“Preocupado com quem?Eu, preocupado com Patrícia?”A mão que segurava a taça parou por um instante.Então, serviu-se de mais uma dose e respondeu, frio:— Ela é apenas minha esposa no papel, nada mais.— Pois é, Davi, do jeito que você fala… — Beatriz aproveitou para se meter na conversa, sorrindo com ar condescendente. — A secretária Patrícia é muito competente, claro, mas… No fim das contas, ela e o Beto não pertencem ao mesmo mundo.Aproximando-se mais de Roberto, ela fez questão de dizer com um tom de boa intenção:— Beto, eu sei que você quer agradar a Patrícia. Mas, no fundo, ela não vem do mesmo círculo que a gente. Se você ficar tentando conquistá-la com presentes luxuosos, pode acabar… Causando uma pressão psicológica nela.Roberto arqueou a sobrancelha, curioso:— E por quê?— Porque cada peça dessas que você dá vale vários anos de salário dela. Uma mulher como a Patrícia, vendo essa diferença tão grande entre vocês, pode se sentir deslocada… — Beatriz explicou, doce como me
“Então ela que não pense que vai ter vida fácil!”— Lúcia, quando enlouquecer, não venha me procurar! — Disparou Patrícia, sem vontade de continuar a conversa. Saiu rapidamente.De volta ao escritório, sua pálpebra direita começou a pulsar sem parar.Tinha a sensação incômoda de que algo estava para acontecer.Antes do fim do expediente, subiu até a sala de Roberto para lhe passar um relatório do andamento do projeto.Bateu à porta várias vezes, mas não houve resposta alguma lá dentro.Acabou ligando para ele.— O que foi? — A voz de Roberto soou do outro lado, abafada pelo som de música de fundo. Parecia estar em algum lugar de entretenimento. E, junto, Patrícia ouviu algo ainda mais familiar… A voz de Beatriz.— Beto, não combinamos que hoje não ia falar de trabalho? — A voz de Beatriz veio pelo fone, não exatamente baixa, soando muito próxima dele… Próxima demais.— Só algumas palavras. — Respondeu ele, num tom baixo para ela, antes de se voltar para o telefone. — Secretária Patríci
Por causa da noite anterior, Patrícia quase se atrasou para o trabalho.Mal terminou de bater o ponto, ouviu uma voz conhecida chamá-la:— Patrícia!Havia algum tempo que não via Lúcia e, pelo visto, a vida dela não estava nada ruim.As roupas de grife tinham aumentado, e havia marcas vermelhas bem visíveis no pescoço, provavelmente, a relação com aquele tal de Anidio estava mais intensa do que nunca.— O que foi? — Respondeu Patrícia, fria, lançando a ela um olhar rápido, sem intenção de prolongar a conversa.Mas Lúcia falou com toda a cara de pau:— Preciso que você me faça um favor.Patrícia franziu o cenho. Achava impressionante o quanto a outra tinha a pele grossa e recusou secamente:— Não tenho tempo.— Tá se achando agora, Patrícia? — Retrucou Lúcia, com um tom carregado de veneno. — A Beatriz tá quase recuperada da perna, não está? Tô te avisando: no dia em que ela conseguir o que quer, o Sr. Roberto vai te jogar fora sem pensar duas vezes!Ela bloqueou a passagem de Patrícia
Laura continuou com o tom fofoqueiro:— Pensando bem, o Roberto já não é tão jovem… E dizem que ele nunca foi de se envolver com mulheres, nem tem escândalos por aí. Será que, você sabe… Ele não dá conta? Se achar que tá faltando alguma coisa, eu conheço uns remedinhos…— Não precisa, Laura! — Patrícia interrompeu depressa, apertando os dedos, e respondeu num tom mais baixo. — Ele… É muito bom nessa parte.— O quê? — Laura não entendeu, a voz dela tão baixa que se perdeu do outro lado. — Quer dizer que você quer mais? Então é porque ele não funciona direito, né?— Não é isso! — Patrícia se exaltou, a voz saindo mais alta que o normal. — O Roberto é ótimo nisso, não precisa de remédio nenhum!— Oooh~ — Laura alongou a resposta, carregada de malícia.Patrícia estava morrendo de vergonha. Conversaram mais um pouco sobre outros assuntos triviais até que ela finalmente conseguiu encerrar a ligação.O banho já estava quase no fim. Patrícia se levantou da banheira, secou-se rapidamente e enro
O olhar de Patrícia percebeu que os traços de Roberto se suavizaram levemente.Então, ele falou num tom calmo:— Patrícia, eu tenho dinheiro e sou bonito. Tirando meu gênio, tudo o que você quiser, eu posso te dar. Entre marido e mulher, é natural haver tolerância mútua. Além disso, eu não acho que me irrito com frequência. Na maioria das vezes… é você quem erra.— Hã? — Patrícia ficou ainda mais confusa.“Como assim?Ele não estava, instantes atrás, dando a entender que queria se divorciar?”Mas, juntando o comportamento de ontem e de hoje, uma ideia improvável começou a se formar na cabeça dela.Olhou para ele, hesitante, e perguntou com cuidado:— Então… O senhor tá me tratando tão bem hoje porque eu disse que seu temperamento era ruim e que se irritava fácil?Não podia ser…Será que tudo isso era, na verdade, uma forma dele… Agradá-la?— Então você realmente acha que meu gênio é ruim? — Perguntou ele, colocando um pedaço de carne assada no prato dela, os olhos negros fixos nos dela
Patrícia balançou a cabeça, respondendo num tom meio constrangido:— O Sr. Roberto é tão ocupado… Acho que ele não teria tempo pra se envolver nesse tipo de coisa.— Então a gente vai engolir essa humilhação numa boa, é? — Retrucou Clara, indignada. — Você ralou tanto e, no fim, vale só quinhentos conto?! Essa tal de diretora Priscila… Eu até achava que ela era gente fina com a gente, mas olha aí, invejosa desse jeito!Patrícia ficou pensativa. No fundo, sentia que não era apenas inveja.Havia algo estranho… Uma intenção por trás, mas ela não sabia explicar ao certo.Se quisesse realmente tirar Priscila do caminho, aquele caso do bônus não seria suficiente.Afinal, por mais antiético que fosse, o que Priscila fizera estava dentro das regras, e não havia motivo oficial para puni-la.Com a mente pesada, Patrícia resolveu focar no trabalho.Só havia uma saída: trabalhar duro, subir de cargo e ganhar mais… Assim, ninguém a pisaria.Quando terminou o expediente e voltou para casa, teve uma