas bochechas estão tão vermelhas.

A voz baixa e firme dele, acompanhada de uma respiração quente contra seu lóbulo da orelha, enviou uma onda de arrepio pelo corpo dela.

— Na... Nada… — Patrícia respondeu gaguejando, aflita com suas próprias reações.

O que estava acontecendo com ela?

Ela se lembrou de como, durante seu namoro com Fabiano, ele frequentemente reclamava dessa falta de envolvimento. Queria avançar no relacionamento, mas ela nunca se sentira confortável.

Na época, não tinha o menor interesse por intimidade, a ponto de Fabiano insinuar que ela era insensível ou incapaz de sentir desejo.

Ao descobrir a traição de Fabiano com Juliana, Patrícia ainda teve que ouvir o absurdo de que a culpa era dela. Ele alegou que sua insatisfação no relacionamento o levou a procurar Juliana, com quem, segundo ele, desenvolveu um amor verdadeiro.

Patrícia baixou o olhar, refletindo sobre isso.

Agora, bastava Roberto se aproximar um pouco, sem nem mesmo tocá-la, e seu corpo reagia instantaneamente.

Como isso poderia ser chamado de frieza?

Era o completo oposto, algo que beirava o insaciável.

Patrícia sentiu o rosto queimar de vergonha, desejando que o chão se abrisse para que ela pudesse desaparecer.

Finalmente, percebeu que o problema nunca foi sua falta de interesse, mas sim a ausência de atração por Fabiano. Anos de confusão se esclareceram naquele momento.

— O que está pensando? — A voz firme de Roberto interrompeu seus devaneios.

Patrícia voltou à realidade e, tentando disfarçar, puxou um assunto aleatório:

— Por que a Srta. Sarah me pediu desculpas? Você contou a ela sobre nosso casamento?

— Não. — Roberto respondeu, seus olhos fixos no rosto corado de Patrícia, com um leve sorriso nos lábios. Ele explicou:

— O erro nos dados ocorreu porque Sarah alterou algo equivocadamente. Não foi sua falha. Todos os computadores da empresa têm monitoramento em tempo real. Já verificamos que, no momento em que você registrou as informações, tudo estava correto. O documento final também foi submetido sem problemas.

Patrícia não se surpreendeu ao ouvir que eles estavam sendo constantemente monitorados, mas o fato de Roberto ter ordenado uma investigação específica a deixou pensativa.

Se fosse realmente sua culpa, provavelmente já estaria no processo de demissão.

Esse pensamento fez um frio correr pela sua espinha.

Roberto, ao que tudo indicava, era um homem justo e imparcial. Nem mesmo o fato de agora serem formalmente casados a protegeria de suas decisões objetivas.

Felizmente, não foi ela quem cometeu o erro, o que trouxe a ela alívio e a fez endireitar a postura.

Afinal, Patrícia já trabalhava ali há quase três anos e sabia que, mesmo nos seus piores dias, não cometeria uma falha tão primária.

Percebendo as sutis mudanças de expressão dela, Roberto estreitou os olhos, como se houvesse mais a dizer:

— Sarah admitiu que errou ao modificar os dados apressadamente e, depois, assumiu que a culpa era sua. Mas, considerando que ela é uma peça-chave na gestão, resolvi dar a ela uma segunda chance.

Patrícia ficou em silêncio.

Sarah cometer um erro tão básico?

Mesmo que tivesse cometido, Sarah tinha o direito a uma nova oportunidade, algo que Patrícia não teria.

Por mais que Patrícia se sentisse desconfortável, sabia que Sarah era mais do que apenas uma funcionária para Roberto. Ela era sua colega de faculdade e, ao longo dos anos, havia se mostrado indispensável para o crescimento da empresa.

Mesmo que Sarah cometesse erros graves, Roberto certamente seria mais complacente com ela.

Mas no caso de Patrícia, a situação era diferente.

Por isso, Patrícia não tinha mais nada a dizer. Afinal, ela não tinha o direito de questionar nada; ela era apenas uma pequena peça no Grupo Santana.

Entre ela, uma simples peça descartável que poderia ser substituída a qualquer momento, e Sarah, a veterana indispensável, não havia dúvidas de quem Roberto escolheria apoiar.

Ao ver o rosto de Patrícia murchar visivelmente, Roberto franziu a testa, seu olhar se tornando mais sombrio.

Ele ergueu o queixo dela com dois dedos, forçando-a a encará-lo, afastando a cabeça que quase encostava em seu peito.

— Ficou chateada?

Patrícia voltou a si imediatamente e balançou a cabeça apressada:

— Não, claro que não! Como eu poderia estar chateada? Não cometi nenhum erro, e ainda posso continuar trabalhando. Estou é muito feliz!

Ela suspirou internamente. Qual o sentido de pensar tanto nisso?

O casamento com Roberto era apenas uma encenação.

Não fazia sentido esperar que ele fosse mais tolerante só por causa de uma certidão de casamento. Se bobear, ele ainda seria mais rigoroso e exigente.

Maldito capitalista!

Apesar de tudo, ela se consolou: pelo menos o emprego estava garantido, e o salário do Grupo Santana era de fato excelente.

Enquanto divagava, Patrícia viu pelo canto do olho a tela do computador na mesa. Reconheceu o documento que havia preparado.

Engolindo em seco, perguntou com cautela:

— Sr. Roberto, o que o senhor disse... não foi algo que o senhor mesmo tenha verificado, foi?

Roberto arqueou uma sobrancelha.

— E quem mais faria isso?
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