Capítulo 0006

Por impulso, Naiara quis se virar, mas lembrou-se de sua ‘perda auditiva ainda não recuperada’, e se conteve.

Fábio correu até ela, com os olhos cheios de pânico.

— Naiara, você vai me deixar? Estamos prestes a nos casar. Para onde você vai?

Diante de sua falta de resposta, Fábio lembrou-se, então, de usar a linguagem de sinais.

Naiara manteve a expressão serena.

— É uma amiga minha que está partindo.

Fábio observou cuidadosamente sua expressão e, ao notar sua calma e a ausência de sinais de mentira, finalmente relaxou.

— Ainda bem. Naiara, nem imagina o susto que me deu. Não consigo nem pensar em como seria minha vida sem você.

Fábio a abraçou com força, claramente aliviado.

Ao ouvir suas palavras emocionadas, o coração de Naiara permaneceu indiferente.

Se ele temia tanto perdê-la, por que a traiu?

Será que ele se sentia seguro pela sua surdez?

Que pena, ele ficará desapontado.

Ainda se recuperando do susto, Fábio a segurou pela cintura, pronto para partir.

— Naiara, vamos para casa agora. Não vou te perder de vista nem por um segundo.

— E a sua assistente, não vai se importar com ela?

— Ela não estava se sentindo bem e foi para casa mais cedo.

Naiara ouviu a mentira fluente e se sentiu apenas cínica.

Ao chegarem no estacionamento, Naiara viu Olívia discutindo com um homem.

Ele segurava o pulso de Olívia, impedindo-a de sair.

Com a outra mão, tentou tocar sua cintura, mas Olívia se soltou e deu-lhe um tapa.

O homem, irritado, pegou uma garrafa de cerveja do chão e a ameaçou com ela.

Em um instante decisivo, Naiara sentiu o braço que a segurava soltar-se abruptamente.

Fábio avançou rapidamente, protegendo Olívia em seus braços.

A garrafa se quebrou no ombro de Fábio, cortando sua pele, tingindo sua camisa de vermelho com o sangue que escorria.

Com o rosto tomado por uma raiva assustadora, Fábio verificou se Olívia estava ilesa antes de agarrar o agressor pelo colarinho, desferindo socos implacáveis em seu rosto.

— Quem te deu a ousadia de tocar na minha gente? Você quer morrer?

Ao reconhecer o rosto de Fábio, o homem se encolheu, implorando por misericórdia, sem coragem de revidar.

Naiara, com uma lasca de vidro cortando sua bochecha, permaneceu imóvel, observando a cena violenta com uma calma inquietante.

A cena começou a se sobrepor com suas memórias, lembrando-a de cinco anos atrás, quando ela e Fábio tinham acabado de se conhecer em um evento de negócios.

Foi sua primeira aparição pública como namorada de Fábio, antes que a sua imagem de dedicação exclusiva se tornasse evidente para todos.

Quando descobriram sua surdez, ela viu claramente o desprezo e a zombaria nos olhos dos outros.

Quando Fábio foi chamado de lado por seus parceiros para discutir negócios, homens mal-intencionados se aproximaram dela, pensando que ela era apenas uma companhia passageira dele.

Mesmo sem ouvir o que diziam, Naiara conseguia ver o deboche e a lascívia nos rostos dos homens.

Ela queria pedir ajuda, mas temia causar problemas para Fábio. Tudo o que podia fazer era adverti-los repetidamente, apenas para receber olhares ainda mais zombeteiros em troca.

No momento em que uma mão estava prestes a tocar seu rosto, Fábio, com um chute, lançou o agressor a alguns metros de distância e, com os olhos em fúria, imobilizou-o no chão, desferindo socos. Depois, ordenou a seu secretário que cortasse todas as relações comerciais com aqueles homens e exigiu que fossem banidos.

Desde então, todos sabiam que Naiara era intocável para Fábio, ninguém ousava tocá-la.

Agora, a cena se repetia, mas a pessoa que ele protegia nos braços não era mais ela.