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Capítulo 8

Author: Sofia Braga
O som de um carro entrando no jardim anunciou que Lucas estava de volta.

Valentina, ainda segurando o teste de gravidez, abriu a porta do banheiro.

Lá embaixo, a voz animada de Gabriel ecoava pela sala.

— Papai!

Valentina desceu a escada devagar, degrau por degrau, enquanto ouvia Gabriel.

O menino estava em pé no sofá, de braços abertos, chamando Lucas.

— Papai, me pega no colo!

Lucas se abaixou e pegou Gabriel nos braços.

Enquanto descia, Valentina notou que Lucas havia trocado de roupa. Isso, somado às três chamadas que ele não havia atendido, fez com que a verdade cruel começasse a tomar forma em sua mente.

Ela parou no último degrau, a mão que segurava o teste apertando-o com tanta força que seus dedos ficaram brancos.

Gabriel, abraçado ao pescoço de Lucas, olhou para Valentina e perguntou:

— Mamãe, o papai vai me levar para passear. Você quer ir com a gente?

Valentina desviou o olhar para Gabriel, mas seus olhos logo voltaram para Lucas.

Lucas estava sem os óculos naquele dia, e seus traços marcantes permaneciam indecifráveis, como sempre. Não havia nenhuma emoção visível em sua expressão.

Finalmente, ele olhou para Valentina, com a mesma frieza de sempre.

— Obrigado por cuidar dele esses dias. Vou ficar em Cidade B agora, então vou levar Gabriel comigo.

Sua voz era grave e agradável, mas suas palavras carregavam o mesmo tom de distância e indiferença de sempre.

Valentina ouviu aquilo com um sorriso irônico nos lábios e sentiu seus olhos começarem a arder.

Ela se sentiu ridícula por ter se permitido sentir alegria por um breve momento, quando viu o resultado do teste no banheiro.

Gabriel, percebendo o silêncio de Valentina, começou a ficar inquieto. Ele ainda se lembrava de que Valentina tinha dito no café que precisava sair para resolver algo. Ele havia perguntado se ela queria ir junto na certeza de que ela diria "não". Mas, e se ela aceitasse? O que ele faria? Gabriel queria ir com Lucas encontrar Cecília, mas não podia deixar Valentina perceber isso.

— Mamãe? — Gabriel chamou, hesitante.

Valentina olhou para ele, vendo o pequeno rosto apreensivo do menino. Sua mente estava tão confusa que ela não tinha energia para tentar entender o que ele estava sentindo. Ela apenas respondeu de forma apática:

— Eu não vou. Divirta-se com seu pai.

Ela sabia que Lucas provavelmente levaria Gabriel para ver Cecília, mas, de repente, isso não parecia mais importar. Ela estava cansada de se importar.

Gabriel suspirou aliviado.

— Mamãe, descansa bastante, tá bom? — Ele virou o rosto para Lucas, ansioso. — Papai, vamos logo!

Lucas respondeu com um leve "hum", virou-se e começou a caminhar em direção à porta, com Gabriel nos braços.

Ao passar perto da mesa de centro, Lucas notou algo. Seu olhar caiu sobre uma pilha de papéis. Era a cópia do acordo de divórcio. Apenas as palavras "Acordo de Divórcio" estavam parcialmente escondidas pelo brinquedo de Gabriel, que estava em cima do documento.

Lucas parou por um momento.

Valentina, que vinha observando cada movimento dele, sentiu o coração apertar. Sua respiração ficou presa enquanto via os olhos de Lucas pousarem naquelas palavras.

Ela sabia que o divórcio era inevitável, mas nunca imaginou que a proposta formal chegaria às suas mãos pelas mãos da amante de Lucas — Cecília.

Até hoje, ela acreditava que, mesmo sem amor, havia respeito mútuo entre ela e Lucas. Pensava que, de alguma forma, eles tinham construído um casamento baseado em consideração e equilíbrio.

Mas agora entendia que tudo não passava de uma mentira cruel. Essa "relação" era apenas uma armadilha cuidadosamente planejada por Lucas para proteger a mulher que ele realmente amava, Cecília.

Ele havia transformado o casamento em uma prisão, uma estrutura criada para mantê-la presa enquanto ela se dedicava de corpo e alma ao filho que ele teve com Cecília.

Cinco anos... Durante cinco anos, será que Lucas nunca sentiu um pingo de remorso?

Valentina pensou na cena de Cecília entregando o contrato de divórcio, e a mistura de raiva e dor começou a tomar conta dela.

Enquanto isso, Lucas continuava com os olhos fixos nos papéis sobre a mesa, como se estivesse imerso em pensamentos. A testa levemente franzida, ele já estendia a mão para pegá-los.

Valentina, por sua vez, não aguentou mais. Deu um passo em direção a Lucas.

O teste de gravidez em sua mão quase se partia de tanta força que ela fazia. Toda a angústia acumulada nos últimos dias parecia prestes a explodir naquele instante.

— Lucas...

— Papai, vamos logo!

A voz insistente do menino quebrou o silêncio e interrompeu os pensamentos de Lucas. Ele parou de tentar pegar o contrato e sorriu levemente para Gabriel.

— Tá bom, já estamos indo.

Sem dizer mais nada, Lucas virou-se e saiu, carregando Gabriel.

Durante todo o tempo, ele não olhou para Valentina nenhuma vez.

Só quando o som do carro desapareceu ao longe, o corpo rígido de Valentina perdeu a força.

Ela segurou no encosto do sofá para não cair, e aos poucos se agachou no chão.

Com a cabeça baixa, seus olhos se fixaram naquelas duas linhas vermelhas claras no teste de gravidez em sua mão. Mas a visão foi ficando cada vez mais turva conforme as lágrimas quentes desciam de seus olhos e caíam diretamente sobre o teste.

Se Lucas tivesse olhado para ela, apenas uma vez, teria visto o teste que ela segurava.

Mas, assim como seu olhar, o coração dele nunca pararia nela.

Valentina permaneceu agachada no chão, com o rosto coberto de lágrimas. A enorme e silenciosa Villa Monteverde parecia ainda mais vazia, com apenas o som abafado de seu choro ecoando por muito tempo.

Meia hora depois, ela enviou uma foto para a amiga.

Lívia: [Esse teste tem uma taxa de acerto muito alta. Amanhã venha de jejum para fazer um exame mais detalhado.]

Valentina: [Quero agendar diretamente o procedimento para interromper.]

No segundo seguinte, o celular tocou. Lívia havia ligado imediatamente.

Valentina, que já estava mais calma naquele momento, estava dobrando roupas para arrumar a mala. Quando viu o nome de Lívia no visor, ela largou a roupa que estava segurando e atendeu.

— O Lucas sabe? — Lívia perguntou do outro lado da linha, com um tom sério. — Você já pensou bem? Esse é o seu primeiro filho.

— Ele não sabe. — A voz de Valentina saiu baixa, quase sem vida. — Estamos nos divorciando. Ele já tem o Gabriel. Ele não se importaria com essa vida que veio por acaso.

Lívia ficou em silêncio por alguns segundos. Ela conhecia bem o casamento de Valentina e Lucas.

— Olha, eu nunca achei que você e o Lucas fossem dar certo, mas, nesses cinco anos, vendo vocês três juntos, até imaginei que, de alguma forma, vocês seguiriam assim para sempre. Quem diria, hein? É como acompanhar uma série com atenção só para ela acabar com um final horrível.

Valentina piscou para conter a ardência nos olhos. Ela sabia que Lívia estava tentando aliviar a tensão. Mas, no fundo, se alguém tinha culpa, era ela mesma, que não conseguiu controlar o coração e acabou amando o homem errado.

— Amanhã estarei aí. — A voz de Valentina saiu firme.

Lívia suspirou profundamente, do outro lado da linha.

— Amanhã não dá para fazer o procedimento ainda. Você precisa passar por exames antes. Venha e conversamos.

— Tá bom.

Valentina desligou o celular e voltou a arrumar a mala.

Mesmo com Lucas deixando a Villa Monteverde para ela, Valentina não queria continuar morando lá.

Ela sabia que Lucas provavelmente não se importava com a casa, mas, mesmo assim, decidiu que venderia o imóvel depois do divórcio.

A casa, que ela havia chamado de lar por cinco anos, estava cheia de coisas acumuladas. Valentina escolheu levar apenas algumas roupas e bolsas de uso diário, deixando o restante para Lucas decidir o que fazer. Se ele não quisesse lidar com isso, ela simplesmente cuidaria de tudo quando fosse vender a casa.

Depois de terminar de arrumar as malas, Valentina pegou a cópia do acordo de divórcio, assinou e colocou o documento sobre a mesa de centro, no lugar mais visível.

Sem olhar para trás, ela saiu da Villa Monteverde, puxando dois grandes malas de rodinhas. Ao fechar a porta, deu as costas para a casa que havia sido seu lar e partiu sem hesitar.
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